sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Rui Falcão: PT, 33


15/02/2013 - 03h30
Tendências / DebatesSão tantos os desafios que o Partido dos Trabalhadores enfrentará em 2013 que corremos o risco de não celebrar com a merecida importância a chegada dos nossos 33 anos, que aconteceu no domingo, dia 10 de fevereiro. Se, por um lado, ainda estamos eufóricos com uma vitória maiúscula nas urnas no último pleito, não podemos sucumbir à tentação da euforia e subestimar os imensos obstáculos a transpor.
A luta para transformar o Brasil num país a cada dia mais justo, fraterno e plenamente desenvolvido nunca foi fácil, e não temos a ilusão de que vá assim se tornar. Temos muitos aliados, mas também inimigos poderosos.
Em 2013, comemoramos os dez anos de governo democrático e popular na Presidência da República. Trata-se da coroação de uma política que construímos desde 1979, implementada com estrondoso sucesso pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora, a presidenta Dilma Rousseff, com o apoio da nossa base aliada. Honra-nos o fato de que até nossos críticos reconhecem os avanços que nossos governos trouxeram para o país.
Mantemos desde o início o foco em combater as desigualdades sociais. Desde que chegamos ao poder, demonstramos que é possível colocar na prática o propósito que sempre nos norteou. Milhões de brasileiros deixaram a linha da pobreza. A autoestima do povo brasileiro foi recuperada. Hoje, ele é protagonista de um novo tempo e de uma nova história.
Priorizando os mais pobres, nossos governos expandiram a economia do país, gerando mais de 18 milhões de empregos formais, aumentando significativamente a renda dos trabalhadores, gerando inclusão social e diminuindo o flagelo da miséria. A inflação foi controlada, diminuímos a relação entre a dívida e o PIB e a vulnerabilidade externa, além de passarmos de devedores para credores do FMI.
Veridiana Scarpelli/Folhapress
Comemoramos ainda o fato de o Brasil ter mudado de patamar no cenário internacional. Sob a liderança de Lula e Dilma, hoje somos respeitados como potência econômica e referência quando se fala sobre diminuição das desigualdades.
Quando o concerto das nações discute o futuro da África, a questão palestina e os rumos da América Latina, as vozes do operário que chegou à Presidência e da mulher que galgou o mais importante posto da República sempre ressoam mais alto. Nenhum outro mandatário brasileiro obteve tanta respeitabilidade no exterior quanto os dois.
Como se vê, os motivos para comemorar os 33 anos do PT são muitos. Destaco com especial carinho o fato de o nosso partido ter eleito a primeira mulher presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. Sob sua enérgica batuta, o país reduz juros, diminui os preços de energia, amplia o emprego, enfrenta as carências históricas na área de infraestrutura, sem deixar de lado a prioridade nos investimentos para educação e assistência social.
O ano de 2013 será especial para o PT. Nele, vamos intensificar a luta pela reforma política, promovendo uma campanha de coleta de assinaturas para implementar, entre outros pontos, o financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais.
Vamos também manter nossa luta pela ampliação da liberdade de expressão, focando principalmente na regulamentação dos artigos da Constituição que tratam do assunto.
Outra agenda do PT que torna 2013 um ano essencial para nós é a preparação --paralelamente às eleições diretas dos novos dirigentes partidários-- do nosso quinto Congresso Nacional, marcado para fevereiro de 2014. Vamos debater nossos erros e acertos e focar os desafios para chegarmos a uma sociedade socialista e democrática.
Enfim, o PT completa esses 33 anos pronto para se apresentar renovado para o futuro.
RUI FALCÃO, 69, é presidente nacional do PT e deputado estadual em São Paulo

Na moral, por Nelson Motta - O Estado de S.Paulo

"Parei minha moto no shopping, roubaram a tampa da válvula do pneu. Tinha uma ótima tesoura Tramontina para tosar cachorros, mas alguém que esteve na minha casa a trocou por uma de pior qualidade. O médico me mandou tirar radiografia desnecessária só para gastar dinheiro do plano de saúde. Minha revista semanal sumiu na portaria do prédio."

A prosaica semana de um leitor carioca, tão banal e parecida com a de milhões de brasileiros de todas as classes sociais que são vítimas constantes de pequenos (e grandes) roubos e malandragens públicos e privados, mostra como isto está arraigado na nossa cultura, atravancando o crescimento do nosso IDH, por mais que se invista em educação, tecnologia e infraestrutura. 

Será que estamos condenados para sempre a essa cultura nefasta? Ou já foi pior e aos poucos está mudando por força da lei, da polícia e da Justiça? E dos bons exemplos que se espalham na mídia e nas redes sociais, embora os piores exemplos venham justamente dos que têm por obrigação a conduta exemplar: os políticos que fazem do Congresso uma das instituições mais desmoralizadas diante da população. 

Tudo bem, o Brasil está rico, poderoso, solidário, mas 43% dos alfabetizados não sabem ler, mais da metade das cidades não tem esgoto tratado, 1/3 das Câmaras Municipais - e do Congresso Nacional - estão nas mãos de processados ou condenados pela Justiça. Não é uma questão de ideologia, é de uma cultura, que não muda com leis, programas ou verbas, mas com o tempo e os exemplos que vêm de cima e de fora, em casa e no trabalho. Moralismo otário? Ou exigência do desenvolvimento social?

Nos anos 60, acreditava-se que a revolução castrista não só transformaria a política, a economia e a cultura em Cuba, mas criaria o "novo homem cubano", limpo, livre e solidário, mas hoje os furtos, transgressões e malandragens se tornaram um modo de vida na ilha, pela nobre causa de comer todo dia.

Não bastam a economia, a educação e a tecnologia, é o exercício dessas leis não escritas - porque todos conhecem - que vai tornar melhor, ou pior, viver em um país rico e sem miséria. Na moral. 

Força em movimento, por Dora Kramer


Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Até a última contagem já tinha ultrapassado a casa do 1,5 milhão, e não parava de aumentar, o número de adesões a um abaixo-assinado que corre na internet com a finalidade de levar ao Senado um pedido de impeachment contra o presidente da Casa, Renan Calheiros.

Tecnicamente, já seriam assinaturas suficientes para criar um partido (cerca de 500 mil) ou para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para o Congresso - é preciso que no mínimo 1% do eleitorado de pelo menos cinco Estados assinem, hoje algo em torno de 1,4 milhão, considerando os cerca de 139 milhões de eleitores brasileiros.

Objetivamente, porém, o movimento não tem efeito. Nada a ver com a mobilização que levou à aprovação da lei da Ficha Limpa em 2010.

Interrupção de mandatos de congressistas não estão entre os objetos de iniciativas populares, bem como entre os motivos para perda de mandatos de deputados e senadores listados no artigo 55 da Constituição não está o desejo de milhares ou milhões de cidadãos, expresso em abaixo assinado. Virtual ou não.

Os criadores do movimento sabem disso. Tanto que avisam que o que pretendem é criar um fato político. "Fazer confusão" e chamar atenção para a deformação de se ter na presidência do Senado um parlamentar investigado em diversos inquéritos e recentemente denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal por desvio de dinheiro público e utilização de documentos falsos.       

Há duas maneiras de ver esse episódio. A pessimista, que também poderia ser chamada de realista, encara isso como uma brincadeira inconsequente devido às ínfimas chances de o Senado se sensibilizar e decidir abrir outro processo por quebra de decoro parlamentar - por ora o único instrumento possível para se afastar Calheiros do posto para o qual acabou de ser eleito.

O outro modo de se olhar o protesto aparentemente inócuo  é sob a perspectiva otimista de que há forças em movimento. Não daquela maneira que incentivou o Congresso a aprovar o impeachment de Fernando Collor, que acabou levando à Anistia, ao apelo por eleições diretas, ao fim do regime militar: as grandes mobilizações de rua.

Agora há um novo jeito: por meio da internet. Parece algo acomodado, mas talvez assim pareça apenas por falta de costume e de mecanismos que, ao mesmo tempo, validem os protestos e sirvam como canais de transmissão até as instâncias onde possam ser materializados.

Nesse caso de Renan Calheiros, não há prejuízo concreto que possa lhe ser imposto pelo ato do abaixo-assinado. Mas o Congresso terá de se dar ao trabalho de ouvir o barulho e à desfaçatez de ignorá-lo.         

Capital inicial. Correm de novo no mundo político versões sobre fusões entre partidos. 

A fim de não incorrer em perda de tempo, quando se ouvir falar nesse assunto, convém levar em conta um dado: em princípio a legenda nenhuma interessa incorporar-se a outra.

Se extintas, não têm acesso ao dinheiro do Fundo Partidário, dão adeus ao tempo de propaganda no rádio e na televisão (instrumento de negociação sempre tão útil em anos eleitorais) e perdem prerrogativas congressuais destinadas exclusivamente a partidos com representação no Legislativo.

Picolés de chuchu.  O PSDB já prepara o primeiro acontecimento para pôr na rua o bloco da candidatura presidencial do senador Aécio Neves: uma série de palestras que sirvam como instrumentos de reflexão sobre "temas contemporâneos".

Enquanto isso, Dilma Rousseff reativa o palanque de 2010, Eduardo Campos abre alas e pede passagem para 2014 e Marina Silva lança um novo partido com foco na conquista da moçada cansada da guerra de lideranças antigas.