Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
08 de abril de 2019 | 11h36
Atualizado 08 de abril de 2019 | 12h28
O presidente Jair Bolsonaro confirmou na manhã desta segunda-feira, 8, a demissão do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, alvo de críticas dentro e fora do governo e pressões diversas. O ministro enfrentava uma crise que vem desde sua posse, com disputa interna entre grupos adversários, medidas contestadas, recuos e quase 20 exonerações.
Bolsonaro informou em seu Twitter que Abraham Weintraub será o novo chefe da Pasta. "Abraham é doutor, professor universitário e possui ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta. Aproveito para agradecer ao Prof. Velez pelos serviços prestados", escreveu.
Na sexta-feira, num explícito processo de "fritura pública" do auxiliar, Bolsonaro afirmou que o ministério "não estava dando certo". “É uma pessoa bacana, honesta, mas está faltando gestão, que é uma coisa importantíssima. Vamos tirar a aliança da mão esquerda e pôr na mão direita ou na gaveta”.
Março foi especialmente tumultuado para Vélez, com notícias diárias de confusões e medidas criticadas do Ministério da Educação (MEC). Foi quando surgiram as primeiras informações de uma disputa interna entre o grupo militar, os de perfil técnico (vindos de São Paulo) e os chamados "olavistas", seguidores do escritor Olavo de Carvalho, considerado guru dos bolsonaristas.
Vélez demitiu alguns integrantes desse grupo mais ideológico, mas demonstrou sua fraqueza ao ser forçado a mandar embora seus aliados, o então secretário-executivo Luiz Antonio Tozi e o militar Ricardo Roquetti.
As disputas se intensificaram depois que o Estado revelou um email do ministro em que ele pedia para todas as escolas do País leram o slogan da campanha de Bolsonaro e filmarem as crianças cantando o Hino Nacional. Ministério Público Federal pediu explicações e juristas consideram a medida uma improbidade administrativa. O ministro admitiu o erro e recuou primeiro do slogan e, só depois, da filmagem. Alguns integrantes do MEC chegaram a conclusão de que era preciso um "choque de gestão".
Mas nem todos deixaram a pasta e as confusões continuaram. Vélez anunciou dois novos secretários executivos que não foram aceitos pelo governo. Uma delas, a educadora evangélica Iolene Lima foi demitida sem nem ter assumido. Em seguida, quem pediu para deixar o MEC foi a secretária da Educação Básica, Tânia Leme de Almeida, depois de descobrir por meio de reportagem do Estado que o nível de alfabetização das crianças não seria mais avaliado.
Vélez acabou revelando que também não sabia da mudança, pedida pelo seu secretário de Alfabetização ao presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Marcus Vinícios Rodrigues. Os dois se desentenderam, Rodrigues foi demitido e chamou o ministro de incompetente. Vélez voltou atrás, mantendo a avaliação.
No meio disso tudo, o Inep criou uma polêmica comissão para vigiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e identificar "questões com teor ofensivo a tradições". O exame é o maior vestibular do País, com 6 milhões de inscritos no último ano. A medida foi vista como censura e uma ameaça à segurança da prova.
E o Estado ainda revelou que uma minuta de decreto elaborado pelo MEC estimulava o método de alfabetização fônico, considerado por alguns especialistas como tecnicista e ultrapassado. Depois da repercussão negativa, o ministério ainda não revelou a versão final do decreto.
Vélez, um professor de filosofia desconhecido na academia e sem experiência em gestão, enfrentou sua primeira dificuldade logo após a posse. No dia 9 de janeiro, o Estado revelou que mudanças no edital dos livros didáticos tiravam a exigência de que os materiais tivessem referências bibliográficas e ainda permitia erros de revisão e impressão. Após uma enxurrada de críticas, o ministro culpou a gestão Temer e anulou as mudanças.
No fim do mês passado, numa tentativa do governo em "arrumar a casa", o brigadeiro Ricardo Machado Vieira foi nomeado secretário-executivo pela Casa Civil, depois de 16 dias sem ninguém no cargo de número 2 do MEC. Na semana passada, um dos principais assessores de Vélez foi demitido, em mais uma demonstração de que o ministro não ficaria mais muito tempo no cargo.
Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
08 de abril de 2019 | 11h36
Atualizado 08 de abril de 2019 | 12h28
Atualizado 08 de abril de 2019 | 12h28
O presidente Jair Bolsonaro confirmou na manhã desta segunda-feira, 8, a demissão do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, alvo de críticas dentro e fora do governo e pressões diversas. O ministro enfrentava uma crise que vem desde sua posse, com disputa interna entre grupos adversários, medidas contestadas, recuos e quase 20 exonerações.
Bolsonaro informou em seu Twitter que Abraham Weintraub será o novo chefe da Pasta. "Abraham é doutor, professor universitário e possui ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta. Aproveito para agradecer ao Prof. Velez pelos serviços prestados", escreveu.
Na sexta-feira, num explícito processo de "fritura pública" do auxiliar, Bolsonaro afirmou que o ministério "não estava dando certo". “É uma pessoa bacana, honesta, mas está faltando gestão, que é uma coisa importantíssima. Vamos tirar a aliança da mão esquerda e pôr na mão direita ou na gaveta”.
Março foi especialmente tumultuado para Vélez, com notícias diárias de confusões e medidas criticadas do Ministério da Educação (MEC). Foi quando surgiram as primeiras informações de uma disputa interna entre o grupo militar, os de perfil técnico (vindos de São Paulo) e os chamados "olavistas", seguidores do escritor Olavo de Carvalho, considerado guru dos bolsonaristas.
Vélez demitiu alguns integrantes desse grupo mais ideológico, mas demonstrou sua fraqueza ao ser forçado a mandar embora seus aliados, o então secretário-executivo Luiz Antonio Tozi e o militar Ricardo Roquetti.
As disputas se intensificaram depois que o Estado revelou um email do ministro em que ele pedia para todas as escolas do País leram o slogan da campanha de Bolsonaro e filmarem as crianças cantando o Hino Nacional. Ministério Público Federal pediu explicações e juristas consideram a medida uma improbidade administrativa. O ministro admitiu o erro e recuou primeiro do slogan e, só depois, da filmagem. Alguns integrantes do MEC chegaram a conclusão de que era preciso um "choque de gestão".
Mas nem todos deixaram a pasta e as confusões continuaram. Vélez anunciou dois novos secretários executivos que não foram aceitos pelo governo. Uma delas, a educadora evangélica Iolene Lima foi demitida sem nem ter assumido. Em seguida, quem pediu para deixar o MEC foi a secretária da Educação Básica, Tânia Leme de Almeida, depois de descobrir por meio de reportagem do Estado que o nível de alfabetização das crianças não seria mais avaliado.
Vélez acabou revelando que também não sabia da mudança, pedida pelo seu secretário de Alfabetização ao presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Marcus Vinícios Rodrigues. Os dois se desentenderam, Rodrigues foi demitido e chamou o ministro de incompetente. Vélez voltou atrás, mantendo a avaliação.
No meio disso tudo, o Inep criou uma polêmica comissão para vigiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e identificar "questões com teor ofensivo a tradições". O exame é o maior vestibular do País, com 6 milhões de inscritos no último ano. A medida foi vista como censura e uma ameaça à segurança da prova.
E o Estado ainda revelou que uma minuta de decreto elaborado pelo MEC estimulava o método de alfabetização fônico, considerado por alguns especialistas como tecnicista e ultrapassado. Depois da repercussão negativa, o ministério ainda não revelou a versão final do decreto.
Vélez, um professor de filosofia desconhecido na academia e sem experiência em gestão, enfrentou sua primeira dificuldade logo após a posse. No dia 9 de janeiro, o Estado revelou que mudanças no edital dos livros didáticos tiravam a exigência de que os materiais tivessem referências bibliográficas e ainda permitia erros de revisão e impressão. Após uma enxurrada de críticas, o ministro culpou a gestão Temer e anulou as mudanças.
No fim do mês passado, numa tentativa do governo em "arrumar a casa", o brigadeiro Ricardo Machado Vieira foi nomeado secretário-executivo pela Casa Civil, depois de 16 dias sem ninguém no cargo de número 2 do MEC. Na semana passada, um dos principais assessores de Vélez foi demitido, em mais uma demonstração de que o ministro não ficaria mais muito tempo no cargo.
Quem é o novo ministro
Abraham Weintraub é economista pela USP e trabalhou 18 de seus 47 anos no Banco Votorantim, onde foi de office-boy a economista-chefe e diretor. Demitido, seguiu para a Quest Corretora e, logo depois, deixou a iniciativa privada. Abraham atua na equipe de Jair Bolsonaro desde a campanha eleitoral, passando pelo período de transição. Antes, estava na Casa Civil, ministro chefiado por Onyx Lorenzoni.
Ele era professor do campus de Osasco da Unifesp, assim como irmão Arthur Weintraub. Alunos da unidade que têm cursos de Relações Internacionais e Economia divulgaram no ano passado um manifesto contra os dois quando eles passaram a integrar a equipe de transição de Bolsonaro.
Abraham Weintraub é economista pela USP e trabalhou 18 de seus 47 anos no Banco Votorantim, onde foi de office-boy a economista-chefe e diretor. Demitido, seguiu para a Quest Corretora e, logo depois, deixou a iniciativa privada. Abraham atua na equipe de Jair Bolsonaro desde a campanha eleitoral, passando pelo período de transição. Antes, estava na Casa Civil, ministro chefiado por Onyx Lorenzoni.
Ele era professor do campus de Osasco da Unifesp, assim como irmão Arthur Weintraub. Alunos da unidade que têm cursos de Relações Internacionais e Economia divulgaram no ano passado um manifesto contra os dois quando eles passaram a integrar a equipe de transição de Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário