Atual presidente por vezes parece inspirar-se em seu excêntrico antecessor
No dia 3 de outubro de 1960, Jânio Quadros elegeu-se presidente com a promessa de varrer a corrupção e moralizar os costumes no Brasil.
Nos sete meses em que se manteve no poder, antes da renúncia, encontrou tempo para vetar a realização de corridas de cavalo nos dias de semana, as brigas de galo, a comercialização de lança-perfume no Carnaval e o uso de trajes de banho considerados indecorosos em concursos de misses.
Passadas mais de cinco décadas, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) por vezes parece inspirar-se em seu excêntrico antecessor para cumprir o intento de promover um governo conservador nos costumes.
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Além de iniciativas polêmicas na esfera ministerial, o próprio mandatário coleciona declarações e atitudes extravagantes, não raro a alimentar preconceitos e incentivar a discriminação de minorias.
Dois casos recentes ilustram esse comportamento —a retirada do ar de um comercial do Banco do Brasil, voltado para o público jovem, com ênfase na diversidade racial e sexual, e a chocantedeclaração acerca do turismo de gays no Brasil.
No primeiro episódio, Bolsonaro, contrariado ao assistir à peça, determinou que a instituição financeira interrompesse a veiculação e demitisse o diretor de marketing.
A deliberação personalista por pouco não se transformou em novo protocolo governamental. Anunciou-se que as empresas estatais passariam a ser obrigadas a submeter suas campanhas mercadológicas à avaliação da Secretaria de Comunicação Social.
A ideia da centralização, que fazia lembrar regimes autoritários, acabou suspensa porque se constatou que estava em desacordo com a legislação —ao menos foi essa a explicação oficial para o recuo.
Evitou-se, de todo modo, um vexame maior. Cabe perguntar que orientação a Secom seguiria a esse respeito. Seria providenciado um manual para estabelecer o que pode ou não ir ao ar?
Já a manifestação sobre o turismo de homossexuais quase dispensa comentários. Em café da manhã com jornalistas, na quinta-feira (25), o presidente afirmou que “o Brasil não pode ser um país do mundo gay, de turismo gay”, porque aqui “temos famílias”.
Seria aceitável, conforme deu a entender, que heterossexuais viessem ao país com a intenção de manter relações com mulheres. Como se nota, é tênue a divisa entre a vulgaridade inconsequente e o estímulo abjeto à intolerância.
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