Saiu nos Estados Unidos "King: A Life", do jornalista Jonathan Eig. É uma excelente biografia do pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968), o negro que ajudou a mudar a história do país.
Hoje, ao lado de George Washington, ele tem o nome associado a um feriado nacional. Em apenas 8 dos seus 39 anos de vida, King passou da condição de pastor desconhecido da cidade racista de Montgomery à posição de maior líder popular dos Estados Unidos.
Eig conta com minúcias a ascensão de King, sua formação religiosa, sua capacidade de organização e sua percepção da oportunidade. Ele surgiu em 1955, liderando um boicote aos ônibus da cidade, onde os negros deviam se sentar nos bancos de trás. (Rosa Parks, a mulher que foi presa porque não quis sair do lugar, hoje tem estátua na Rotunda do Capitólio, em Washington.)
A segregação racial tinha bases populares no sul do país, mas estava apodrecendo. Um ano antes, a Corte Suprema havia declarado ilegal a exclusão de crianças negras em escolas públicas destinadas a brancos.
King entrou no boicote com horas de atraso, valendo-se de uma militância já existente.
Sua ascensão meteórica durou nove anos. Em 1963, ele fez o histórico discurso da Marcha de Washington ("Eu tenho um sonho"). Esse era o tempo em que John Kennedy estava na Casa Branca. Em 1964, King recebeu o prêmio Nobel da Paz.
King lapidou uma ideia gloriosa. Desafiou o racismo com uma mensagem pacifista, expondo o irracionalismo e a ilegalidade da segregação. Foi preso 26 vezes, esfaqueado e espancado.
A cada agressão ele crescia e fortificava o movimento. Tinha algo de profeta, imune às manipulações dos Kennedy e de seu sucessor, Lyndon Johnson.
Eig foi ajudado pela divulgação de documentos do Federal Bureau of Investigation e pelas gravações das conversas de Kennedy e Johnson. Esses acervos mostram que, enquanto King crescia, o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, movia-lhe uma obsessiva perseguição.
Hoover era o símbolo de uma polícia disciplinada, eficiente e implacável. Pessoalmente, era o que à época se chamava de "solteirão de hábitos estranhos". Apesar disso, grampeava os telefones de King, de seus assessores e de 15 hotéis onde se hospedou. Desses grampos saia um King sexualmente promíscuo. (Muito menos que Kennedy e menos que Johnson.)
Depois de 1964, quando a luta contra a segregação havia triunfado, King tornou-se uma estrela apagada, sua luz continuava a ser vista, mas ela estava extinta.
Reciclou sua plataforma combatendo a pobreza e a guerra do Vietnã, mas o chão faltava-lhe. Em abril de 1968, estava num hotel de Memphis prestigiando uma greve, foi à sacada, tomou um tiro na cabeça e morreu pouco depois.
Quando o FBI comunicou a Hoover que King havia sido baleado, ele disse: "Tomara que esse filho da puta não morra. Se ele morrer, virará um mártir".
Hoover morreu em 1972, sem ver a glorificação de King nem a implosão da presidência de Richard Nixon com o escândalo do Watergate, em cuja exposição teve papel destacado um ressentido agente do FBI.
O ato que tornou o nascimento de King um feriado nacional foi assinado em 1983 pelo presidente Ronald Reagan, que não gostava dele nem de seu movimento.
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