quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Cotado para governo Lula, secretário da Fazenda de SP é alvo de piada em reunião no STF, FSP

 O secretário da Fazenda do estado de São Paulo, Felipe Salto, foi alvo de piadas com a especulação de que poderá compor o governo Lula (PT), durante reunião do comitê criado pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para discutir a alíquota do ICMS dos combustíveis.

O secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto - Jane de Araújo/Agência Senado

"No ano que vem o Salto vai saltar para o outro lado", disse o deputado Danilo Fortes (União-CE), autor do projeto do teto do imposto. O secretário, assim como os demais participantes da reunião, riu da brincadeira.

O nome do secretário paulista, que tem perfil técnico, vem sendo mencionado como uma possibilidade para ocupar a Secretaria do Tesouro Nacional de Lula.

Em julho, o governo de Jair Bolsonaro (PL) patrocinou um projeto aprovado no Congresso que fixou limite de 17% na alíquota do ICMS dos combustíveis, como forma de tentar reduzir a inflação.

Isso acarretou perdas de arrecadação para os estados, que recorreram ao STF. Caso sua nomeação seja confirmada, o secretário passaria a defender o ponto de vista federal na disputa, se ela não tiver sido solucionada até lá.

Bolsonarista tenta driblar veto de Moraes em atos golpistas e é derrubado de novo, FSP

 Mateus Vargas

BRASÍLIA

O bolsonarista Jackson Villar tentou contornar a derrubada de um canal do Telegram com 180 mil membros e passou a usar outro grupo na mesma plataforma, que chegou a somar mais de 45 mil integrantes, para mobilizar atos golpistas nas estradas contra o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele administrava o canal "nova direita 70 milhões", que saiu do ar no último dia 28 por ordem do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.

Nesse espaço, o bolsonarista havia divulgado vídeos em que defendia quebrar urnas "no pau" e "meter bala na cabeça do Xandão", além de mensagens com xenofobia contra nordestinos.

Pelo menos até a noite de terça (1), Villar ainda usou outro grupo, o "canal nova direita #70milhões #paralizaçãogeral", para mobilizar os bloqueios em estadas e contestar, sem provas, o resultado da eleição. Em vídeo compartilhado aos integrantes da plataforma, ele afirmou que a população só deveria sair das ruas quando houvesse um golpe para o Exército assumir o país.

Essa nova página também foi retirada do ar por decisão de Moraes.

O bolsonarista Jarckson Vilar ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL) em manifestação feita em São Paulo em junho
Villar participa de manifestação ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL) em junho de 2021 em São Paulo - Reprodução

"Estamos unidos para libertar o nosso país, não aceitamos o comunismo nesse país. Não aceitamos ser comandados por um comunista e por ninguém nesse país. O nosso presidente perdeu a eleição? Perdeu. Agora é a nossa vez, quero ver quem vai perder essa guerra, porque o povo brasileiro não vai", disse Villar em um dos vídeos.

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Os integrantes do canal ainda compartilhavam locais em que havia bloqueios e informações sobre a mobilização golpista.

Villar também pedia doações para a "Associação Mensagem da Esperança Campinas" com o objetivo de supostamente ajudar os caminhoneiros.

A mesma associação havia sido indicada por ele em abril para receber o pagamento de R$ 10 para que apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) tivessem acesso à área privilegiada de uma motociata feita em São Paulo.

Villar foi um dos organizadores das manifestações de motoqueiros com a presença de Bolsonaro em 2021 e 2022.

O bolsonarista, que se identifica como "pastor" ou "embaixador Jackson Villar" e se chama "Jarkson Vilar da Silva", tem fotos ao lado de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador eleito de São Paulo, e de Ricardo Salles (PL-SP), eleito deputado federal.

Villar ainda tentou ser candidato a deputado federal por São Paulo, pelo partido Republicanos, mas teve o registro negado pela Justiça Eleitoral.

Folha o questionou sobre as mensagens compartilhadas nos grupos do Telegram, mas não recebeu resposta.

A pedido do PDT, o TSE chegou a tentar cobrar da associação indicada por Villar informações sobre o valor arrecadado na motociata de 2022, mas o tribunal não conseguiu encontrar a entidade para completar a notificação.

Alfabetizado aos 28, catador de recicláveis se forma em Direito, Terra

 

Aos 47 anos, Ronei Alves da Silva, catador de material reciclável, se tornou um líder da categoria no Distrito Federal e liderou o processo de profissionalização de atividades das cooperativas
Aos 47 anos, Ronei Alves da Silva, catador de material reciclável, se tornou um líder da categoria no Distrito Federal e liderou o processo de profissionalização de atividades das cooperativas
Foto: DIDA SAMPAIO / ESTADÃO

Complexo Integrado de Reciclagem (CIR) do Distrito Federal é formado por dois enormes galpões e fica a apenas 28 minutos de carro do Palácio do Planalto. Em um deles, cerca de 30 pessoas - quase todas mulheres negras - separavam o lixo reciclável dos detritos que não podem ser reaproveitados. O catador Rônei Alves da Silva, de 47 anos, observa o trabalho. Analfabeto até os 28, ele concluiu no ano passado o curso de Direito. Como um dos líderes, coube a ele assinar em 2013 o contrato de R$ 21,3 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que permitiu a construção do complexo.

"Se ano passado eu me formei em Direito, foi porque todos me ajudaram. Eu, daqui a uns dias estou indo. Isto daqui (o complexo) fica (...). Cada catador aqui dentro é dono disso daqui", diz Rônei. "Não acredito em meritocracia. Acredito que as pessoas querem uma oportunidade na vida. Desde o mais rico até o mais pobre, tudo que a gente quer é oportunidade."

Chovia forte quando Rônei recebeu a reportagem do Estadão, em dezembro. "Num dia como hoje, estariam todos trabalhando debaixo de chuva", diz ele. Inaugurado no fim de 2020, o local é tocado pela Central das Cooperativas (Centcoop) do DF, entidade que Rônei presidiu por dois mandatos, de 2009 a 2015. Hoje, reúne cooperativas que somam mais de mil catadores - quando todos os galpões do projeto original forem construídos, a estrutura poderá atender até 5 mil trabalhadores diariamente. Num mês bom, cada catador pode ganhar até R$ 2 mil, mas nem sempre é o caso.

Nascido em Teresina (PI) em maio de 1974, Rônei é o segundo de três filhos de uma empregada doméstica, Luiza Alves da Silva. Aos 12 anos, já trabalhava como carroceiro em Ceilândia (DF). A tarefa era retirar entulho das obras e transportar materiais de construção, mas os ganhos da carroça mal bancavam a comida. "As casas de material de construção ficavam com 30%. O que a gente ganhava quase não dava para comprar a ferradura e a ração do cavalo."

Nos anos seguintes, fez de tudo: serviu ao Exército, vendeu dim dim (o sacolé, geladinho ou chupchup) e trabalhou como ambulante na rodoviária central de Brasília. No começo dos anos 2000, começou como catador de materiais recicláveis em uma cooperativa chamada 100 Dimensão. Foi ali que Rônei se politizou. Foi um dos fundadores da Centcoop, que é o que os catadores chamam de cooperativa de segundo grau - isto é, uma entidade que não tem pessoas físicas como associadas, apenas outras cooperativas.

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Retorno às aulas

Enquanto trabalhava como catador na 100 Dimensão, Rônei cursou o supletivo para o ensino fundamental e depois para o ensino médio - na juventude, chegou apenas à 5.ª Série. Largou depois de repetir cinco vezes. "Eu falei: estudar não é pra mim. Eu sou burro (..). Só depois de velho fui descobrir que tinha dislexia e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Minha cabeça é um saco de gato. Fico pensando 242 coisas ao mesmo tempo", diz. "Nessa idade, eu lidava melhor com o TDAH e com a dislexia. Eu aprendi que precisava sentar na primeira fileira. Porque se eu ficar uma cadeira para trás vou prestar atenção em qualquer outra coisa", diz.

O curso de Direito começou por iniciativa de uma ex-namorada. "Ela ficava me perguntando 'Se você tivesse que fazer uma faculdade, o que seria?'. Um dia, disse a ela que faria aquele (curso) para ser advogado'. Eu nem sabia o que era Direito. E aí depois ela apareceu para mim com a inscrição no vestibular feita e já paga", conta.

Por falta de dinheiro, Rônei demorou pouco mais de dez anos para concluir o curso de graduação na Universidade Católica de Brasília (UCB), uma das mais tradicionais da capital. A graduação envolveu sacrifícios como um empréstimo obtido pela mãe e várias renegociações com a instituição.

Recentemente, o catador foi aprovado na primeira fase da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), requisito para que uma pessoa formada em Direito possa exercer a advocacia. Na segunda fase, discursiva, foi reprovado por apenas 0,25 ponto - mas disse que vai continuar estudando. "Tenho fé e na próxima eu passo."