terça-feira, 9 de abril de 2024

Sopro de otimismo na transição para as energias limpas, Ricardo Mussa, FSP

 Quem é contra a transição energética?

Pode parecer estranho, mas esse não era um tema de consenso há bem pouco tempo. A boa notícia: o cenário, finalmente, parece que mudou.

É o que ficou claro na principal conferência global de energia, a CeraWeek 2024, realizada em Houston, no Texas (EUA), em março.

Tive a oportunidade de acompanhar o evento, e o que vi me deixou entusiasmado. As maiores empresas de energia do mundo, tanto gigantes do setor de óleo e gás como grandes marcas focadas em tecnologias renováveis, enfim parecem alinhadas com a visão de que o mundo precisa incorporar, cada vez mais, as energias limpas.

Sessão na conferência global de energia CeraWeek 2024
Conferência global de energia CeraWeek 2024, em Houston, Texas - Divulgação

Melhor: a abordagem saiu das posições outrora mais defensivas para uma perspectiva de integração. Há uma visão bastante assentada de que, mesmo os combustíveis fósseis ainda sendo necessários num futuro próximo, o mundo efetivamente precisa dar essa guinada. Como? A partir do diálogo.

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Um exemplo desse avanço é uma fala categórica do vice-presidente sênior de transição energética do Fundo de Defesa Ambiental (EDF), Mark Brownstein: "Há 20 anos não era possível conversar aqui sobre as alterações climáticas. Ponto final", declarou o executivo ao portal Vox.

Todas as palestras apontaram para a transição energética, em direção à gestão de carbono, eficiência e tecnologia limpa, e uma posição marcante partiu da secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm.

Jennifer Granholm, secretária de Energia dos EUA, na CeraWeek 2024 - Mark Felix/AFP

Ela disse que, mesmo sendo seu país o maior produtor de petróleo e gás do mundo, é necessário avançar com as energias renováveis. E mais: indústria e governo devem trabalhar juntos nessa direção. "Essas verdades não estão em conflito", exclamou Granholm, afirmando que consumidores, comunidades e investidores estão pedindo mudanças. "Temos o poder de gerir essa transição de forma responsável", acrescentou.

O mais animador é perceber que o Brasil, conhecido por ter uma matriz elétrica destacadamente renovável, vem sendo observado —e ouvido— mundialmente como uma referência global também pelas perspectivas de limpar a matriz de transportes, via biometano, etanol de segunda geração (E2G), com o combustível sustentável para a aviação (SAF, na sigla em inglês) e navegação (biobunker), ou a própria eletrificação, que também vem ganhando espaço no país, com a chegada de novos fabricantes e o aumento da rede de abastecimento.

Os biocombustíveis, naturalmente, são parte da transição. E vender expertise representa mais uma oportunidade para o Brasil. Mais do que a matéria-prima, aquilo de que o mundo mais precisa é o desenvolvimento de um mix de soluções limpas competitivas. E uma das conclusões da CeraWeek é que a indústria de óleo e gás é uma das que mais têm recursos para investir em tecnologia.

Qual é o grande desafio, então?

Um deles foi destacado pelo empresário e filantropo Bill Gates, fundador da Microsoft e presidente do conselho de administração da iniciativa Breakthrough Energy, criada para investir em cem companhias dedicadas ao desenvolvimento de tecnologia para transição energética. Em sua apresentação, Gates explicou que os investidores precisam de uma melhor noção do custo e da eficiência das novas tecnologias de transição. É isso que vai dar segurança para atrair mais recursos.

Entretanto, importante: as tecnologias ainda precisam ser acessíveis para a maioria das pessoas em todo o mundo —afinal, é nos países em desenvolvimento que está o maior potencial de expansão de demanda energética.

Em suma: as melhores estratégias de energia limpa, as que vão ajudar a descarbonizar o planeta, são as viáveis, competitivas e, acima de tudo, para todos.

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