terça-feira, 25 de junho de 2024

Grupo de 460 bispos e padres reprova 'o PL dos estupradores' em manifesto que será enviado ao papa, FSp

 Um grupo de 460 bispos e padres que participam de um coletivo formado para apoiar o pontificado do papa Francisco no Brasil fez um duro manifesto contra o PL Antiaborto por Estupro. A proposta equipara a interrupção da gravidez acima de 22 semanas ao crime de homicídio, inclusive para mulheres que foram estupradas.

Mulheres protestam contra o projeto de lei da câmara dos deputados que altera as regras para o aborto legal em caso de estupro - Pedro Ladeira - 13.jun.2024/Folhapress

SONORO NÃO

No documento, os religiosos afirmam que "em consonância com os sentimentos da maioria do povo brasileiro, especialmente das nossas irmãs mulheres, reprovamos, repugnamos e nos opomos veementemente ao projeto de lei 1904/2024 que ora tramita no Congresso Nacional e que ficou popularmente conhecido como PL dos Estupradores".

O ÓBVIO

"Obviamente, não somos a favor do aborto!", seguem os religiosos. "Somos sim contra a substituição de políticas públicas por leis punitivas às vítimas de estupro e abuso, imputando-lhes um crime seguido de pena maior do que o dos estupradores."

PENA MAIOR

A proposta do deputado evangélico Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) prevê pena de até 20 anos para a mulher que engravidar e que interromper a gravidez. Já um estuprador pode ser detido por até no máximo dez anos, de acordo com o Código Penal.

RACHA

A iniciativa explicita as divergências na Igreja Católica brasileira sobre o tema: a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) apoia o projeto. Os religiosos vão enviar o documento à própria entidade e também ao papa Francisco.

VINGANÇA CRUEL

Nele, padres e bispos afirmam ainda que "ser contra o aborto não pode ser confundido com o anseio em ver a mulher que o pratica atrás das grades. Esta 'vingança social' acarreta a grave consequência de penalizar as mulheres pobres que não podem sequer usar o sistema público de saúde".

Pontuam também que "a criminalização das mulheres não diminui o número de abortos. Impede apenas que seja feito de maneira segura".

VINGANÇA 2

"Criminalizar a mulher vítima de estupro e abuso é violentá-la novamente", afirmam.

LEVIANDADE

Os religiosos dizem ainda que fazem deles as palavras do bispo dom Angélico Sândalo Bernardino, que em entrevista à coluna afirmou que "simplesmente punir a mulher sem discutir com profundidade uma situação tão complexa é uma leviandade. É uma precipitação legalista. É querer resolver pela lei um problema muito mais amplo e vasto".

LEVIANDADE 2

Citam também as manifestações do pastor da Igreja Batista da Água Branca, Ed René Kivitz, para quem o projeto trata a violência contra a mulher com "displicência, leviandade, crueldade e irresponsabilidade".

Sinais precoces de Alzheimer podem começar pelos olhos, sugere estudo; veja o que isso significa, OESP

 Por Victória Ribeiro

Atualização: 

Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, apontou que a perda da sensibilidade visual pode ser um indicador precoce da doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência neurodegenerativa. Segundo os autores, essa situação poderia ajudar a prever o risco de alguém desenvolver a doença anos depois.

Conforme explicou Ahmet Begde, pesquisador na Escola de Esporte, Exercício e Ciências da Saúde da instituição e um dos responsáveis pelo estudo, a perda na sensibilidade visual pode acarretar em problemas no processo de percepção e interpretação de informações visuais. Isso inclui desde a menor capacidade de reconhecer objetos e rostos até sufoco para conseguir ler. “Uma pessoa com sensibilidade visual reduzida pode, por exemplo, encontrar dificuldades em ler placas de rua enquanto dirige”, descreveu Bedge em entrevista ao Medical News Today.

Segundo estudo, exame visual poderia ajudar a antecipar o diagnósticos de demências, como o Alzheimer
Segundo estudo, exame visual poderia ajudar a antecipar o diagnósticos de demências, como o Alzheimer Foto: jitendra jadhav/Adobe Stock

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Publicado na revista científica Scientific Reports, o estudo foi motivado por pesquisas anteriores, que identificaram mudanças físicas nos olhos, como danos nos vasos sanguíneos, e a presença de placas beta-amiloide – consideradas uma das principais causas da doença de Alzheimer no cérebro – na retina e na lente dos olhos, como fatores associados à progressão da doença.

A metodologia do estudo envolveu, então, 8.623 pessoas com idade entre 48 e 92 anos, que foram acompanhadas durante 13 anos, de 2006 a 2019. Elas foram submetidas frequentemente a testes cognitivos em paralelo com o Teste de Sensibilidade Visual (conhecido pela sigla VST), uma ferramenta que avalia a velocidade de processamento visual e tempo de resposta motora simples e complexa, além sensibilidade ao contraste visual e capacidade de percepção visuoespacial.

Para realizar o VST, os participantes completaram duas versões do teste: uma simples e outra mais complexa. Na versão simples, eles foram orientados a pressionar a barra de espaço no computador sempre que percebessem a formação de um triângulo na tela. Já na versão complexa, eles precisaram identificar a orientação de um triângulo em constante movimento, apontando se ele estava para cima ou para baixo, em meio a uma série de pontos também em movimento, distribuídos aleatoriamente pelo campo visual.

Das pessoas avaliadas pelo estudo, 533 foram diagnosticadas com demência, sendo que todas elas tiveram pontuações significativamente inferiores nos testes visuais em relação àquelas que não desenvolveram a doença.

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É importante destacar que esses participantes estavam em faixas etárias mais avançadas, tinham níveis mais baixos de escolaridade e eram menos ativos fisicamente. Além disso, a presença de problemas como diabetes acidente vascular cerebral (AVC) foi mais comum entre aqueles diagnosticados com Alzheimer.

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Exame complementar

Segundo Diogo Haddad, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, que não participou da pesquisa, a metodologia empregada na investigação pode ser considerada inovadora, embora a pesquisa tenha evidenciado que os testes padrões para detecção do Alzheimer, como o Hopkins Verbal Learning Test (HVLT) e Short Form of the Extended Mental State Examination (SF-EMSE), ainda apresentam maior especificidade e sensibilidade na previsão da demência.

“O Teste de Sensibilidade Visual (VST) pode ser incorporado como um exame complementar, adicionando uma dimensão importante às avaliações cognitivas, especialmente por ser um método mais acessível e menos invasivo. Além disso, esse teste pode ser particularmente útil em contextos em que recursos mais avançados de diagnóstico não estão disponíveis”, avalia Haddad.

Segundo o especialista, a integração dos testes visuais em avaliações cognitivas de rotina pode ser vantajosa para o rastreamento e o diagnóstico precoce da demência, que são grandes dificuldades relacionadas à doença. Tanto é que, muitas vezes, o quadro é descoberto apenas em estágios mais avançados. “O diagnóstico precoce é muito importante porque permite o início de tratamentos modernos, frequentemente direcionados às placas beta-amiloide, no momento ideal para controlar a progressão da doença”, destacou Haddad.

Sobre a possibilidade de o exame visual prever o Alzheimer com anos de antecedência, o especialista observa que essa é uma perspectiva promissora, já que isso poderia revolucionar a abordagem de indivíduos considerados de risco, permitindo intervenções mais precoces para retardar a progressão e até mesmo o desenvolvimento da doença. Mas ele pondera que há desafios para chegar nesse ponto. “É crucial que essas previsões sejam baseadas em avaliações multidimensionais, incluindo fatores genéticos, comportamentais e ambientais, para garantir sua precisão e eficácia”, exemplifica.

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O neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz aponta ainda algumas limitações relevantes no estudo, incluindo a participação exclusiva de britânicos, o que levanta questionamentos sobre como os resultados poderiam ser aplicados em contextos demográficos e culturais diversos, como o Brasil, onde a heterogeneidade é significativa. Além disso, ele observa que o estudo não abordou diretamente a progressão da doença em diferentes estágios, o que poderia fornecer insights adicionais sobre a utilidade do VST em diversas fases do Alzheimer.

Em entrevista ao Medical News Today, Alexander Solomon, neuro-oftalmologista cirúrgico no Pacific Neuroscience Institute em Santa Mônica, na Califórnia, que não participou do trabalho, comentou que os resultados não surpreendem. Isso porque muitas pessoas associam a visão principalmente aos olhos, mas uma parte significativa do processamento visual ocorre no cérebro. “Quando paramos para pensar por esse lado, não é difícil imaginar que, à medida que o cérebro é comprometido por um processo como a demência, algumas partes que ajudam a processar nossa visão são afetadas”, disse.