quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A última e a próxima taxa do PIB


O Estado de S. Paulo - São Paulo/SP - OPINIÃO - 05/09/2013 - 02:05:00

Roberto Macedo * - O Estado de S.Paulo
O produto interno bruto (PIB) brasileiro é também avaliado trimestralmente. Sua última variação, do trimestre passado, mostrou aumento de 1,5% relativamente ao primeiro trimestre do ano. Para ter uma ideia da bondade dessa notícia, se a mesma taxa se repetisse por mais três trimestres, levaria a um crescimento de 6,14% em 12 meses, hoje considerado impossível por 100% dos economistas brasileiros e estrangeiros de olho neste país.
O resultado surpreendeu até o ministro Guido Mantega, que previa crescimento perto de 1% no trimestre. Dada a taxa 50% maior, ele se empolgou e disse: "O pior já passou. O fundo do posso foi superado (...)".
Infelizmente, o pior ainda não passou. Fundo de poço? Discordo, pois a economia não afundou em lugar algum. A taxa do PIB deste ano deve continuar positiva, ainda que medíocre, pois previsões mais recentes a calculam entre 2% e 2,5%. Nossa economia lembra mais um avião sem potência para voar mais alto e sujeito a turbulências ao passar pelas muitas nuvens ainda presentes no cenário econômico interno e no externo.
Antes de prosseguir, devo dizer que sou da turma do quanto melhor, melhor. Quem me lê ou ouve sabe que muitas vezes critico o governo federal e sua política econômica. Mas já me entusiasmei com ela, como no período em que buscou reduzir a taxa básica de juros e estes em geral. Mas, infelizmente, ele não sustentou essa política, expansiva da demanda, com política fiscal na direção contrária. Resultado: mais inflação e retorno a sucessivos aumentos da taxa básica de juros.
Também me entusiasmei quando a presidente anunciou, em agosto de 2012, um grande programa de expansão de rodovias e ferrovias via concessões ao setor privado, mesmo que turbinado por participações e financiamentos estatais. Contudo esse anúncio fez seu primeiro aniversário com lamentações pelo estado de saúde do programa, que ainda não deslanchou.
A próxima taxa do PIB, a deste trimestre, deverá vir perto do final de novembro, mas vários dados dos seus dois meses já passados, juntamente com outras percepções de grande número de analistas, indicam a perspectiva de turbulência nesse período.
Merece destaque a situação da indústria. Seu produto havia crescido 2% no segundo trimestre e contribuído fortemente para a referida taxa de 1,5% do PIB como um todo. Mas, conforme o IBGE revelou anteontem, a produção industrial caiu 2% em julho. Olhando taxas mensais do desempenho do setor, vi que oscilaram entre negativas e positivas perto de 2%. Neste ano foram positivas em janeiro, março, abril e junho; negativas em fevereiro, maio e julho. Soube ainda de sinais de acumulação indesejável de estoques na indústria, que pode ser prenúncio de menor ritmo de produção.
A agropecuária, que também atuou para a "salvação da lavoura" do PIB no segundo trimestre, com sua produção então subindo 3,9%, agora, neste terceiro, ingressou em período de entressafra agrícola. A agropecuária tem pequena participação no PIB, perto de apenas 5%. Mas o agronegócio, no total, tem cerca de 22%, com o que o impacto da agropecuária se expande, como na indústria. Por exemplo, a produção de tratores de rodas aumentou 18,3% e a de colheitadeiras, 19,4%, nos primeiros seis meses do ano relativamente a igual período de 2012, segundo a associação que reúne seus fabricantes, a Anfavea. Esse ímpeto deverá diminuir, pois a safra vindoura deverá ter crescimento menor que a de 2013, que foi recorde e comparada à de 2012, ano em que foi ruim.
Quanto à taxa de câmbio, teve sensível aumento e levará a um efeito inflacionário que o Banco Central provavelmente enfrentará com mais aumentos da taxa básica de juros. Ele restou como único guardião do poder aquisitivo da moeda, já que a área fiscal do governo atua na contramão. Além do aumento, a taxa cambial mostra-se volátil.
Se o leitor fosse um empresário ou consumidor afetado negativamente pela taxa de câmbio e pela de juros, como reagiria diante dessas circunstâncias? Por essa razão, além de outras, índices de confiança de consumidores e empresários mostraram queda nos últimos meses, com danos à disposição de investir e consumir.
Passando ao mercado de trabalho, há meses o formal mostra menor dinamismo na geração de empregos. E há o índice de desemprego do IBGE, que abrange também o informal das seis maiores regiões metropolitanas. Ora, taxas mensais desse índice para o conjunto dessas regiões ultrapassaram seus valores no ano anterior em junho e julho passados. Essa ultrapassagem não era observada desde 2009, quando a crise econômica mundial que eclodiu em 2008 mostrou seus efeitos mais fortes. Felizmente, as taxas de desemprego são hoje menores, mas a perspectiva não é mais de queda.
O que fazer? Há economistas que só se preocupam com a estabilização da economia diante de turbulências fiscais, inflacionárias e cambiais. Os que se preocupam também em fazê-la crescer, para aumentar a potência do avião a que me referi e fazê-lo voar mais alto, propõem que tudo seja feito para aumentar a taxa de investimentos da economia. Particularmente quando os estímulos que vêm de fora e da expansão do crédito interno são muito menores do que em meados da década passada.
Mas temos um governo federal que arrecada demais, investe pouquíssimo e está mais centrado em medidas populistas de cunho eleitoreiro. Assim, fica sem recursos e cabeça para mais investimentos públicos em infraestrutura física e social, esta como no transporte urbano de passageiros. Muito dos investimentos que faz não andam, e não consegue deslanchá-los mesmo convocando o setor privado para concessões e parcerias público-privadas. Enquanto não reverter esse caminho, o avião da economia continuará voando baixo e sujeito a turbulências como as que neste trimestre já se delineiam no radar.
*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor associado à FAAP e consultor econômico de ensino superior.

Brasil cai para 56º lugar em ranking de competitividade

Gustavo Porto - Agencia Estado
SÃO PAULO - A falta de infraestrutura básica, o pessimismo do empresariado e a deterioração macroeconômica estão entre os fatores que levaram o Brasil a cair, de 2012 para 2013, da 48ª para a 56ª posição dos 148 países analisados no Relatório Global de Competitividade, editado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF).
O documento, feito em parceria no Brasil com a Fundação Dom Cabral (FDC) e o Movimento Brasil Competitivo (MBC), foi divulgado nesta terça-feira, 3, e, com o resultado, o Brasil volta à posição de 2009.
O coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral e responsável pela análise dos dados brasileiros do ranking, Carlos Arruda, destaca dois pontos para a queda do Brasil na lista.
"O primeiro, é absoluto, como o pessimismo demonstrado pelos empresários. O segundo é relativo, como a melhora no quadro inflacionário entre 2012 e 2013, mas que foi menor que a de outros países", disse. "Ou seja, mesmo onde avançou marginalmente, o Brasil perdeu porque outros melhoraram", completou Arruda.
Criado na década de 1980, o relatório combina dados estatísticos nacionais e internacionais com os resultados de uma pesquisa de opinião com executivos. No Brasil, foram 2 mil entrevistados. O estudo avalia as condições oferecidas por um país para que as empresas nele operantes tenham sucesso no contexto nacional e internacional, promovam o crescimento sustentável e a melhoria nas condições de vida de sua população.
É o segundo resultado negativo em rankings de competitividade para o Brasil neste ano. Em outro levantamento, divulgado em maio pelo International Institute for Management Development (IMD), também em parceria com a Fundação Dom Cabral, o País ficou em 51º lugar entre 60 países avaliados.
A Suíça liderou a lista das economias mais competitivas pelo quinto ano seguido no ranking do WEF e, em 2013, foi seguida por Cingapura e Finlândia, assim como no levantamento anterior. Alemanha e Estados Unidos completam os cinco primeiros postos.
Dos cinco países dos Brics, a China (29ª) segue líder, seguida pela África do Sul (53ª), Brasil (56ª), Índia (60ª) e Rússia (64ª). Nos Brics, somente a Rússia melhorou a posição no ranking, subindo três colocações. O Brasil teve a queda mais brusca, África do Sul e Índia caíram uma posição e a China manteve a colocação de 2012.
Na América Latina, o Brasil ficou atrás, do Chile - que, na 34ª posição, lidera o ranking regional -, do Panamá (40ª), Costa Rica (54ª) e México (55ª). A Argentina foi o país do Hemisfério Sul que teve a maior queda, de dez posições, para 104ª. A Venezuela caiu para a posição 134. Segundo o relatório, os dois países apresentam um quadro crítico em seus fatores institucionais e macroeconômicos.
Setorialmente, o Brasil apresentou resultados decepcionantes em 11 dos 12 pilares para o desenvolvimento avaliados, principalmente no item "Eficiência do Mercado de Bens", onde recuou 19 posições, para a 123ª. Esse item avalia, por exemplo, questões regulatórias, como o impacto alfandegário nas exportação de bens e tarifas no comércio internacional. "Nas questões regulatórias, que é avaliação dos empresários, o Brasil ficou em 139º lugar em 148 países; nas tarifas internacionais, um dado estatístico, está em 126º lugar", explicou Arruda.
O melhor desempenho do Brasil nos itens avaliados e o único onde o País não perdeu posições do ano passado para cá é o "Tamanho do Mercado", ficando em nono lugar. No entanto, segundo Arruda, o dado positivo é ofuscado pelos outros indicadores. "Em todos os dados de infraestrutura básica, como estradas e portos, o País está entre os piores do mundo."

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Na prisão, lavar roupa e cozinhar


Personagem central do mensalão, José Dirceu diz a pessoas próximas que vê regime fechado como inevitável e já calcula como reduzir seu drama

04 de setembro de 2013 | 2h 21

FELIPE RECONDO / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
José Dirceu já fez e refez mentalmente os cálculos de quanto tempo passará trancado caso o Supremo Tribunal Federal rejeite os recursos de seus advogados.
10 anos e 10 meses é o total da pena de José Dirceu no mensalão - Daniel Teixeira/AE
Daniel Teixeira/AE
10 anos e 10 meses é o total da pena de José Dirceu no mensalão
A matemática do primeiro ministro da Casa Civil do governo Lula, personagem-símbolo do mensalão, condenado a 10 anos e 10 meses de detenção por comandar o esquema, é a seguinte: ele tem direito a pedir progressão de regime para o semiaberto - em que é obrigado a apenas dormir na cadeia - após um sexto da pena, mas quer cozinhar e lavar roupa na prisão para adiantar em seis meses esse benefício.
Assim, chega ao seu tempo de cárcere: 1 ano e 4 meses.
O petista tem dito aos mais próximos que não acredita num novo julgamento pelo Supremo, algo que lhe daria a chance de diminuir sua pena.
Diz, segundo relatos, que gostaria de ficar preso nas proximidades de Vinhedo, cidade onde mora, como no Centro de Ressocialização de Limeira, a 151 km da capital paulista.
Mas afirma que outra alternativa seria cumprir a pena no presídio de Tremembé, a 147 km de São Paulo, onde diz que a presença de integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) reduz o risco de rebeliões.
Nos últimos dias, Dirceu passou a se preparar para a prisão e a pensar como fará para se comunicar, para escrever e continuar a fazer política. Tem dito que já imaginava um resultado ruim quando o Supremo, seis anos atrás, recebeu a denúncia do Ministério Público Federal e abriu a ação penal contra 40 pessoas - 25 acabaram condenadas.
O ex-ministro tem afirmado ainda que desconfia que o tribunal possa decretar as prisões imediatamente, logo após o julgamento dos primeiros embargos de declaração, que devem ser concluídos hoje - normalmente, os ministros do STF mandam prender os condenados após uma segunda leva de recursos.
Entrevista. Nesse cenário de prisão imediata, Dirceu diz que concederá uma entrevista coletiva, apresentará documentos que mostrariam não ter havido desvio de dinheiro público do Banco do Brasil para o mensalão, tese que contraria o entendimento do STF, se autodeclararia preso político e aguardaria, em casa, a prisão pela Polícia Federal.
Os próximos passos seriam o pedido de revisão criminal no Supremo, quando ministros podem corrigir eventuais erros no julgamento e reduzir as penas, e um recurso à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Dirceu aposta que o julgamento televisionado, sob pressão da opinião pública e em única instância, será visto como de exceção no plano internacional. Nos dois casos, não há perspectiva, porém, de reverter a prisão. O objetivo seria uma "anistia política", um plano para "5 ou 10 anos", como afirma a pessoas próximas a ele.
Carta. Dirceu confidenciou a amigos que pretende publicar uma carta aberta ao ministro Celso de Mello, buscando rebater as acusações que diz ter sofrido.
Na semana passada, em seu voto, Celso de Mello afirmou que o ex-ministro não soube exercer a política com honestidade e integridade e que cometeu crimes para obter vantagens para si.
"O STF, longe do que se buscou afirmar, não incriminou a atividade política. É importante enfatizar que não se está a incriminar a atividade política, mas isto sim a punir aqueles, como o ora embargante (José Dirceu), que não se mostraram capazes de exercê-la com honestidade, com integridade e elevado interesse público, preferindo, ao contrário, longe de atuar com dignidade, transgredir as leis penais com o objetivo espúrio de conseguir vantagens indevidas e de controlar de maneira absolutamente ilegítima e criminosa o próprio funcionamento do aparelho de Estado", disse Celso de Mello em seu voto ao julgar o recurso de Dirceu na semana passada.
A relação entre Dirceu e Celso de Mello remonta ao tempo em que moraram na mesma pensão, quando eram estudantes universitários. Os dois, no entanto, nunca foram próximos.