domingo, 2 de março de 2025

Conta da popularidade erodida foi para o colo de Lula, Elio Gaspari, FSP

 Lula está com a popularidade erodida enquanto oito governadores vão bem. Um deles, Ronaldo Caiado, de Goiás, tem 86% de aprovação em seu estado e é candidato à Presidência.

Desde que o jacaré abriu a boca, surgiram inúmeras explicações, todas baseadas na realidade. Há mais uma: foi para Lula a conta de um governo travado, no qual ele ungiu dois superministros: Rui Costa, da Casa Civil, e Fernando Haddad, da Fazenda.

Deixando-se de lado o fato de que os dois não se bicam, Haddad ficou com as boas notícias da economia, passando adiante o espinho da carestia. Foi hábil, mas ela iria para outro colo e está no de Lula.

Com Rui Costa aconteceu o contrário. Ele aceitou a função de bedel do ministério, que lhe foi dada por Lula logo no início do governo.

Na imagem, duas figuras estão sentadas em uma mesa durante uma reunião. À esquerda, um homem de cabelo grisalho e barba, vestido com um terno cinza e gravata, segura um microfone. À direita, um homem com cabelo curto e terno escuro, usando uma gravata rosa, parece estar ouvindo atentamente. Ao fundo, estão visíveis as bandeiras do Brasil e do estado da Bahia.
O presidente Lula ao lado ministro Rui Costa (Casa Civil) durante reunião no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 03.out.2024/Folhapress

Ambos sonharam que a Casa Civil afunilaria o estudo das "ideias geniais" dos ministros. Isso só deu certo no governo do general Emílio Médici (1969-1974). A partir de 2024, resultou na transformação de Rui Costa em gerente da trava. A PEC da Segurança Pública travou? A criação da Autoridade Climática atolou? Tudo culpa do gaveteiro da Casa Civil.

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Quase todos os ministros garantem que têm ideias paradas na Casa Civil. Em alguns casos, Rui Costa teve ou tem pouco a ver com a trava.

A PEC da segurança não andou porque o ministro Ricardo Lewandowski acreditou em sonhos petistas. A Autoridade Climática está atolada porque Lula não quer encrenca com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente.

Lula não é Médici, Haddad não é Delfim Netto, e Rui Costa não é Leitão de Abreu, chefe da Casa Civil do general. E, mesmo se fossem, o Brasil de 2025 não é a ditadura dos anos 70.

A conta foi para o colo de Lula porque não tinha para onde ir.

ADVOGADOS E ENGENHEIROS

Censo de 2022 revelou que o Brasil tinha 2,5 milhões de advogados e 518 mil engenheiros. Somando-se os 553,5 mil médicos aos engenheiros, vê-se que existem dois advogados para cada um desses profissionais. Poucas estatísticas retratam tão bem um país que anda para trás.

A China tem 6,7 milhões de jovens em cursos de engenharia. Esse número supera os 4 milhões de brasileiros que têm diploma de curso superior. A China tem 1,4 bilhão de habitantes contra 211 milhões de brasileiros, mesmo assim, o sinal permanece, com os chineses andando para a frente.

Para piorar, o Censo mostrou que o Brasil tem 4 milhões de formados em gestão e administração. Isso se explica por diversos fatores, desde o custo das faculdades até os salários para quem sai da faculdade. Esses gestores e administradores cuidam de empresas numa economia que anda de lado.

Vale a pena olhar para trás.

Em 1886, na Alemanha, Karl Benz patenteou um veículo movido a gasolina. Nos Estados Unidos, o engenheiro Nikola Tesla obteve sua primeira patente e dois anos depois registrou seu motor de corrente elétrica alternada.

Em Pindorama, esse mesmo ano seria conhecido pelo vigor dos debates pela Abolição.

Nele, o advogado Inácio Martins apresentou um projeto que proibia o açoitamento de negros escravizados. Na sua discussão, apareceu o telegrama de um juiz do Vale do Paraíba que informava:

A cada um dos escravos condenados a 300 açoites, foram aplicados 50 de cada vez, nos dias em que se achavam em condições de sofrê-los sem perigo.

Segundo a opinião de dois médicos, estes açoites não concorreram absolutamente para a morte dos dois escravos. Tal é também o juízo das pessoas que viram o bom estado deles antes e por ocasião de serem entregues aos enviados de Valle. (Valle era um fazendeiro, dono dos negros.)

Grandes abolicionistas como Joaquim Nabuco e Luís Gama eram advogados. O Brasil andava para trás porque os projetos e as ideias de engenheiros como André Rebouças ficavam no papel.

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