O ministro do Meio Ambiente cuida de tudo, menos do meio ambiente
Lula deu entrevista, e o mundo não se acabou. O ex-presidente mostrou que continua o rei da lábia. Nas duas horas e dez minutos de conversa, só falou do que lhe interessava. De cara boa aos 73 anos, a barba bem aparada, elegante combinação de terno cinza e camisa lilás, jogou no colo dos jornalistas uma manchete bombástica, ao chamar o governo de “bando de maluco”, a qual logo repercutiu na imprensa internacional.
Jair Bolsonaro —que recebeu milhões de votos influenciados pelo antipetismo— não tinha por quê, mas reagiu mal. De rosto crispado, comentou para sua claque: “Pelo menos não é um bando de cachaceiros”. Nas redes sociais, o bolsonarismo foi mais longe: fez subir a hashtag #EntrevistaMarcola, ligando o nome de Lula ao do líder da facção criminosa PCC.
Nenhuma surpresa na malandragem de uns ou no baixo nível de outros. Assim se desenrola o jogo político no país. No nosso caos diário, dá para colecionar as cortinas de fumaça: inexplicável retirada do ar de um comercial do Banco do Brasil voltado ao público jovem; estúpidas declarações sobre turismo sexual; esposas que devem ser submissas aos maridos, segundo a ministra da Mulher; redução de investimentos do MEC em sociologia e filosofia, cursos que têm operações mais baratas e menos estudantes.
Ao contrário dessas batatadas, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem sido efetivo em seus planos de demonizar a preservação ambiental como obstáculo ao desenvolvimento da agropecuária. Tanto que um manifesto assinado por mais de 600 cientistas, publicado na prestigiada revista Science, pediu à União Europeia que as negociações comerciais com o Brasil sejam condicionadas à sustentabilidade, à proteção dos direitos indígenas, à redução do desmatamento.
Salles é aquele que perguntou: “Que diferença faz quem foi Chico Mendes?”. Há método na maluquice.
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