terça-feira, 1 de junho de 2021

Um tsunami se aproxima, FSP

 No dia 24 de março publicamos, neste mesmo espaço, o artigo “Salvação do SUS requer 30 dias de lockdown rígido”. Lamentavelmente, não tivemos lockdowns regionais ou nacionais em abril. Apesar dos esforços da sociedade civil, como o movimento #AbrilPelaVida, o que vivemos foi a maior tragédia da história brasileira. Foram em média 2.781 mortes diárias e 83.435 mortos apenas em abril —40% mais óbitos por Covid-19 em abril do que em março. É como se tivéssemos 7,4 aviões caindo todos os dias durante um mês inteiro.

Abril era uma tragédia anunciada, mas maio não. Em 24 de março, estimávamos que a vacinação seria capaz de reduzir os óbitos para menos de 1.000 por dia em maio. Por que esse cenário não se concretizou? São duas as explicações, que levantam preocupações para os próximos meses.

Primeiro, temos um número altíssimo de contaminados pela Covid-19, maior do que era razoável estimar em 24 de março. Tanto em abril quanto em maio, não adotamos medidas restritivas na escala necessária e reabrimos serviços não essenciais de forma precipitada em muitas localidades, sequer acompanhados de medidas de contenção, como testagem em massa e isolamento de contatos. O resultado é que nossa curva de casos demora mais a cair —e, portanto, a de óbitos também.

Segundo motivo: estamos vendo o vírus se espalhando mais rapidamente que a vacina. Além da velocidade da imunização em si, há outros fatores. Cerca de 5 milhões de brasileiros não apareceram para a segunda dose, por exemplo. Este grupo, caso esteja se sentindo protegido, incorre em erro gravíssimo, uma vez que são necessárias duas doses para alcançar a imunidade.

E a tendência é piorar antes de melhorar. Painel recém-lançado por Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e Vital Strategies, com dados de sintomas e comportamentos de usuários do Facebook, indica que um tsunami se aproxima.

Esses dados apresentaram excelente poder preditivo no passado, tendo indicado o pico de sintomas em 15 de março e, logo depois, vimos o pico de casos em 29 de março. Estes dados agora apontam que, em algumas semanas, deveremos observar um aumento ainda maior de casos e internações por Covid-19. Se imaginarmos um crescimento da mesma magnitude já observada no indicador do Facebook, chegaríamos a um valor de mais de 115 mil novos casos na média móvel de sete dias, algo sem precedentes.

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Sabemos que há uma fadiga generalizada da pandemia —entre indivíduos e governos—, mas não é hora de relaxar. Iniciativas interfederativas devem estar no horizonte imediato: testagem em massa, fechamento de atividades não essenciais, distribuição de máscaras PFF2 a grupos mais expostos, imposição de barreiras sanitárias, campanhas de comunicação. E, claro, acelerar ao máximo a vacinação.

Uma terceira onda se aproxima rapidamente. Agora estamos falando de uma pandemia que em outros países já se mostra contida, com uma ferramenta de imunização que se provou útil. Temos um sistema de saúde pública capilarizado, um Programa Nacional de Imunização que é referência mundial, a Estratégia de Saúde da Família e um grande contingente de agentes comunitários. A nossa pergunta é somente uma: quando o Brasil usará este potencial? Até agora, estamos apenas esperando o tsunami chegar.

João Abreu
Diretor-executivo da ImpulsoGov

Marco Brancher
Coordenador de dados da ImpulsoGov

Marcia Castro
Professora da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard (EUA)

Carlos Lula
Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)


Alvaro Costa e Silva Vacina e impeachment- FSP

 

Com a popularidade em queda e tendo pesadelos e alucinações com Lula, Bolsonaro queimou a largada para 2022. Na semana passada, deixou Brasília entregue ao gabinete paralelo que cuida do enfrentamento da Covid e agora da realização da Copa América para cumprir agenda oficial em São Gabriel da Cachoeira (AM). Inaugurou uma ponte de madeira de 18 metros de comprimento e 6 metros de largura, pinguela sobre um igarapé, numa estrada de terra pouco usada.

Em outro ato de campanha, promoveu aquele desfile de motos a favor do vírus na orla do Rio —algo tão macabro que teve efeito reverso. Bolsonaro conseguiu o que parecia improvável em meio à pandemia. Fazer com que a oposição, em resposta, saísse às ruas, território que até então era exclusivo da extrema direita com suas pautas antidemocráticas.

O outro lado decidiu mostrar a cara. Usando máscara e, impossível de outra maneira, aglomerando-se. Quem esteve nas manifestações deste sábado (29) gritou duas palavras de ordem: vacina e impeachment. Os discursos e cartazes se apoiavam no argumento de que vale a pena arriscar a vida para salvar a vida de outras pessoas.

Arriscar-se duplamente. No Recife, a Polícia Militar, agindo por conta própria, reprimiu os protestos com bombas de gás e balas de borracha —dois homens, atingidos por estas, perderam a visão de um olho. No Rio, a PM se comportou com delicadeza. O governador Cláudio Castro destinou enorme aparato para proteger Bolsonaro e quem estava ali para apoiá-lo —como o aloprado general Pazuello.

Homem que foi atingido no olho por bala de borracha atirada pela PM de Pernambuco em Recife - REUTERS

E, naturalmente, a CPI da Covid se transformou em palanque. Pegue-se o depoimento da capitã Cloroquina, digo, a médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão e Trabalho no Ministério da Saúde. Foi um festival de fraude e desinformação —peça digna dos melhores marqueteiros. Uma prévia daquilo que você irá ouvir no período eleitoral.