segunda-feira, 29 de abril de 2019

Sem 1ª dama à frente, fundo do governo Doria adota ‘assistencialismo liberal’ FSP



Fábio Zanini
O liberalismo está na moda na economia, basta ver o time que o ministro da área, Paulo Guedes, montou. Privatização, desburocratização e Estado mínimo deixaram de ser palavrões.
Na área social, contudo, a esquerda continua nadando de braçada. Um raro liberal puro sangue a fazer desta temática sua bandeira é Filipe Sabará, 35, presidente do Fundo Social do Estado de São Paulo.
Filiado ao Partido Novo e cria política do governador João Doria (PSDB), Sabará é pré-candidato a prefeito de São Paulo no ano que vem, num campo que já está coalhado de possíveis nomes da direita: Joice Hasselmann (PSL), Arthur “Mamãe Falei” do Val (DEM) e, de novo, José Luiz Datena (DEM).
Mas ele desconversa sobre a possível candidatura e o apoio de Doria (que, teoricamente, deveria respaldar a reeleição de seu colega de partido Bruno Covas, hoje mais próximo da centro-esquerda). “Não é o momento de discutir esse tema”, afirma.
Se realmente for candidato, Sabará deverá basear sua campanha na ideia de que pobreza não se combate com assistencialismo e programas sociais, mas se elimina com empreendedorismo. “Não queremos lutar contra a pobreza, queremos resolver a pobreza”, afirma.
É um processo de convencimento que não é dos mais simples, ele admite. A população, afinal, vê a presença do Estado como algo necessário e benéfico. “O que estamos passando para as pessoas é uma pauta de liberalismo, de mostrar que a presença do Estado mantém perenizada a situação de pobreza”, afirma.
Antes de assumir o Fundo Social, em janeiro, Sabará era secretário municipal de Assistência Social na capital. Seu programa mais vistoso foi a contratação de moradores de rua por empresas, sendo a mais chamativa delas o Mc Donald’s. Foram 3.000 pessoas empregadas por 191 empresas, o que, para ele, é um exemplo de programa social duradouro e de caráter liberal. Covas, no entanto, interrompeu o programa.
Como sua primeira medida ao assumir a entidade, ele pediu a Doria que mudasse o nome do antigo Fundo Social de Solidariedade para apenas Fundo Social. “A solidariedade tem de estar presente em todos os atos do governo”, justifica.
Outra diferença está no organograma: pela primeira vez em 51 anos, o órgão não é presidido pela primeira-dama. Bia Doria está à frente apenas do conselho do Fundo.
Com dotação orçamentária de R$ 40 milhões, mais R$ 20 milhões obtidos de doações empresariais, o Fundo tem como uma de suas principais atribuições gerenciar 700 escolas pelo estado em que são oferecidos cursos profissionalizantes como gastronomia, estética, moda, computação e mecânica.
Entre os novos projetos em gestação está a implementação de escolas nas chamadas “Praças da Cidadania”, para fomentar o empreendedorismo. No parque da Água Branca, zona oeste de SP, onde fica a sede do Fundo, haverá uma escola de permacultura, conceito de ambientalismo popular entre os liberais que busca engajar a comunidade em todo o processo ecológico, do plantio de mudas ao descarte de resíduos.
“Esse negócio de que proteger o ambiente é coisa da esquerda é uma falácia”, diz Sabará. Mas a culpa, ele reconhece, é em grande medida dos próprios liberais.
“Economia e ecologia são pautas liberais, mas faltam líderes que façam essa ponte”, afirma. Da mesma forma, prega, o liberalismo econômico e o social precisam estar conectados. “É como dizia Ronald Reagan [ex-presidente americano], a melhor política social é o emprego”, diz.
Fundador da ONG Arcah, que se dedica a reinserir moradores de rua no mercado de trabalho, Sabará diz que se sente preparado para dar essa cara mais social e ecológica ao liberalismo. “A esquerda é uma bolha, desconectada do empreendedorismo. As pessoas estão cansadas do atual modelo, elas querem ser donas de suas vidas, querem se emancipar”, diz.
Se esse discurso será ou não bem-sucedido saberemos em pouco mais de um ano.

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