quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O novo desenvolvimento e o papel do Estado - 3



Coluna Econômica - 01/08/2012 do Blog do Luis Nassif
País sede da primeira revolução industrial, nos planos científico e tecnológico a Inglaterra não possuía avanços significativos em relação a outros grandes países europeus.
O historiador Eric Hobsbawn define “revolução industrial” como a criação de um "sistema fabril mecanizado que por sua vez produz em quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente decrescente a ponto de não mais depender da demanda existente, mas de criar o seu próprio mercado.
Segundo Hosbawn, “qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade tecnológica e científica.”
Dois fenômenos produziram o milagre inglês: uma indústria que já oferecia recompensas excepcionais para o fabricante expandir rapidamente sua produção (proporcionando mais ganhos do que o comércio); turbinada por um mercado mundial àquela altura monopolizado por uma única nação.
Em suma: deveu-se à criação de mercados.

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No início, a base de sua economia era a lã de ovelhas. O país vendia lã em estado bruto para a Bélgica, onde eram tingidos e trabalhados. Sob o reinado de Carlos I e Jaime I houve proteção à produção inglesa. Em breve, a indústria têxtil se consolidou, a Inglaterra passou a exportar tecidos finos, de valor agregado, e a importar pouquíssimo.
A indústria da lã motivou a mineração do carvão que, por sua vez, deu origem ao extenso comércio pesqueiro e à pesca, os dois últimos servindo de base à montagem do poderia naval britânico, consolidados nas Leis de Navegação, que reservaram aos navios ingleses a pesca e o transporte do carvão.
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A obra de arte diplomática foi o Tratado de Mehuen com Portugal.
Havia quatro blocos de países em jogo.
* A Inglaterra, com sua manufatura em expansão e o domínio do comércio do Atlântico, com as Índias Orientais e Ocidentais.
* Portugal tinha metais que interessavam a Inglaterra, e uma indústria de vinhos.
* A Índia tinha uma indústria têxtil poderosa, mais articulada que a inglesa, e outras manufaturas desenvolvidas. Mas tinha carência de ouro.
O acordo com Portugal, firmado pelo embaixador britânico Paul Methuen previa os seguintes pontos:
1. A Inglaterra permitiria a importação de vinhos portugueses com tarifas alfandegárias equivalentes a 1/3 das tarifas de países concorrentes.
2. Portugal consentiria em importar tecidos e roupas inglesas com taxas alfandegárias de 23%, mesma alíquota cobrada antes de 1684, quando Portugal se tornou protecionista.
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Imediatamente após o acordo, houve uma inundação de manufaturas inglesas que praticamente arrebentou com a indústria portuguesa. A Inglaterra recorreu a todos os expedientes, inclusive colocando produtos subfaturados, para pagar menos taxas alfandegárias. Na outra ponta, levou toda prata e todo ouro de Portugal.
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O ouro e prata de Portugal garantiram à Inglaterra acesso aos produtos indianos, com que inundaram a Europa. Todas as colônias portuguesas, especialmente o Brasil, se transformaram em feudos ingleses.
Com essa estratégia, a Inglaterra adquiriu um poder sem paralelo; os demais países, que adquiriram manufaturas mais baratas, ganharam o inverso.

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