Conhecipelo G1 (Globo) alguns
detalhes do Projeto de Construção do Parque Augusta, esquina da Augusta com a
Caio Prado na capital paulista. Assustei-me um pouco com o grande número de “atrações”
que o projeto pretende instalar naquele espaço, passando por cachorródromo,
academia da 3ª idade, playground, praça, trilhas, arquibancada, bosque, etc.. Penso
que essa seja uma preciosa oportunidade de conversarmos sobre quais as carênciasurbanas,
e são tantas, que um parque dessa natureza deveria considerar como foco
prioritário de atenção do empreendimento.
Adianto minha opinião que esse
foco de atenção e vocação do novo parque deva estar na disponibilização para a
cidade de um grande bosque florestado, ocupando a maior extensão possível da
área total disponível. Do ponto de vista ambiental é notória a nobreza das
funções associadas a um bosque florestado, seja na amenização da temperatura,
na atração e sustentação da fauna urbana, no oferecimento de um ambiente
cultural de contemplação e paz espiritual, seja como um laboratório de educação
ambiental, etc.
Mas um bosque florestado cumpre
também funções hidrológicas de especial importância para uma cidade que tem nas
enchentes urbanas um de seus principais dramas. Sempre bom lembrar que a
principal causa das enchentes urbanas está na impermeabilização do espaço
urbano, com a decorrente perda de sua capacidade de reter águas de chuva. Do
que decorre que a cidade acaba lançando, em tempos sucessivamente menores, um
imenso volume de águas pluviais sobre um sistema de drenagem que não mais
consegue lhe dar a devida vazão. Essa a equação básica das enchentes. As áreas
florestadas, diferentemente das impermeabilizadas, conseguem reter até 85% das
águas de chuva que recebe, aliviando em muito os sistemas de drenagem que lhes
são próximos.
Conceitualmente podemos entender
o bosque florestado urbano como um espaço, uma praça, um terreno público ou
privado, inteiramente tomado por árvores de pequeno, médio e grande portes.
Comporta-se como se constituisse uma porção de uma verdadeira floresta natural,
em nosso caso da Mata Atlântica, em todos seus componentes, com destaque à
serapilheira,aquele espesso colchão de folhas caídas e restos vegetais que vai
se acumulando no chão das florestas naturais. É a serapilheira que proporciona
a proteção do solo contra a erosão, dá vida biológica ao solo e o enriquece
agronomicamente, torna o solo mais fofo e permeável. Outra característica
formidável da serapilheira é absorver ela própria de imediato uma grande
quantidade de água das chuvas, reduzindo em muito o volume de água que escorre
sobre a superfície do solo e que acabaria chegando aos sistemas de drenagem..
Um bom e conhecido exemplo seria
a parte alta do Parque do Trianon, na badalada Av. Paulista da cidade de São
Paulo. Com seu bosque florestado e com a implantação de outros dispositivos de
acumulação e infiltração de águas de chuva o Parque Augusta poderia orgulhar-se
de reter todas as águas de chuva que recebesse, inclusive nos episódios
pluviométricos mais intensos. Que vitória em um nova cultura de combate às
enchentes!!
Dito isto, aqui fica a forte
sugestão para que o Parque Augusta represente esse novo símbolo de áreas verdes
urbanas, quais sejam os bosque florestados, verdadeiros piscinões verdes de
inestimável função ambiental e hidrológica para as cidades.
Mais longe ainda vai o sonho, que
essa nova cultura paisagística seja abraçada pelas nossas administrações
municipais, o que nos permitiria, no caso da metrópole paulistana, vê-la
aplicada em outras tantas situações semelhantes, como a Chácara do Jockey, no
bairro do Ferreira, e, deixem-me sonhar, em uma futura Grande Floresta do
Butantã, a ser implantada na grande área hoje ocupada pelo pretensamente
aristocrático,falido e urbanisticamente disfuncional, Jockey Club de São Paulo.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos
(santosalvaro@uol.com.br)
- Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT- Instituto de Pesquisas
Tecnológicas
- Autor dos livros
“Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira
da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e
Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da
Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”
- Consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia