quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Busca da eficiência energética


O gasto com combustível pode superar 35% do custo operacional de caminhões pesados em trajetos longos. Este consumo sobe 10% com falta de manutenção e até 25% com excesso de peso. Cerca de 40 mil veículos a diesel rodam fora dos padrões ambientais no estado, consumindo e poluindo mais.
E ainda há a má qualidade do diesel nacional, que prejudica a saúde e diminui a vida útil dos motores. O resultado da falta de eficiência? Perda de competitividade, má qualidade de vida e emissão anual de 40 milhões de toneladas de CO2.
Tema pouco debatido no Brasil, sobretudo numa época de estímulos à compra de veículos como meio de aquecer a economia, a eficiência energética de combustíveis é questão central num cenário de transição para a economia verde e de busca por ganhos de competitividade no setor produtivo.
Vale lembrar que São Paulo tem ainda uma Política Estadual de Mudanças Climáticas para cumprir - cortar 20% da emissão de poluentes até 2020. O primeiro passo de uma política de eficiência energética de combustíveis é a redução da demanda e do desperdício no transporte.
Como 93% das cargas no estado circulam por rodovias, a dinamização da infraestrutura, a integração da rede multimodal e o planejamento logístico têm sido prioritários na revisão do Plano Diretor de Transportes.
Só em projetos já inclusos no PPA 2012-2015 da Secretaria de Logística e Transportes, estima-se a economia anual de 1 bilhão de litros de derivados de petróleo a partir de 2020, além de 2,6 milhões de toneladas de CO2 a menos.
O mesmo se dá no transporte de passageiros. A partir de 2020, a extensão da rede de metrô, trens metropolitanos e monotrilhos deve poupar 880 milhões de litros de gasolina e 470 milhões de litros de diesel por ano, evitando a emissão de 2,2 milhões de toneladas de CO2.
A implantação de corredores metropolitanos pela EMTU até 2014 fará crescer o número de passageiros e cair o tempo de deslocamento, otimizando o uso da frota. Estima-se uma melhoria de 25% na relação passageiro por litro de diesel, além da substituição do carro pelo ônibus por 30% dos novos usuários.
A gama de ações é ampla: vai do reforço do controle da regulagem e do peso dos caminhões à substituição de energéticos poluentes; da melhoria da qualidade dos combustíveis à pesquisa e teste de novas fontes.
Também são importantes os aperfeiçoamentos logísticos, como a redução das viagens com caminhão vazio, e o estabelecimento de metas de eficiência para veículos, com etiquetagem e políticas de alíquotas diferenciadas para os mais econômicos e menos poluentes.
No mundo todo, os programas de eficiência em combustíveis resultaram em ganhos superiores a quaisquer outras iniciativas de promoção da competitividade com sustentabilidade.
O Plano Paulista de Energia, a ser lançado em breve, dá grande ênfase à questão, inclusive estabelecendo uma audaciosa meta global de economia. Seria importante um alinhamento das políticas estaduais correlatas ou o estabelecimento de diretrizes nacionais únicas ou integradas. Os ganhos seriam exponenciais.
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José Anibal é secretário de Energia do estado de São Paulo

Na antessala do tribunal


BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
FLÁVIA TAVARES
Sobem as cortinas. Foi com um sorriso confiante de candidato, e não de quem se defende de acusações graves, que ele chegou à sede da CUT em Brasília naquela noite. Distribuindo abraços e apertos de mão, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, atravessou a plateia de cerca de 50 militantes e 30 profissionais de imprensa, até ser chamado a ocupar a cadeira central no pequeno palco. Num terno risca de giz preto sobre camisa branca e gravata vinho, figurino formal que tem usado em peregrinação Brasil afora, foi saudado aos gritos de "Delúbio, guerreiro, do povo brasileiro". A guerra que protagoniza é para provar sua inocência, a partir da semana que vem, diante do STF, tentando livrar-se das acusações de ser um dos operadores do esquema conhecido como mensalão.
O evento marcado às vésperas do julgamento foi organizado pela Juventude do PT de Guará, cidade-satélite de Brasília. Inicialmente ocorreria na sede nacional do partido, mas, pelo que se sabe, a cúpula petista tem evitado ceder espaços institucionais ao responsável pela dinheirama que partia das empresas de Marcos Valério para bolsos de políticos endividados após a campanha de 2002. Vale lembrar que Delúbio foi expulso do PT em 2005 e só readmitido em 2011. Neste ato, foi justamente sua trajetória de sindicalista que lhe garantiu abrigo no abafado auditório da CUT, localizado numa região decaída da capital federal - com direito a um telão do lado de fora, que acabou sem público. A imprensa foi abertamente hostilizada antes do início da cerimônia. "Saiam. A gente lê vocês. Mas vocês leem a gente?", bradava aos jornalistas um senhor negro, de barba branca, boina vermelha.
Depois das devidas apresentações e de muito "companheiro" pra cá e pra lá, Delúbio acompanhou atentamente a fala de um de seus melhores amigos, também um de seus advogados, Sebastião Pereira Leite, o Juruna. O amigo discorreu sobre aquilo que a bancada de apoio do ex-tesoureiro considera falho num processo que o acusa de corrupção ativa e formação de quadrilha - o peculato foi derrubado da trilogia pelo próprio STF. "Não há provas de compra de votos de parlamentares", repetiram os integrantes da mesa. A tecla martelada pela defesa é a de que houve o uso de "recursos não contabilizados" para o pagamento de dívidas de campanha. Nas palavras de Delúbio, "caixa dois não tradicional, porque o nosso dinheiro tinha origem". Crime eleitoral, no máximo.
A palavra mensalão só apareceu na boca do ex-tesoureiro 45 minutos depois do início do ato, e com o grifo de que se trata de "nome midiático". Ao mencionar "os crime" de que é acusado, invariavelmente engolindo os esses finais, o tom de voz de Delúbio não é de comício. Ao clamar que seja julgado somente pelo que fez, não inflama os espectadores. Ao contrário, pede calma. "Temos que agir com serenidade e confiar na Justiça." Não lhe cai o papel de vítima, a não ser quando fala da família. "Estamos pagando um preço há sete anos. Fui expulso do PT. A vida do meu pai, da minha mãe, da minha mulher foi vasculhada." Sua companheira, a intransponível Monica Valente, membro do diretório nacional do PT, acena com a cabeça.
Delúbio deixa nas entrelinhas que o veredicto já está definido. "Conversar com a militância não vai influenciar o julgamento. Mas quero que vocês saibam a verdade e contem para todo mundo", diz, enquanto balança a brochura de 80 páginas intitulada A Defesa de Delúbio Soares no STF, escrita por advogados da banca de Arnaldo Malheiros. Devoto que é do partido, o ex-tesoureiro afirma acreditar que as denúncias não foram contra os 38 acusados, mas contra o projeto de país do PT.
Quase duas horas haviam se passado. Delúbio fizera piadas sobre sua idade, em comparação com a juventude do público. Era hora de encerrar. Mas em encontros políticos, ainda mais em ano de eleição, nada termina até que o microfone passe pelos candidatos a vereador, dirigentes dos escritórios nacionais do partido, assistentes da secretária daquele amigo que te apoiou em 1992, lembra? Depois, militantes em série decidiram se manifestar - menos em apoio a Delúbio e mais em ataques à mídia golpista. Para encerrar a sequência, três Chicos discursaram: o Pereira, o Vigilante e o Floresta. Delúbio brincou que a selva estava completa.
Na saída, uma verdadeira caçada: repórteres se amontoam em volta do operador das finanças do PT em seu período mais crítico. Com destreza, Delúbio se livrou de todos, como faz há cinco anos. Sua mulher, Monica, idem: "Nós não falamos com imprensa. Nunca". Mais abraços apertados em alguns correligionários. De mãos dadas, andando lentamente, Delúbio e Monica seguem para o carro importado de um amigo. E se vão, à espera do julgamento.

O novo desenvolvimento e o papel do Estado - 3



Coluna Econômica - 01/08/2012 do Blog do Luis Nassif
País sede da primeira revolução industrial, nos planos científico e tecnológico a Inglaterra não possuía avanços significativos em relação a outros grandes países europeus.
O historiador Eric Hobsbawn define “revolução industrial” como a criação de um "sistema fabril mecanizado que por sua vez produz em quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente decrescente a ponto de não mais depender da demanda existente, mas de criar o seu próprio mercado.
Segundo Hosbawn, “qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade tecnológica e científica.”
Dois fenômenos produziram o milagre inglês: uma indústria que já oferecia recompensas excepcionais para o fabricante expandir rapidamente sua produção (proporcionando mais ganhos do que o comércio); turbinada por um mercado mundial àquela altura monopolizado por uma única nação.
Em suma: deveu-se à criação de mercados.

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No início, a base de sua economia era a lã de ovelhas. O país vendia lã em estado bruto para a Bélgica, onde eram tingidos e trabalhados. Sob o reinado de Carlos I e Jaime I houve proteção à produção inglesa. Em breve, a indústria têxtil se consolidou, a Inglaterra passou a exportar tecidos finos, de valor agregado, e a importar pouquíssimo.
A indústria da lã motivou a mineração do carvão que, por sua vez, deu origem ao extenso comércio pesqueiro e à pesca, os dois últimos servindo de base à montagem do poderia naval britânico, consolidados nas Leis de Navegação, que reservaram aos navios ingleses a pesca e o transporte do carvão.
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A obra de arte diplomática foi o Tratado de Mehuen com Portugal.
Havia quatro blocos de países em jogo.
* A Inglaterra, com sua manufatura em expansão e o domínio do comércio do Atlântico, com as Índias Orientais e Ocidentais.
* Portugal tinha metais que interessavam a Inglaterra, e uma indústria de vinhos.
* A Índia tinha uma indústria têxtil poderosa, mais articulada que a inglesa, e outras manufaturas desenvolvidas. Mas tinha carência de ouro.
O acordo com Portugal, firmado pelo embaixador britânico Paul Methuen previa os seguintes pontos:
1. A Inglaterra permitiria a importação de vinhos portugueses com tarifas alfandegárias equivalentes a 1/3 das tarifas de países concorrentes.
2. Portugal consentiria em importar tecidos e roupas inglesas com taxas alfandegárias de 23%, mesma alíquota cobrada antes de 1684, quando Portugal se tornou protecionista.
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Imediatamente após o acordo, houve uma inundação de manufaturas inglesas que praticamente arrebentou com a indústria portuguesa. A Inglaterra recorreu a todos os expedientes, inclusive colocando produtos subfaturados, para pagar menos taxas alfandegárias. Na outra ponta, levou toda prata e todo ouro de Portugal.
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O ouro e prata de Portugal garantiram à Inglaterra acesso aos produtos indianos, com que inundaram a Europa. Todas as colônias portuguesas, especialmente o Brasil, se transformaram em feudos ingleses.
Com essa estratégia, a Inglaterra adquiriu um poder sem paralelo; os demais países, que adquiriram manufaturas mais baratas, ganharam o inverso.