O endividamento da Raízen, braço produtor de açúcar e etanol e distribuidora da Cosan, do bilionário Rubens Ometto, atingiu seu pior patamar desde que a companhia abriu capital na Bolsa, em 2021. Hoje, seria preciso que a empresa fosse três vezes maior, em patrimônio, para o pagamento de sua dívida. É o que mostra levantamento da Elos Ayta Consultoria a pedido do Painel S.A.
O empenho da companhia para honrar seus compromissos é medido pela relação entre a dívida bruta e o patrimônio líquido, que, segundo a consultoria, atingiu 317,04% no quarto trimestre de 2024. Esse resultado, também recorde, equivale ao triplo da mediana de empresas do mesmo setor.
No quarto trimestre de 2024, a dívida bruta da Raízen foi de R$ 64,7 bilhões —a dívida líquida foi de R$ 54,8 bilhões.
Controladora da Raízen, a Cosan divulgou balanço na segunda (10) e reportou um prejuízo de R$ 9,4 bilhões no ano passado. Segundo a empresa, parte do resultado negativo se deve ao desempenho pior que o esperado da Raízen.
Consultada, a Raízen disse que não vai comentar.
Einar Rivero, fundador da Elos Ayta e responsável pelo levantamento, chama atenção para a dívida de curto prazo da companhia (com vencimento em até 12 meses). Para ele, o crescimento ocorre "de forma perigosa" por, após vários trimestres seguidos, continuar maior do que há disponível no caixa da empresa.
Rivero diz que isso não seria um problema se ela tivesse resultados financeiros satisfatórios, o que abriria possibilidades de refinanciamento. Para ele, o que torna a situação grave é a capacidade de pagamento dessa dívida, que está em um dos níveis mais baixos da história da companhia.
UMA DAS PIORES DO SETOR DE COMBUSTÍVEIS
Atualmente, a Raízen está gerando R$ 9 de lucro operacional a cada R$ 100 de dívida bruta, abaixo da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,25%. Geralmente, as empresas da Bolsa emitem no mercado títulos de dívida com taxas inferiores à Selic. Contudo, com resultados insatisfatórios e alto endividamento, o mercado está cobrando taxas mais altas da Raízen, dado o risco maior.
Rivero diz que a relação entre lucro e dívida por si só não é suficiente para medir a saúde financeira da empresa. Alguns setores costumam operar com uma alavancagem mais alta [uso de mais dinheiro do que a empresa tem disponível]. Mas até mesmo na comparação com outras companhias do setor de combustíveis da Bolsa a situação da Raízen é preocupante.
Num total de 13 empresas analisadas pela Elos Ayta, a capacidade da Raízen de pagar sua dívida só não é pior que a da Braskem. A relação lucro operacional pela dívida bruta da companhia de Rubens Ometto é de 9,11%, enquanto a mediana do setor é de 31,4%.
MOVIMENTO DE EXPANSÃO E JUROS PREJUDICARAM
Fabiano Vaz, analista da Nord Investimentos, diz que uma combinação de dois fatores levaram a Raízen a atingir esse grau de endividamento e alavancagem: um ciclo de investimentos elevado após a abertura de capital da companhia, seguido por um momento de forte alta dos juros.
"O que acaba sendo preocupante é que esse nível de endividamento atual é em meio a um cenário de juros mais elevados, que acaba prejudicando a lucratividade da empresa ao longo dos últimos trimestres", diz Vaz.
O analista afirma que é positiva a sinalização que a empresa tem dado ao mercado nos últimos meses de cuidar da alavancagem da companhia. Uma das saídas avaliadas é a venda de ativos. Vaz lembra, porém, que a Raízen tem muitos ativos que são difíceis de serem vendidos. "Esse é um grande desafio", diz.
A ação da Raízen negocia em um dos seus menores patamares de preço, a R$ 1,74. No mês passado, os papéis bateram R$ 1,65, a marca mais baixa de sua história.
A posição de Donald Trump em fortalecer a cadeia do petróleo nos EUA e as barreiras erguidas pela União Europeia ao etanol de segunda geração fizeram a empresa amargar forte queda na Bolsa.
Apenas neste ano, a empresa perdeu R$ 529,9 milhões em valor de mercado com a queda no preço da ação. Hoje a companhia vale R$ 2,36 bilhões.
Com Stéfanie Rigamonti
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