segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Nordeste: 1 milhão de empregos criados no primeiro trimestre, do Viomundo

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Depois da vitória de Dilma, o surto tomou conta das redes sociais
O que realmente explica a vitória do PT no Nordeste
27 DE OUTUBRO DE 2014
Novamente, após a vitória da presidenta Dilma Rousseff pela reeleição com 3,5 milhões de votos a mais que o adversário, Aécio Neves, a xenofobia e o ódio gratuito contra o Nordeste, decisivo no pleito com mais de 70% dos votos para Dilma, voltou a aparecer nas redes sociais.
Velhas ideias elitistas de separação “norte” e “sul” e “uso político” do Bolsa Família – apesar de São Paulo ser o estado que mais recebe recursos do Bolsa Família e ter se mostrado reduto absoluto do PSDB, diga-se – ecoaram.
Não somos um país dividido, mas um mosaico, como mostra o gráfico das eleições presidenciais nos municípios, abaixo.
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Dilma também venceu em Minas Gerais, superando Aécio Neves em sua própria “casa” – uma resposta contundente do povo de MG ao seu ex-governador e atual senador – além de vencer no Rio de Janeiro e alcançar votações muito próximas no Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Mas o que realmente explica a massiva votação que o PT recebe do Nordeste nas últimas 4 disputas pela presidência?
O Bolsa Família – programa em que 76% das pessoas que recebem trabalham com carteira formal e mais de 1,6 milhão de famílias já abriram mão espontaneamente do benefício – decifra sozinho esse “fenômeno”? Seria a popularidade absurda de Lula, um pernambucano?
Os dados e fatos abaixo, compilados por mim em reportagens diversas dos últimos 4 anos (links aqui), mostra o quanto o estado se desenvolveu absurdamente na economia, na educação, na saúde, nos investimentos que atrai, na força do seu mercado, na inclusão social e mudança da pirâmide de renda.
O quanto o governo do PT (2003-2014) transformou a região muito, mas muito além do Bolsa Família, beneficiando todos os extratos da população nordestina e colocando no mapa uma região historicamente negligenciada.
É claro que o Nordeste ainda tem muito para avançar, no controle da violência, nos indicadores sociais e econômicos e cresce acima da média brasileira justamente porque passou tanto tempo esquecido e tem tanto para melhorar. Responsabilidade compartilhada entre a União, estados e municípios.
O mérito inegável do Partido dos Trabalhadores, que uma parcela felizmente minúscula da população, repleta de ódio e estupidez, prefere ignorar, é colocar a região de volta no caminho de protagonista do Brasil.
Emprego, renda, crescimento e desenvolvimento social
• Em 2002, 4,8 milhões de nordestinos tinham emprego formal. No final do ano passado, eram 8,9 milhões.
• Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), entre 2001 e 2012, o nordestino teve o maior ganho de renda entre todas as regiões, o que fez com a participação da base da pirâmide social caísse 66% para 45% – ou seja, mais de 20 milhões de pessoas deixaram a pobreza.
• Com mais de um quarto da população brasileira, a classe média no Nordeste foi engrossada em 20 pontos percentuais na última década, alcançando 42% dos habitantes.
• A classe A também ganhou agregados e saltou de 5% para 9% desde 2002.
• O poder de compra dos nordestinos já chega quase a 450 bilhões de reais, valor que corresponde à economia de países como Peru e República Checa.
• O programa de cisternas levou mais de 1 milhão de reservatórios de água para pessoas carentes.
• O Luz Para Todos beneficiou mais de 7 milhões de pessoas somente no Nordeste, com mais de R$ 6 bilhões de investimento na região.
• Na última década, entre 2003 e 2013, o Nordeste cresceu mais do que a média nacional, com avanço de 4,1% ao ano, enquanto o país ficou na marca de 3,3%. Números divulgados pelo Banco Central (BC) apontam que a região responde por 13,8% da economia nacional.
• Isso representa um crescimento de 41% em 10 anos, ante 33% da média nacional.
• Em 2012, por exemplo, a economia local cresceu o triplo da brasileira.
• Segundo cálculos do Banco Central, a economia nordestina cresceu 2,55% no segundo trimestre de 2014, na comparação com o primeiro, que já havia mostrado expansão de 2,12%. São taxas sem paralelo no restante do país. Nenhuma das demais regiões obteve dois trimestres consecutivos de alta, e as taxas, mesmo quando positivas, foram bem mais modestas. Pela medição do IBGE, a economia do Brasil encolheu 0,2% de janeiro a março e 0,6% de abril a junho.
• O Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste crescerá 2,6% em 2014, muito acima da média nacional.
• O Nordeste criou 1,04 milhão de postos de trabalho no primeiro trimestre de 2014, o que representa quase 60% do total de vagas abertas em todo o Brasil, segundo dados do IBGE.
• Além de ter apresentado o maior resultado em termos de geração de vagas no primeiro trimestre de 2014, a formalização na região também é forte e tem colaborado para a intenção de consumo se manter em níveis elevados, avaliou Bentes. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram alta de 2,2% no emprego formal no Brasil em 12 meses até abril. No Nordeste, o avanço é de 3,3%, com destaque para o comércio e os serviços.
• Levantamento da Firjan aponta que, na última década, 97,8% dos municípios nordestinos apresentaram crescimento do IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal).
Educação e Saúde
•  Em 2000, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o Nordeste tinha 413.709 universitários. Em 2012, esse número saltou para 1.434.825. Com isso, a região ultrapassou o Sul e passou a segunda com maior número de estudantes do ensino superior – 20% do total –, atrás apenas do Sudeste.
• Nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, 18 universidades federais foram abertas – sete delas no Nordeste, todas fora das capitais.
• A região tem conseguido fazer subir o número de pessoas com 18 anos ou mais nas universidades. Formados, eles passarão a ganhar 15,7% a mais por ano de estudo, segundo o Data Popular.
• O SUS [Sistema Único de Saúde] está presente em todos os municípios nordestinos, principalmente com suas equipes de PSF [Programa de Saúde da Família], e o ensino fundamental é praticamente universalizado.
Bolsa Família
•  Em 2013, o Bolsa Família deve repassar 25 bilhões de reais para mais de 13,8 milhões de famílias, metade delas no Nordeste. Na região, quatro em cada dez famílias recebem o benefício social, com valor médio de 152 reais por mês.
• De acordo com estudo recentemente divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Bolsa Família tem efeito multiplicador de R$ 2,40 sobre o consumo final das famílias, por isso setores como comércio e serviços – formado no Nordeste, principalmente por pequenos negócios –, que atendem esse consumidor final, são os mais beneficiados. Além disso, o levantamento mostra que cada real investido no programa gera um retorno de R$ 1,78 para a economia.
Agricultura
•  Até 2022, segundo projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil plantará cerca de 70 milhões de hectares de lavouras e a expansão da agricultura continuará ocorrendo no bioma Cerrado. Somente a região que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia terá, nesse mesmo período, o total de 10 milhões de hectares, o que representará 16,4% da área plantada e deverá produzir entre 18 a 24 milhões de toneladas de grãos, um aumento médio de 27,8%. Estamos falando do Matopiba, região considerada a grande fronteira agrícola nacional da atualidade.
• O Matopiba é peça-chave para o desenvolvimento da agricultura e para a segurança alimentar do País. “O investimento na produção sustentável na região do Matopiba será fator de segurança alimentar para o Nordeste, assolado por secas que matam as plantas de sede e os animais de fome”, apontou o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, que prevê com o crescimento do agronegócio um valioso desenvolvimento social para a região.
• A agricultura familiar é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população brasileira: 84% da mandioca, 67% do feijão; 54% do leite; 49% do milho, 40% de aves e ovos e 58% de suínos.
• No Nordeste a agricultura familiar é responsável por 82,9% da ocupação de mão de obra no campo.
Tecnologia
•  O Porto Digital, em Recife (PE), já perdura por mais de uma década gerando cerca de 6 mil empregos em quatro centros de pesquisa de tecnologia, quatro multinacionais, além das startups que também estão sediadas ou possuem escritórios no parque. Foram aproximadamente R$ 90 milhões investidos na reforma da zona portuária da capital.
• De acordo com um estudo feito em 2010, o Porto Digital fatura quase R$ 900 milhões por ano, engloba quase 500 empreendedores em seu parque e paga salários acima de R$ 2,5 mil. A maior parte de sua mão de obra possui ensino superior e pelo menos um segundo idioma. Atualmente, o Porto Digital se caracteriza por oferecer alta taxa de empregos ao público jovem: 35% dos trabalhadores de lá têm entre 17 e 25 anos.
• Na maior parte, as empresas que estão instaladas no parque são voltadas para o desenvolvimento de software para gestão empresarial, soluções para o mercado financeiro e para a área de saúde, mas também há startups que desenvolvem games, sites e intranets empresariais e ainda controle de trânsito e mecanismos de segurança patrimonial.
• Grandes empresas como Microsoft, IBM, Samsung e Motorola possuem bases instaladas no parque, sendo que a Motorola mantém o único centro de verificação e integração de teste de software para celulares da marca no mundo – um investimento de US$ 20 milhões da fabricante estadunidense.
• No parque, a maior parte das companhias atua na oferta de serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) – são 147 empresas neste setor, das pouco mais de 200 que têm base no pólo. 89% das empresas no Porto Digital são matrizes.
• Campina Grande, na Paraíba, é um dos 74 pólos tecnológicos do país, mapeados pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anproteca). Concilia todos os predicados necessários: uma centena de empresas de TI, mil empregos gerados e o maior número proporcional de PhDs do Brasil – 600.
• Nos últimos anos, o setor alavancou para 43 países as exportações de software e hardware, que vão de bancos de dados de alta complexidade às mais simples recicladoras de cartuchos. Entre seus clientes estão nomes como HP, Nokia, Petrobras e Interpol, a polícia internacional para o crime organizado.
• Ao menos 250 novas mentes aportam todos os anos para preencher as vagas de Ciência da Computação e Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Nos próximos cinco anos, um contingente de quase mil cérebros inundará o mercado local de tecnologia da informação (TI).
Consumo e crédito
• Pesquisa do Data Popular, citada pela EXAME, aponta que o potencial de vendas no Nordeste, durante os próximos 12 meses, soma 1,2 milhão de imóveis, 1,6 milhão de carros e 1 milhão de motos. O levantamento ainda indicou que os nordestinos estão cada vez mais sofisticados. A região concentra a maior intenção de compra do país em itens como notebooks, smartphones e tablets.
• Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 7,4% na média do Brasil quando se compara junho deste ano com igual mês de 2013. Nesta mesma base, a ICF cresceu 4,3% no Nordeste, para 135 pontos, o nível mais alto entre as regiões e o único resultado ainda crescente.
• O Nordeste foi a região em que as operações de crédito das empresas mais cresceram entre 2007 e 2011. Dados do Banco Central apontam que, enquanto que no Brasil foi registrado um aumento de 126%, chegando a R$ 1,044 trilhão, as empresas nordestinas responderam por uma expansão de 200%, somando R$ 121 bilhões.
• No que se refere ao pequeno varejo e atacado, o Nordeste detém 27% do número de lojas do Brasil, concentradas na Bahia, Pernambuco e Ceará, que juntas somam 69% do faturamento da região.
• Salvador ocupa a quinta posição do ranking de Potencial de Consumo, IPC MAPS 2011, ficando atrás de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba, com R$ 38 bilhões de potencial de consumo.
• A indústria de bebidas também está aquecida na região, onde o consumo de cerveja cresceu 10,2% desde 2010, ante 4,9% no resto do país.
Investimento, mercado e infraestrutura
• A transposição do Rio São Francisco está 63% concluída, empregando 11.500 pessoas e beneficiará 390 municípios em quatro estados: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte em 470km de canais.
• Dezenas de empresas já estão realizando ou realizam investimentos significativos na região, com instalação de novas fábricas, polos de desenvolvimento e novos projetos.
• Em Goiana, a 60 quilômetros de Recife, no norte de Pernambuco, um novo polo farmacoquímico deve ser concluído até 2016. Numa área de 287 hectares, estão sendo instaladas 11 empresas de remédios e biotecnologia — um investimento total de 1 bilhão de reais que criará 1443 novos empregos.
• Entre as companhias que vão desembarcar na região estão Hemobrás, Normix, Vita Derm, Hair Fly, Rishon, Brasbioquímica, Luft Logistics, White Martins, Quantas Biotecnologia, Biologicus e Multisaúde.
• No início do ano, a Ambev inaugurou uma nova fábrica na mesma cidade, um investimento de 725 milhões de reais que gerou 1 000 empregos.
• Na Bahia, a Heineken amplia a operação da fábrica de Feira de Santana, enquanto o  Grupo Petrópolis, fabricante das cervejas Itaipava e Petra, abriu em novembro sua primeira fábrica nordestina em Alagoinhas e uma segunda fábrica em Itapissuma (PE). A empresa já está contratando para os 600 postos que serão criados.
• Um dos segmentos mais favorecidos pelo aumento de renda no Nordeste foi a indústria de alimentos e bebidas, o que tem atraído empresas como Nissin Ajinomoto, Mondelez, Natto e Companhia Brasileira de Sorvetes. Só em Pernambuco, 22 grandes fabricantes desembarcaram nos últimos seis anos.
• E oito novas fábricas ficarão prontas até o ano que vem — um investimento total estimado em 2,8 bilhões de reais, com a geração de mais de 6 500 empregos diretos. A pernambucana GL Empreendimentos — de massas e biscoitos — inaugura em julho sua nova indústria de alimentos, um investimento de 143 milhões de reais.
• Com grande potencial de ventos, o Nordeste é o principal centro da produção de energia eólica no Brasil. Apesar de nova, essa é a fonte de energia que mais cresce no país. “Os investimentos só começaram há cerca de quatro anos, mas já cresceram 1 500%”, afirma Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). A região é responsável por 78,3% da capacidade de geração de energia eólica no Brasil, com 132 parques considerados aptos, em operação ou em testes. Além deles, 58 parques eólicos estão em construção e outros 263 já foram contratados nos leilões energéticos. A previsão é que a energia eólica gere 80 000 postos de trabalho em toda a sua cadeia produtiva só no Nordeste.
• No ano passado, Camaçari recebeu a fábrica da gigante chinesa JAC Motors, um investimento de 900 milhões de reais que permitiu a geração de 3 500 empregos diretos e 10 000 indiretos.
• A indústria automotiva decolou no Nordeste com o anúncio da instalação da fábrica da Fiat em Pernambuco, há três anos. Para garantir a produção de 40% da demanda de peças e componentes da montadora, está sendo criado o Parque de Fornecedores no Polo Automotivo de Goiana, na região metropolitana de Recife.
• São 16 empresas — globais e nacionais — que ocuparão 12 edifícios nos quais serão produzidas 17 linhas de componentes. Em uma área construída de 270 000 metros quadrados, o Parque de Fornecedores ficará junto à fábrica da multinacional italiana, em um modelo integrado de produção.
• Ao todo, o Polo Automotivo vai gerar 8 000 empregos diretos até o fim de 2015. Cerca de 4 000 dessas vagas serão criadas apenas nas fornecedoras de autopeças, que reúnem empresas como Magneti Marelli/Faurecia, Lear, Adler e Pirelli. A Fiat, por sua vez, vai contratar 600 profissionais de nível superior ainda neste ano.
• Estimativas que apontam investimentos na casa de R$ 6 bilhões no segmento de hotelaria e turismo para a região. O FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste), administrado pelo BNB (Banco do Nordeste do Brasil) programou investimento de mais de R$ 500 milhões à edificação de novos estabelecimentos do setor hoteleiro.
• A cadeia produtiva do petróleo também está aquecida no Nordeste, e a indústria naval é uma das que mais têm contratado. Com investimentos simultâneos ocorrendo em diversos estados, o setor deverá gerar cerca de 15 000 empregos diretos na região, com boas oportunidades para engenheiros navais, cujos salários estão cotados entre 5 000 e 14 000 reais.
• O grande símbolo do deslocamento da indústria naval do Sudeste para o Nordeste é o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), sediado no Complexo de Suape, em Pernambuco, desde 2008 e com uma carteira de investimentos de 8,1 bilhões de dólares. O estaleiro conta com 6 200 empregados e deve chegar a 7 000 até o fim deste ano.
• O Porto de Suape, que teve um aporte de R$ 1,2 bilhão em investimentos, cresceu 26% no ano passado em 2012 e empregou 60 mil pessoas.
PS do Viomundo: O Brasil é um país que se desconhece, graças a uma mídia monopolizada, concentrada no eixo Rio-São Paulo, que narra apenas o mundo segundo o umbigo de seus próprios jornalistas/atores/celebridades.
Veja também:

O tamanho da crise do etanol - EDITORIAL O ESTADÃO



O ESTADO DE S.PAULO - 25/10

A crise que afeta as usinas de açúcar e álcool está longe do fim. Com a dívida 10% maior do que o faturamento que poderão alcançar, as usinas terão uma de suas piores safras dos últimos anos. A crise financeira mundial iniciada em 2008 tornou ainda mais difícil a situação das empresas brasileiras do setor sucroalcooleiro, que já começavam a pagar o preço da errática política do governo do PT para o etanol. Esse preço continua a aumentar. Como mostrou reportagem do Estado (21/10), com faturamento de R$ 70 bilhões no ciclo 2014-2015, as usinas deverão encerrar a safra devendo R$ 77 bilhões, de acordo com estimativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Tendo acreditado nas promessas do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva de tornar o Brasil o líder e o exemplo mundial na produção de energia limpa e renovável, as usinas investiram pesadamente entre 2003 e 2008 na expansão da capacidade de produção do etanol e, para isso, contraíram dívidas pesadas, que a maioria ainda não quitou.

O discurso ufanista do governo - que apontava as vantagens econômicas, ambientais e sociais do etanol de cana-de-açúcar sobre o similar americano produzido a partir do milho (com o desvio de boa parte da safra do grão que seria destinada para outras finalidades) - estimulava esses investimentos. Ao mesmo tempo, a política do governo de exigir das montadoras a produção de veículos bicombustíveis (flex) - que podem utilizar etanol, gasolina ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção - parecia assegurar um grande volume de vendas para o mercado doméstico. Somadas às possibilidades de conquista de fatias maiores no exterior, com a transformação do etanol brasileiro de cana em commodity negociável em qualquer mercado do planeta, as possibilidades de crescimento do setor pareciam imensas.

Tudo mudou de repente. Com a descoberta, em 2007, de grandes acumulações de petróleo e gás em águas profundas, na camada do pré-sal, o governo Lula viu ali um potencial político-eleitoral muito maior, e de efeitos mais rápidos, do que o oferecido pelo etanol. Até então no centro das preocupações do governo petista, a energia limpa e renovável, que vinha sendo alardeada como o combustível do futuro, do qual o Brasil seria o grande fornecedor mundial, deixou de merecer a atenção das autoridades.

Mas o pior ocorreu no governo Dilma. Com o aumento das pressões inflacionárias a partir de 2011, o governo passou a conter o preço da gasolina. Com isso, também o preço do etanol adicionado à gasolina passou a ser comprimido. Já o preço do etanol vendido na bomba, embora teoricamente livre, é dependente de uma relação inescapável: a eficiência energética do álcool corresponde a cerca de 70% da da gasolina, o que condiciona seu preço ao do derivado do petróleo.

Somada à excessiva e danosa interferência do governo no setor, a gestão financeira em muitos casos imprudente de muitas usinas - que continuaram a tomar dívidas para a mecanização da colheita, renovação do canavial e até expansão da capacidade - tornou os problemas ainda mais graves.

De acordo com o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, há cerca de 375 usinas em operação no País. Dessas, ele estima que 30 talvez não tenham condições de moer cana na próxima safra, por causa de seu alto nível de endividamento. Desde 2008, entre 60 e 70 usinas encerraram suas atividades por problemas financeiros. Cerca de outras 70 operam em regime de recuperação judicial. Estima-se que, desde o início da crise, o setor de açúcar e álcool fechou 100 mil empregos diretos e 250 mil indiretos (de um total, respectivamente, de 1,5 milhão e 2,5 milhões).
Além da crise que se arrasta há seis ou sete anos, a seca reduziu a colheita de cana no Centro-Sul para 545 milhões ou 55o milhões de toneladas, cerca de 40 milhões do que se previa. Com isso, o fim da moagem será antecipado e, sem produtos para comercializar, o setor pode estar prestes a enfrentar uma das piores entressafras de sua história.

Contenha-se, presidente - VINICIUS MOTA


FOLHA DE SP - 27/10


SÃO PAULO - O Brasil desta década, em vários aspectos, é quase outra nação se for comparado ao do início dos anos 2000. Cada US$ 100 do PIB de 2002 se tornaram US$ 190.

Para cada R$ 100 que o governo federal gastava na época, desembolsa R$ 200 agora. Para cada 100 pessoas empregadas, hoje há 130.

Se fosse um país, o mercado de trabalho brasileiro, de quase 100 milhões de indivíduos, seria maior que qualquer nação da Europa. O crédito explodiu, o consumo foi catapultado, a atividade empresarial foi catalisada e o empreendedorismo floresceu. Multiplicou-se o acesso à informação.

Estão matriculados na faculdade 180 brasileiros para cada 100 há dez anos. O ensino básico atinge picos de universalização, e melhora o desempenho no principal teste mundial de conhecimento, apesar de os alunos ainda mostrarem domínio sofrível dos principais conteúdos.

Foram às urnas neste pleito 120 eleitores para cada 100 que compareceram ao escrutínio de 2002, expansão de 20 milhões de almas.

O Brasil mudou de escala. Deu um salto quântico para outra realidade, embora esteja ainda muito distante do portal do desenvolvimento, humano e econômico.

Deve ser difícil para o PT e a presidente reeleita, Dilma Rousseff, reconhecer que a maior parte do crédito pelo notável avanço é da sociedade, e não do governo. A riqueza que levou a esse salto surgiu da labuta diária de homens e mulheres, e as determinantes de sua partilha foram cimentadas na constituição da democracia ao longo de 30 anos.

Que a vitória apertadíssima deste domingo e as condições agrestes de governo que se apresentam sirvam de alerta para a necessidade de contenção no exercício da Presidência. O presidente da República no Brasil pode muito, mas não pode tudo. A presidente Dilma, dado o contexto econômico e político em que se reelegeu, poderá menos.