segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A internet e a urna em 2012


01 de agosto de 2011 | 0h 00
José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
Inversão de papéis: uma pesquisa qualitativa em que os entrevistados foram os pesquisadores. E na casa deles: a sede do Ibope em São Paulo, na última quinta-feira. O tema: o papel da internet nas eleições municipais de 2012. A conclusão? A rede vai influenciar ainda mais o resultado das urnas e o comportamento do eleitor no próximo ano do que já influiu em 2010, entre muitos outros insights.
O encontro foi organizado por Silvia Cervellini, diretora do Ibope Inteligência, a pedido do Estado. Silvia é autora de um dos mais interessantes estudos sobre a eleição de 2010, apresentado no congresso anual da Associação Mundial de Pesquisa de Opinião (Wapor). Junto com Malu Giani e Patrícia Pavanelli (ambas pesquisadoras do Ibope), ela demonstrou como o voto religioso, impulsionado pela discussão sobre legalização do aborto na internet, moldou a reta final da campanha presidencial.
Além das três, participaram do focus group sobre internet, política e eleição dois outros pesquisadores do Ibope que apresentaram trabalhos diferentes sobre o tema no congresso da Wapor: João Francisco Resende e Rosi Rosendo. Para temperar o debate, o Estado entrevistou o jornalista Caio Túlio Costa, que dirigiu dois dos maiores portais brasileiros (UOL e iG) e foi o arquiteto da bem-sucedida campanha de mídia digital de Marina Silva na eleição presidencial de 2010.
As conclusões a seguir, especialmente se equivocadas, são de responsabilidade do autor. Eventuais méritos são dos entrevistados.
O que. Com mais eleitores online e participando de Orkut, Facebook, Twitter e Google Plus, entre outras redes, a influência da internet tende a aumentar. Os novos hábitos de troca de informações aumentam a virulência dos boatos e notícias. Mesmo quando o fenômeno começa no "mundo real", ele reverbera e é ampliado pela internet. Os casos da "legalização do aborto (Dilma)" e da "bolinha de papel (Serra)" em 2010 são exemplos disso.
"É muito mais fácil atingir um público local", diz Caio Túlio. Mas a influência deve variar de local para local: "Depende muito da infraestrutura da banda larga. Se não será decisiva, (a internet) será um pouco mais decisiva".
Onde. As cidades onde maiores parcelas do eleitorado está online são as mais aptas à internet ter um papel decisivo. Mas não depende só disso. Onde já existem redes pessoais, comunidades atuantes e organizadas, a internet potencializa a mobilização eleitoral. Já para Caio Túlio, "nos grandes centros, tudo indica que a internet será muito mais usada e ajudará muito mais do que ajudou até agora na conquista de votos".
Como. Nas cidades conectadas, os principais instrumentos devem ser: monitoramento de redes sociais, blogs, mobilização via Facebook (que cresce exponencialmente e começa a atingir a classe C), Orkut e Twitter (outras redes podem aparecer ou aumentar em influência até a eleição, como o Google Plus). A magia negra do SEO (técnica que influencia os resultados de buscas em mecanismos como o Google) pode ser usada para beneficiar um candidato ou prejudicar o adversário, associando-o a um fato negativo. O celular, que encontra o eleitor onde ele estiver, também é peça-chave, mas precisa ser usado com moderação para não saturar.
"A internet fura a espiral do silêncio dos meios de comunicação", diz Silvia Cervellini. Temas que normalmente ficam de fora da cobertura dos jornais, rádio e TV aparecem na rede e ampliam o debate, especialmente questões de interesse local. Alguns fazem tanto barulho que acabam pautando os meios de comunicação tradicionais. Isso pode mudar a agenda da campanha municipal em algumas cidades.
"(A internet) será mais usada especialmente na arrecadação de doações de pessoas físicas - que não será espetacular, por conta de características culturais", prevê Caio Túlio.
Quem. Praticamente todas as campanhas terão gente dedicada a mobilizar via internet ("custo é muito baixo"). Mas isso não é tarefa fácil. "É preciso entregar um conteúdo relevante no momento certo", diz Silvia, ou a campanha online pode se voltar contra o candidato, como já se voltou contra algumas empresas que se arriscaram a fazer marketing via blogs e redes sociais sem ter uma boa estratégia.
Por isso, não é trabalho para amadores. "Há experiência que pode ser copiada e disseminada. Mas a maior dificuldade será encontrar profissionais capazes de dedicação exclusiva e inteligente para realizar campanha na internet para cada candidato. Campanha online não é "commodity" nem "prêt-à-porter", é "taylor made" (sob medida)", diz Caio Túlio.
Consequências. Outsiders, candidatos pouco conhecidos e zebras passam a ter mais chances, porque dispõem de uma plataforma de grande penetração e comparativamente barata para alcançar os eleitores. Dependem de um bom discurso (relevância) e de uma boa estratégia (oportunidade). Podem fazer isso desde já, driblando as limitações da legislação, se conseguirem cativar comunidades já existentes na rede e fora dela. Atrair para o debate eleitoral os eleitores 2.0, aqueles jovens com perfil semelhante ao dos "indignados" espanhóis, que estão descontentes com a forma tradicional da política - desde a polarização PSDB x PT até a maneira de cima para baixo para como as decisões são tomadas.
Aumentam o potencial para surpresas e a velocidade das mudanças na corrida eleitoral. Os eleitores online tiveram intenção de voto muito mais volátil na eleição de 2010. Subidas e quedas abruptas ficam mais prováveis, principalmente na reta final. 


O Brasil em melhor posição no mercado de petróleo


17 de julho de 2011 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo
O Brasil deverá produzir, no ano que vem, 2,4 milhões de barris de petróleo por dia, segundo o Oil Market Report, da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), distribuído quarta-feira. Haverá um acréscimo de 175 mil barris/dia, em relação a este ano, e o País será o maior responsável pelo aumento da oferta de petróleo na América Latina, estimado em 270 mil barris/dia.
O acréscimo da produção virá, em especial, das novas áreas de desenvolvimento em águas profundas, "incluindo volumes da camada pré-sal". Os gráficos publicados pela IEA indicam já neste semestre um aumento da extração de petróleo brasileiro.
Em 2012, será maior o peso dos países que não são membros da Opep (o cartel dos exportadores) e que deverão aumentar a produção em 0,9 milhão de barris/dia, contribuindo para o equilíbrio do mercado global. Em destaque estão o Brasil e também o Canadá, a Austrália, a Colômbia, a China e o Iêmen.
A produção mundial de petróleo atingiu 88,3 milhões de barris por dia, no mês passado, com crescimento de 1,2 milhão em relação a maio, enquanto a demanda média deste ano é calculada pela IEA em 89,5 milhões de barris. Não há surpresa, portanto, na manutenção de cotações elevadas da commodity, próximas de US$ 95 para o barril do tipo WTI e de US$ 116 para o do tipo Brent, apesar das flutuações conjunturais.
Na quinta-feira, o presidente do Fed, Ben Bernanke, anunciou que não haverá medidas adicionais de estímulo à economia - que costumam encorajar a alta dos preços das commodities. (Mas, anteontem, as cotações do WTI e do Brent voltavam a subir, respectivamente, para US$ 97,24 e US$ 117,26 o barril, no mercado futuro de agosto.) Há um ano, os preços dos dois tipos oscilavam entre US$ 70 e US$ 80.
O aumento da produção de óleo bruto, combinado com preços elevados, tende a favorecer o Brasil, em 2012, sobretudo se houver mais equilíbrio entre oferta e demanda de álcool, evitando que continue a tendência de troca do álcool pela gasolina.
O Brasil, alertam os técnicos da IEA, enfrenta problemas com o aumento dos custos e com dúvidas acerca da capacidade da indústria de suprimentos e de serviços de "atender ao cronograma de um ambicioso projeto com conteúdo local obrigatório". O relatório também registra que a Petrobrás, recentemente, adiou de novo a publicação do plano de negócios 2011-2015, "supostamente por disputas sobre os custos" e pelos temores do governo quanto a "preços mais elevados para a gasolina e inflação". 


''É preciso uma nova grande concepção''


Ao completar 80 anos, o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso insiste em cobrar do governo um plano de desenvolvimento

17 de julho de 2011 | 0h 00

Alexandre Rodrigues e Fernando Dantas / RIO - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA
Wilton Junior/AE
Wilton Junior/AE
Perspectiva. João Paulo dos Reis Velloso, que comemora 80 anos: 'É preciso levar o conhecimento a todos os segmentos da sociedade, para evitar exclusões'
João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento, coordenador do Fórum Nacional / Instituto Nacional de Altos Estudos
Num constante diálogo entre o passado e o futuro, o economista João Paulo dos Reis Velloso completou 80 anos na semana passada. Ministro do Planejamento nos governos de Emílio Garrastazu Médici e de Ernesto Geisel, entre 1969 e 1979, Reis Velloso experimentou a euforia do milagre brasileiro e a frustração da crise do petróleo em sua década de poder. Fundador e primeiro presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), não quis se aventurar na política partidária, mas se integrou à democracia numa espécie de militância por um projeto de País.
À frente do seu Fórum Nacional, não deixa faltar sugestões. Com a fala pausada que lhe é característica, não costuma ouvir recusas a um convite para os debates que organiza. Respeitado por economistas de todas as tendências, faz questão de registrar o telefonema recebido do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto no dia do seu aniversário. Logo depois de receber o Estado para uma entrevista, abre os braços para receber outros parabéns, dessa vez da atriz Fernanda Montenegro, que o espera em sua antessala atendendo ao seu chamado para pensar alternativas econômicas para o teatro.
Apaixonado pelas artes, planeja para o livro que está escrevendo o mesmo título de um filme. Em A solidão do corredor de longa distância, retoma o preciso diagnóstico de que o Brasil ainda não conseguiu subir no pódio do desenvolvimento.
Por que o título do novo livro?
O Brasil era um corredor (solitário), mas isso não foi suficiente para nos tornar um país desenvolvido. A China ainda não havia acordado. Era preciso continuar correndo àquele ritmo. Só que depois houve uma transição, de 1979 a 1984, e em 1985 tivemos o início da geração que nunca viu o País crescer em termos de renda per capita. Houve o plano Cruzado e depois a inflação bárbara. Logo em seguida veio o choque dos choques, o plano Collor. Felizmente, veio o plano Real e o Brasil fez do combate à inflação num valor universal. Crescimento e desenvolvimento, que são coisas diferentes, também devem ser valores universais.
Isso não aconteceu com o Plano Real?
Nos anos 90, houve importantes transformações, abertura da economia, métodos modernos de administração de empresas, mas não havia estratégia de desenvolvimento. (O ex-secretário de Estado americano Henry) Kissinger disse: "Países que não têm grandes concepções estão destinados ao fracasso". Nós tivemos três presidentes com grandes concepções: Getúlio Vargas, Juscelino (Kubitschek) e (Ernesto) Geisel. Não havia relação entre eles, inclusive no governo Geisel nós criticávamos certas coisas do Vargas e o Plano de Metas do JK, mas neles havia um projeto de Brasil. Outros foram governos de transição que fizeram mudanças suficientes para prosseguir naquela trajetória do corredor de longa distância. Por isso o Brasil não chegou a se tornar desenvolvido.
Por que não inclui Lula?
O governo Lula é uma coisa diferente. Ali é "Lula é nosso". As classes de mais baixa renda acham que o Lula está do lado deles, não foi só o Bolsa Família. Com Getúlio também era assim. Quando ele morreu, as forças que o apoiavam certamente perderiam a eleição. Se a UDN tivesse ficado quietinha, teria ganhado a eleição, mas cometeu a bobagem de forçar a barra e o Getúlio, que queria entrar para a História, se suicidou. No dia da morte dele, a situação mudou inteiramente. O Rio, lembro-me bem, estava repleto de gente nas ruas, chorando. Porque o Getúlio é nosso, se dizia. Assim é com Lula.
E o projeto de nação?
Vejo, como já disse, uma espécie de recriação do crescimento, mas é preciso vir agora uma nova grande concepção, definir o que será esse quarto grande projeto de Brasil. É o que digo ao governo.
A presidente Dilma poderá entrar na sua lista tríplice, apresentando um quarto projeto de País? Eu proponho que o atual governo seja o quarto com uma grande concepção de Brasil, porque temos as condições de fazer isso agora. Não há país no mundo que tenha as grandes oportunidades que o Brasil tem, em setores intensivos em recursos naturais e em grandes tecnologias do século 21. E há outra coisa, que é a economia do conhecimento. Tenho ali 30 livros sobre isso e fiz um modelo para o Brasil com duas dimensões. Primeiro, levar o conhecimento sob todas as formas a todos os setores da economia, para que não haja mais setores primários, de baixo conteúdo tecnológico. Hoje, é por isso que o agronegócio é supercompetitivo e aguenta até a taxa de câmbio que nós temos. Segundo, levar o conhecimento a todos os segmentos da sociedade, para evitar as exclusões. É fazer a inclusão digital, universalizar a educação de boa qualidade. É preciso usar a economia do conhecimento para aproveitar as oportunidades.
Vê no governo Dilma a capacidade de aproveitá-las?
Muitas dessas oportunidades já estão sendo aproveitadas, parcialmente. Quero que seja em grande escala. Por exemplo, o pré-sal. Será muito melhor aproveitado se for feito um complexo industrial em torno dele. O mesmo é a agroindústria. E o Brasil já tem a melhor matriz energética do mundo, com o potencial hidroelétrico e os biocombustíveis. Precisamos ainda desenvolver um transporte de massas à base de trilhos, que é o que se faz em toda parte do mundo. Essa base de ônibus é uma invenção brasileira, não existe em lugar nenhum.
Por falar nisso, o senhor é a favor do trem-bala?
Se você tem a ponte aérea, que leva trinta a quarenta minutos, isso não é competitivo. Vai custar uma fortuna. Acho que realmente é um trem fantasma. E pior: vai ocupar o leito da Leopoldina (linha férrea do Rio), em lugar de uma linha de metrô ou um trem de subúrbio.
O senhor é conselheiro do BNDES, que tem sido muito criticado. O banco está cumprindo seu papel no aproveitamento das oportunidades que o senhor cita?
Isso você tem de perguntar a eles. A função do conselho é dar orientações gerais, mas acredito que a diretoria do BNDES está consciente do que deve fazer. Quero deixar claro que considero importante apoiar os grandes grupos brasileiros para se internacionalizarem. Estamos em uma economia globalizada. Se você não tem grandes empresas, você não é competitivo. Agora isso não tem a ver com empresas que funcionam internamente...
Como supermercados, por exemplo?
Isso aí vocês se entendam com o BNDES, mas ele desistiu nesse caso (fusão Pão de Açúcar e Carrefour). O BNDES examina, pode aprovar ou não. Agora a ideia em si de apoiar empresas brasileiras a se internacionalizarem é importante. Em certos setores, como o de Tecnologia da Informação, um dos grandes problemas do Brasil é não ter grandes empresas. É preciso ter, para que sejam competitivas no mundo globalizado. O que os livros chamam de oligopólios competitivos.
Por que o senhor tem incluído temas como "sentido da vida" e "busca da felicidade" no Fórum Nacional?
O desenvolvimento é global ou não existe. É um desenvolvimento humanista, como aquele humanismo renascentista: econômico, social, político, ambiental, cultural e, eu acrescento, espiritual para quem quiser. O conhecimento é muito importante. Cria oportunidades e aumenta a liberdade do homem, dá mais alternativas. A cultura transforma. Quando fizemos um fórum com dez líderes de favelas, todas pediram cultura. O favelado é o sem Estado. De um lado, não há lei e ordem. Do outro, não há social. Tem de haver UPP, mas também centro de inclusão social, com qualificação para o trabalho, apoio a busca de oportunidades. E tudo isso para quê? Aquilo que você mencionou: o sentido da vida é a busca da felicidade.