quarta-feira, 1 de maio de 2019

Startup utiliza luz contra a dor, Fapesp

Eduardo Geraque  |  Pesquisa para Inovação – Em 2007, Marcelo Sousa, ainda estudante do último ano de física da Universidade Federal do Ceará, peregrinou por alguns hospitais de Fortaleza por causa de uma doença na família. O câncer da avó do futuro físico fez com ele constatasse uma difícil realidade. A tecnologia oferecida ao paciente, segundo ele, era algo do século 19.
“Aquela situação, e mesmo depois do falecimento da minha avó, fez com que eu decidisse que precisava usar a física de uma forma mais aplicada. Naquela época ainda estudava apenas física teórica”, afirma Sousa.
O primeiro passo rumo ao mundo da inovação ocorreu de forma simultânea à decisão de fazer o mestrado. Ele leu como se fosse um romance o livro Física para Ciências Biológicas e Biomédicas, de Emiko Okuno e outros autores, e começou a entender que a fronteira entre a física e a biologia era muito pequena. “Eu escrevi para a autora pedindo para ela me orientar no mestrado. Ela disse que estava aposentada e me indicou um laboratório no Instituto de Física da USP. Lá decidi então que seguiria a área da fotomedicina, um campo praticamente desconhecido”, diz Sousa.
Do mestrado veio o doutorado e, por meio do programa Ciência sem Fronteiras, a possibilidade de estudar em Harvard. O doutorado do físico cearense culminou com a descoberta do fenômeno da fotoneuromodulação. Neste processo, o uso da luz faz com que os neurônios passem a conduzir menos a sensação de dor, o que gera um efeito analgésico na pessoa, sem efeitos colaterais.
O salto entre a pesquisa básica feita durante o doutorado e a inovação tecnológica desenvolvida pela Bright Photomedicine, fundada em novembro de 2014, foi um inocente jogo de futebol, nos Estados Unidos. “Lembro que depois de um racha, no MIT, contei para os amigos sobre a minha pesquisa. Todos foram unânimes em me dizer que eu tinha em mãos um projeto de startup”, lembra Sousa. “Lá, eles têm muito sangue nos olhos quando o tema é inovação tecnológica.”
Segundo ele, entre 2013 e 2014, a imersão no mundo da inovação foi total. “Percebi que era um ambiente que me daria muito mais retorno profissional do que simplesmente seguir a carreira acadêmica tradicional. Aprendi muito, porque as pessoas desse setor têm visões diferentes das dos cientistas. É muito interessante.”
Sobre a pesquisa mais básica feita no doutorado, Sousa e os colaboradores que foram entrando no projeto agregaram tecnologia, algoritmos e big data. Na prática, o que a empresa desenvolve, dentro da fotomedicina, é uma tecnologia em que o médico ou o fisioterapeuta controla a dose e o tipo de luz exata para cada paciente. Nos casos de dores crônicas e severas, essa aplicação de luz tem efeito análogo ao da aplicação de uma droga. “O equipamento em si é simples. Ele pode ser carregado em uma mochila. O nosso diferencial está todo na nuvem. O software que desenvolvemos calcula tudo e indica qual é a dose ideal, considerando tanto a doença quanto o paciente. É um remédio digital.” O algoritmo informa o tempo de aplicação de luz e todas as características físicas da aplicação.
A ideia científica que deu sustentação à startup, em 2015, foi apoiada pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP. Em 2017, na fase 2 do programa, a empresa obteve mais recursos para o projeto “Desenvolvimento e validação tecnocientífica de equipamento vestível wearable para fototerapia”.
Além do apoio da FAPESP, a empresa também ganhou outros financiamentos públicos e privados nos últimos quatro anos. Em 2015, a startup foi a vencedora do programa de aceleração da Startup Farm. Em 2019, R$ 1,5 milhão foram captados via Kria, uma das maiores plataformas de investimento on-line do país. No total, 70 investidores privados aportaram um ticket médio de R$ 21 mil na iniciativa. O primeiro protótipo da empresa, segundo Sousa, em 2016, foi o grande divisor de águas na história da Bright.
Com o protocolo para o uso da fotobiomodulação sendo testado clinicamente em pacientes com osteoartrite no joelho no Hospital das Clínicas do Estado de São Paulo, Sousa e todo o time da Bright Photomedicine começam a olhar para outras áreas onde a tecnologia desenvolvida por eles pode ser aplicada.
“Além do efeito analgésico, também estamos pesquisando o uso da luz como anti-inflamatório ou também com ação neurológica, em casos de enxaquecas, depressão, Parkinson ou Alzheimer”, diz Sousa. Segundo ele, apresentações sobre estes próximos passos feitas em workshops internacionais foram bem recebidas pela comunidade científica.
Em tese, o efeito terapêutico da aplicação de luz ocorre devido a reações fotoquímicas no interior das células. Neste processo, os tecidos biológicos produzem remédios endógenos que permitem ao organismo voltar a ficar saudável. O que abre a possibilidade, também, de a tecnologia ser usada na cura de feridas ou em pós-operatórios em geral.
“É um mercado com muito potencial. Nossa tecnologia é única, criamos o remédio digital orgânico, no qual o próprio organismo é estimulado a produzir o remédio. Não temos concorrentes fazendo essa abordagem. Temos um horizonte com oceano azul”, diz Sousa. Atualmente, na expectativa da empresa, milhões de pessoas que sofrem com dores crônicas poderão ser beneficiados pela tecnologia. O fato de ela ser indolor, não invasiva e sem efeitos colaterais aumenta ainda mais o sucesso do negócio.
Com a chegada de outros sócios e executivos na empresa, o físico afirma ter conseguido um privilégio. Em 2019, por enquanto, ele conseguiu trabalhar durante 90% do tempo como cientista. “Isso nem sempre é fácil neste universo da inovação”, afirma. A empresa publicará a eficácia dos resultados quantitativos do ensaio clínico feito no Hospital das Clínicas.
Bright Photomedicine
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Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes, 2242 - Butantã, São Paulo - CEP 05508-000
Telefone: (11) 3039-8373
Contato: www.brightmed.com.br/contato
Palavras-chave: Fotomedicina, fotobiomodulação, osteoartrite,Marcelo Sousa, Bright Photomedicine, dor, HC, osteoartrite

Concessão de fábrica dobrou custo de medicamentos para o Estado , OESP

01/05/2019 12h05
São Paulo - A matéria enviada anteriormente trazia uma incorreção no 1º parágrafo. A concessão dobrou o custo dos medicamentos genéricos adquiridos pelo Estado de São Paulo, e não como constava. Segue o texto corrigido.

A concessão de uma fábrica de remédios do governo paulista à iniciativa privada dobrou o custo dos medicamentos genéricos adquiridos pelo Estado, criou uma dívida milionária com o laboratório contratado e colocou em xeque o modelo de parceria público-privada (PPP) para gestão de indústrias farmacêuticas. Diante dos problemas, o governo João Doria (PSDB) não descarta rescindir o contrato, que é alvo de uma investigação do Ministério Público Estadual e de uma CPI recém-instalada na Assembleia Legislativa de São Paulo. 

A PPP foi assinada em agosto de 2013 pela Fundação para o Remédio Popular (Furp), órgão vinculado à Secretaria da Saúde, com a Concessionária Paulista de Medicamentos (CPM), controlada pelo laboratório EMS, para fazer a gestão, operação e manutenção da fábrica de Américo Brasiliense, no interior paulista. À época, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) destacou que a CPM investiria cerca de R$ 130 milhões na unidade nos cinco primeiros anos - são 15 anos de concessão - e produziria 96 tipos de medicamentos para serem distribuídos na rede pública de Saúde.



Até hoje, porém, a concessionária só fez metade dos investimentos previstos - após notificações sobre descumprimento do contrato - e produz apenas 13 dos 96 medicamentos, segundo a Secretaria da Saúde. A CPM, por sua vez, cobrava da Furp um ressarcimento de R$ 65 milhões até 2017. A dívida resulta de distorção entre o preço dos remédios previstos no contrato da PPP e o valor de mercado dos mesmos medicamentos. 

Isso porque, entre maio de 2015 e julho de 2016, a Furp pagou para a CPM o mesmo valor das atas de registro de preço das compras de remédios feitas pela secretaria com outros fabricantes do mercado. Mas, na média, o valor era 53% menor do que o previsto no contrato da fábrica privatizada para os mesmos itens. 

Após ser cobrada pela CPM, que alegava desequilíbrio no contrato, a secretaria passou a fazer, a partir de agosto de 2016, repasses fixos de R$ 7,5 milhões mensais para a Furp pagar a concessionária, independentemente do volume de entrega de remédios pela fábrica. O jornal O Estado de S. Pauloteve acesso ao inquérito aberto pelo MP estadual, com base em uma denúncia feita por um funcionário da fábrica - a investigação está sob sigilo. 

Documentos oficiais da Furp e da secretaria mostram que há casos em que os preços previstos na PPP chegam a ser sete vezes mais caros do que os de mercado. É o caso do sildenafila, remédio usado por quem sofre de disfunção erétil, e fluoxetina, indicado para depressão e transtorno alimentar. No início de 2018, cada comprimido produzido na fábrica tinha custo de R$ 3,85 e R$ 0,30, respectivamente, enquanto o preço de referência no mercado era de R$ 0,49 e R$ 0,04.

Em ofício enviado à secretaria em maio de 2017, a Furp destaca que a CPM não recolhe ICMS sobre medicamentos vendidos, não tem gastos com logística de distribuição, e o contrato não prevê ganhos de escala na produção, ou seja, redução do preço unitário para a compra de um volume maior. 

Ainda em 2017, a Furp listou todos os "pontos críticos" da PPP à secretaria, que pediu um parecer à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) para saber se poderia pagar mais caro pelos medicamentos na PPP. A PGE deu parecer favorável à manutenção do contrato, dizendo que ele incluía outros custos da concessionária, como a manutenção da fábrica. Apesar disso, a comissão do governo que acompanha as PPPs estaduais não descarta a possibilidade de extinção do contrato com a CPM. "Esse contrato de gestão da Furp será investigado porque existem indícios de algo que não deveria acontecer, que é interesse privado sobrestar o poder público", disse o deputado Edmir Chedid (DEM), presidente da CPI da Furp.

Contestação

A Secretaria Estadual da Saúde, a Furp e a CPM afirmam que não é possível comparar os preços dos remédios da fábrica concedida com os dos medicamentos comprados diretamente no mercado porque o contrato de concessão inclui outros serviços, como manutenção da indústria. Segundo a secretaria, foram realizados no ano passado "diversos investimentos na fábrica". Segundo a pasta, os preços das atas de registro "são exclusivamente para fornecimento de medicamentos" para o Estado, "mantendo assim diferença fundamental da natureza jurídica das complexas atividades realizadas pela CPM".

A CPM afirmou que os investimentos na infraestrutura da fábrica estão "100% de acordo com o cronograma acordado" com a Furp e que "todos os procedimentos adotados para a obtenção de registros de medicamentos foram feitos conjuntamente". A empresa afirmou ainda que "tem interesse na célere realização do processo de revisão contratual".

Secretário da Saúde no governo Geraldo Alckmin, David Uip afirmou que o impasse na PPP era "conceitual" e "superava a função da secretaria". Segundo ele, o aumento da concorrência reduziu o preço dos genéricos no mercado e a crise econômica do País diminuiu o poder de compra do Estado. "Não é problema simples, tanto é que até hoje não foi resolvido." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fabio Leite e Tulio Kruse

Para signatários de manifesto, a base de João Doria quer destruir a autonomia e reduzir os recursos das universidades paulistas, CC


Para signatários de manifesto, a base de João Doria quer destruir a autonomia e reduzir os recursos das universidades paulistas

Por Ana Luiza Basílio e Rodrigo Martins
Em reação à instalação da CPI das Universidades Públicas na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, professores e pesquisadores da USP, Unesp e Unicamp lançaram um manifesto de repúdio à iniciativa. Cadastrado na plataforma Change e divulgado em primeira mão por CartaCapital, o texto alerta para a inconstitucionalidade e para o propósito antidemocrático da medida, e segue aberto à adesão de mais apoiadores.
De autoria do deputado Wellington Moura (PRB), vice-líder do governo de João Doria (PSDB) e eleito presidente da comissão, a CPI nasce com o alegado propósito de “investigar irregularidades na gestão das universidades públicas no Estado de São Paulo, em especial quanto à utilização das verbas públicas repassadas a elas”. Em declarações à mídia, parlamentares da bancada governista admitem que o objetivo é apurar o suposto “aparelhamento político” das instituições de ensino pela esquerda. “Vamos analisar como as questões ideológicas estão implicando no orçamento. Eu percebo um predomínio da esquerda nas universidades. Infelizmente, muitos professores levam mais o tema ideológico do que o temático para a sala de aula”, disse Moura ao jornal O Estado de S.Paulo.
Para os signatários do manifesto, a CPI tem caráter vago e sequer se deu ao trabalho de “tipificar crime ou irregularidade a ser investigada”, condição que levou a deputada petista Beth Sahão a apresentar um mandado de segurança contra a sua abertura no último dia 23. “O que está por trás dessa caça às bruxas é algo bem mais palpável que as ideologias de ocasião. O que os deputados governistas desejam é o mesmo que já anunciaram vários dos economistas do primeiro escalão do governo do estado e do País: a desvinculação das verbas destinadas à educação para fazer o quem quiserem com ela. Investimentos que agradem ao todo-podereso mercado, possivelmente!”
O texto observa que a ofensiva contra as instituições de ensino desconsidera o princípio da autonomia universitária, garantido pelo Decreto 29.598/1989, assinado pelo então governador Orestes Quércia. Além de reconhecer a liberdade de cátedra, da gestão pedagógica dos cursos, esse decreto também assegura a autonomia de gestão administrativa e financeira das universidades paulistas. O manifesto alerta para o cerceamento da liberdade de pensamento e expressão.
“A ideia de reprimir cientistas e pensadores que fossem eventualmente de ‘esquerda’, em si mesma, é repugnante e tem de ser repudiada – não pelos que se consideram de esquerda, que, diga-se, nem de longe são maioria na Universidade –, mas por todos que ainda prezam a força do ideal democrático e republicano”, diz o texto. “Não é a esquerda que é atingida com uma aberração parlamentar como essa, mas o próprio coração da democracia, pois se trata de um ato de traição inaceitável por parte de representantes eleitos e legítimos apenas enquanto vige a ideia de democracia”.
Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e consultor editorial de CartaCapital, o discurso de caça às bruxas serve apenas para camuflar o interesse de reduzir os investimentos no ensino superior público. “Estamos diante da investida de dois governos, Bolsonaro e Doria, que querem fazer o Brasil regredir a um período pré-medieval. Digo isso porque, mesmo na Idade Média, vista como um período de ‘trevas’, a universidade tinha a sua autonomia respeitada, como atesta o historiador francês Jacques Le Goff”, diz Belluzzo, um dos signatários do manifesto, que atuou como secretário de Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo durante a gestão de Quércia.
Redigido pelo poeta e linguista Carlos Vogt, ex-reitor da Unicamp, e pelo crítico literário Alcir Pécora, professor-titular na mesma universidade, o manifesto contava com mais de mil assinaturas até o fechamento desta reportagem. No texto, Vogt fez questão de desmentir uma fake news difundida pelo presidente Jair Bolsonaro, a de que as universidades privadas produzem mais pesquisas que as públicas. “Em recente artigo publicado na Folha de S.Paulo, Sabine Righetti, pesquisadora da Unicamp e uma das consultoras do Ranking Universitário da Folha, revelou que as instituições públicas são responsáveis por 90% das feitas no País, e um terço da produção científica nacional está concentrada na USP, na Unesp e na Unicamp. Na verdade, elas estão entre as que mais produzem ciência na América Latina”, enfatiza, em entrevista a CartaCapital. “E qual é a especificidade das universidades paulistas, que a fizeram se sobressair no cenário nacional e internacional? Desde 1989, elas gozam de autonomia financeira por força do decreto de Quércia”.
Entre os signatários, figuram José Tadeu Jorge e Hermano Tavares, ex-reitores da Unicamp, o músico Florisvaldo Menezes Filho e o biólogo Célio Haddad, da Unesp, o sociólogo José de Souza Martins, da USP, o médico Erney Plessmann Camargo, ex-presidente do CNPq, e o cientista Luiz Bevilacqua, pesquisador da USP e ex-reitor da Universidade Federal do ABC.