A cada novo fracasso da ala olavista, Bolsonaro a premia com mais um voto de confiança
Eu torço de verdade para que os otimistas tenham razão: que Bolsonaro esteja sendo bem assessorado pela ala militar altamente qualificada que o cerca e que irá perceber o barco furado que é dar ouvidos à ala rival, a ala dos olavistas.
Até agora, contudo, isso não aconteceu. A cada novo fracasso da ala olavista (na Apex, no MEC, na comunicação), o presidente a premia com mais um voto de confiança. Quando conflitos surgem e o presidente é chamado a arbitrar, ela tem saído vencedora.
Ela aposta no conflito constante como a melhor estratégia política para o presidente manter seu poder. Não sabe nada de gestão pública e nem entrega resultados; mas é boa em criar novos inimigos e mobilizar uma militância digital para atacá-los nas redes. Estão por trás dos movimentos populistas do presidente, imitando as práticas de sucesso político de outros países.
O professor de Johns Hopkins, Yascha Mounk, em seu livro "O Povo Contra a Democracia" —que será lançado nesta quinta-feira (25) em São Paulo em evento promovido pela Folha com presença minha e do autor—, disseca o processo que está levando à ascensão do populismo e à corrosão da democracia ao redor do mundo. Abstraindo das particularidades locais, as semelhanças saltam aos olhos. Trata-se de movimentos antiliberais que opõem o Executivo —representante único da vontade popular— a instituições e políticas vistas como inimigas a serviço de uma elite degenerada. Na Hungria, na Polônia e na Venezuela (nem todo populismo é de direita), já levaram ao fim da democracia. No Brasil, se a ala olavista der as cartas, o resultado será o mesmo.
Congresso, STF, mídia, universidades, Igreja Católica, Forças Armadas. Toda e qualquer instituição que constitua um obstáculo ao poder total do presidente é atacada por Olavo de Carvalho e seus seguidores de dentro do governo e da família presidencial. O último capítulo foi o uso da rede social oficial da Presidência veicular um vídeo de Olavo ofendendo os militares. O vídeo foi deletado, mas ninguém foi punido ou destituído por essa sabotagem direta ao governo.
Em alguns pontos diferimos dos demais países que sucumbem ao populismo. Não temos, felizmente, tensões étnicas que fomentam o ódio popular. Não há no Brasil, ademais, uma classe de trabalhadores que saiu perdendo com a globalização. O próprio governo Bolsonaro trouxe como projeto a liberalização econômica e o ingresso (tardio) do Brasil na globalização —o que inclui OCDE, acordos comerciais, boas práticas como a independência do Banco Central e outras reformas. Aqui, a agenda econômica do governo é liberal.
Ou pelo menos tem sido no discurso. Não está claro se o liberalismo de Paulo Guedes falará mais alto. Quando se estabeleceu o conflito sobre quem ficaria com a Apex —se o Ministério das Relações Exteriores ou o Ministério da Economia—, venceu o de Relações Exteriores, pertencente à ala olavista. Quando os caminhoneiros fizeram barulho contra o aumento do diesel, lá estava o governo cedendo às demandas da classe, que em 2018 foi exaltada por Olavo como composta de heróis revolucionários capazes de derrubar a democracia, sua verdadeira meta. Bolsonaro será mais duro na hora de enfrentar os interesses de industriais, ruralistas e a pressão dos populistas, que hão de se chocar com a agenda liberal? Não sabemos, no conflito inevitável entre populismo nacionalista e liberalismo econômico, para qual lado o presidente irá pender.
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