segunda-feira, 17 de março de 2025

Direita e esquerda rezam juntas por Alckmin e Tarcísio em 2026, Juliano Spyer - FSP

 O governador de São Paulo é o candidato do coração de uma parte da direita. Também ouço pessoas de esquerda dizendo secretamente que estão torcendo por Tarcísio. E deveriam, pelo efeito que sua candidatura e a de Geraldo Alckmin terão junto aos evangélicos.

As duas últimas eleições presidenciais fizeram mal às igrejas evangélicas. Foi ruim com a vitória de Lula e teria sido pior se Bolsonaro tivesse sido reeleito.

Não é novidade que a maioria dos evangélicos é de direita ou, pelo menos, conservadora nos costumes. Por isso, a disputa principal nas igrejas em 2018 e 2022 não ocorreu com membros de esquerda, mas entre a direita radicalizada e um grupo igualmente numeroso que rejeita o uso político da religião. (Podemos chamá-los de órfãos do PSDB?)

A vitória de Lula em 2022 garantiu que a disputa cessasse nas igrejas; o resultado deixou uma sensação generalizada de derrota. O debate acalorado sobre política transformou-se em uma longa ressaca que, de certa forma, se perpetua. Mas o sentimento antiesquerda está hibernando. E despertará, dependendo dos candidatos de 2026, transformando novamente igrejas em células partidárias, como nas eleições presidenciais anteriores.

Evangélicos, assim como qualquer brasileiro, têm o direito de eleger candidatos que representem seus valores e visões de mundo. O problema surge quando a própria religião se torna uma arma de campanha política. Por exemplo, quando a igreja convida um candidato ao altar. A mensagem implícita é que votar contra ele seria um ato contra Deus.

Em 2022, Jair Bolsonaro e sua esposa foram apresentados no altar da Igreja da Lagoinha, nos EUA, em um evento transmitido ao vivo pelas redes sociais que repercutiu no noticiário. Outras organizações mais influentes também se envolveram na disputa, utilizando estratégias para passar o recado sem criar problemas jurídicos.

O governador Tarcísio de Freitas - Zanone Fraissat/Folhapress

A Congregação Cristã do Brasil, famosa por repudiar o envolvimento com a política, mudou de postura. Sua liderança circulou um comunicado a ser lido durante os cultos, recomendando aos fiéis que não votassem em candidatos ou partidos contrários à família ou aos princípios cristãos. (Pegou o código?) Essa organização tem 4,5 milhões de membros.

Há pelo menos dois pontos para contextualizar esse tipo de atitude, além da barreira cognitiva da esquerda para lidar com evangélicos. É equivocado afirmar que esse movimento ocorre apenas de cima para baixo, com pastores manipulando rebanhos alienados. Além disso, para muitos, não é Jair Bolsonaro que instrumentaliza as igrejas, mas Deus que usa Bolsonaro para seus propósitos.

Em muitas igrejas hoje, o debate político é desencorajado em nome da preservação da comunidade. Candidatos como Bolsonaro e Lula, que mobilizam paixões, romperão esse feitiço.

Tarcísio pode se posicionar como a opção para evangélicos que rejeitam Bolsonaro e preferem não votar na esquerda. E mais: como alguém que devolverá a tranquilidade a igrejas. Mas ele deve evitar a pecha de extremista que fica associada a quem comparece a eventos como o de domingo em Copacabana.

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