domingo, 11 de junho de 2023

O que está em jogo na possível parceria estratégica entre Petrobras e Unigel, EPBR

 


RIO — Petrobras e Unigel mantêm negociações sobre o preço do gás natural, em busca de uma solução para a continuidade das operações das fábricas de fertilizantes do Nordeste. A relação comercial entre fornecedor-cliente da matéria-prima das fafens pode avançar, contudo, para uma parceria estratégica – tanto no setor de nitrogenados quanto em outros negócios, como hidrogênio verde.

A Petrobras informou nesta terça (6/6) que iniciou discussões com a Unigel para analisar negócios conjuntos em fertilizantes, hidrogênio verde e projetos de baixo carbono. As companhias assinaram acordo de confidencialidade, não vinculante, de dois anos.

As duas empresas estão hoje intimamente ligadas no negócio de fertilizantes no Brasil e mantêm entre si alguns pontos de contato que podem convergir para futuras parcerias.

Relação estreita. As fafens de Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA) pertencem à Petrobras, mas foram arrendadas em 2020 para a Unigel no governo de Jair Bolsonaro (PL), em contratos de dez anos, renováveis por mais dez.

A estatal chegou a hibernar as duas fábricas em 2019 e as unidades só voltaram a operar em 2021, quando a Unigel assumiu as operações dos ativos.

A Petrobras é também uma das principais fornecedoras – não a única – do gás usado como matéria-prima na produção dos fertilizantes nitrogenados em Sergipe e na Bahia.

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Em crise, Unigel pede renegociação de preços

A Unigel alega que as operações da planta de Sergipe passaram a ficar inviáveis depois da queda do preço da ureia no mercado internacional e pede um gás mais barato.

Os preços da molécula  também caíram este ano, mas não na mesma intensidade que o dos fertilizantes.

A empresa do setor químico reduziu o ritmo das atividades de manutenção da unidade de Sergipe enquanto aguarda as negociações com a Petrobras.

Em crise financeira, a Unigel atrasou pagamentos a pequenos fornecedores e adiou o projeto de produção de ácido sulfúrico na Bahia para 2024.

Em paralelo, contratou a Moelis & Company para assessorá-la em um processo de reestruturação financeira. O intuito do grupo é evitar uma recuperação judicial, mas esse risco já aparece no radar de bancos credores.


Em maio, o secretário executivo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Sergipe, Marcelo Menezes, conversou com o estudio epbr sobre o mercado de gás e a crise da Unigel. Confira na íntegra:


Novas oportunidades. Petrobras e Unigel mantêm interesses comuns no desenvolvimento de novos negócios – e não só no setor de fertilizantes.

A empresa do setor químico já manifestou em 2022, antes de entrar em crise, interesse na fafen de Três Lagoas (MS), projeto inacabado da Petrobras.

Já a petroleira tem intenção de entrar no negócio de hidrogênio verde – e a Unigel está em busca, justamente, de um sócio para o seu projeto de H2V na Bahia, de US$ 1,5 bilhão.

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A nova Petrobras

Depois de se afastar do segmento, nas gestões passadas, a Petrobras passa por um momento de revisão geral do seu posicionamento.

Sob nova direção, a empresa está debruçada sobre a revisão de seu planejamento estratégico. O presidente da companhia, Jean Paul Prates, tem manifestado a intenção da petroleira de diversificar suas áreas de negócios (biorrefino, eólicas offshore e hidrogênio, por exemplo), de olho na transição energética.

O plano é fortalecer a Petrobras como uma empresa integrada de energia e retomada das operações em fertilizantes é uma das opções dentro desse caldeirão de possibilidades.

A operação de fafens no Brasil, contudo, é historicamente desafiadora do ponto de vista econômico. Exige preços bastante competitivos para o gás natural. Nas gestões passadas, durante o governo Bolsonaro, a Petrobras decidiu fechar as unidades por falta de retorno.

Ao comentar sobre a desativação da fábrica de Araucária (PR), o então presidente da estatal, Roberto Castello Branco, chegou a dizer que o ativo “funcionava como um relógio suíço: todo ano dava prejuízo”.

Este ano, a Petrobras cancelou a venda da planta de Três Lagoas (MS), que a companhia tentou duas vezes vender, sem sucesso. A petroleira, no entanto, ainda não revelou qual será a estratégia da petroleira para o setor.

Unigel mantém interesse. A construção da UFN-III teve início em setembro de 2011, mas foi interrompida em dezembro de 2014, com avanço físico de cerca de 81%.

A conclusão do projeto é encarada como prioridade hoje dentro do governo. A oferta de gás natural competitivo para a indústria de fertilizantes é uma das prioridades do programa Gás para Empregar, em discussão no governo.

O diretor de compras da Unigel, Luiz Antônio Nitschke, afirmou, em maio, que a companhia ainda tem interesse numa eventual compra da unidade de Três Lagoas, se houver entendimento sobre a redução do preço do gás no Brasil.

“Manifestamos o interesse num momento diferente. Se houver um gás competitivo, a Unigel tem capacidade de finalizar a construção e botar a planta para operar. Neste momento, com uma situação desfavorável, não vamos dar nenhum passo nessa direção”, disse, na ocasião.

André Ramalho

André Ramalho

Jornalista com 13 anos de experiência na cobertura do mercado de energia, é o editor responsável pelo site da agência epbr ✉️ andre.ramalho@epbr.com.br

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