sexta-feira, 7 de março de 2025

O maior inimigo de Donald Trump ainda é Donald Trump, João Pereira Coutinho, FSP

 Como derrotar um líder populista?

A resposta é mais simples do que se imagina: deixando que o líder populista faça o seu trabalho. Historicamente falando, isso costuma ser a sepultura de políticos messiânicos que prometiam tudo e, no fim das contas, entregaram pouco ou nada.

Um homem está sentado em uma mesa, segurando um documento com uma assinatura visível. Ele está sorrindo e vestindo um terno escuro com uma gravata rosa. Ao fundo, há bandeiras e outros itens decorativos.
Donald Trump assinando uma ordem executiva no Salão Oval da Casa Branca - Mandel Ngan - 6.mar.25/AFP

Foi Takis Pappas, um dos especialistas no fenômeno, quem melhor escreveu sobre o assunto. No seu "Populists in Power", um ensaio notável para o Journal of Democracy que nunca foi tão atual, o cientista político define os quatro pilares onde assenta o populismo.

Em primeiro lugar, é preciso um líder carismático disposto a defender os interesses do povo contra as elites.

Em segundo lugar, o líder populista precisa de um clima de polarização política para crescer e prosperar.
Em terceiro lugar, ele tende a colonizar o Estado com fiéis servidores que são apenas um prolongamento do chefe, sem especiais competências para o cargo.

E, por último, a economia é vista como um instrumento para criar clientelas.

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Defende Pappas que o populismo entra em crise quando um desses pilares começa a rachar.

Se a economia derrapa, se os bajuladores não conseguem lidar com uma crise exógena (uma pandemia, por exemplo) ou se o carisma do líder se esfuma em corrupção ou abuso de poder, duas coisas podem acontecer: o líder populista é derrotado nas urnas (aconteceu no Brasil) ou, então, o regime avança para uma autocracia assumida (a Venezuela, por exemplo).

A análise de Pappas assenta como uma luva no segundo governo de Donald Trump. Líder carismático? Temos. Polarização política? Também. Colonização do estado por nulidades várias? Basta olhar.

E a economia? A obsessão do Donald pela mais bela palavra que existe —"tarifas", diz ele— promete punir com especial dureza o exato povo que ele prometeu proteger.

No mesmo dia em que o presidente americano discursava no Congresso, o Wall Street Journal fez as contas à sua loucura: tarifas são impostos, lembrava o editorial do jornal, e isso significa um agravamento fiscal de US$ 150 bilhões só neste ano.

Será que os americanos vão continuar aplaudindo o seu César quando tiverem de pagar mais pela fruta, pelos legumes, pelos automóveis, pelos aparelhos elétricos ou pela energia?

É uma boa pergunta. Que será respondida daqui a dois anos, nas "midterms" para o Congresso.
Moral da história?

Se os Estados Unidos não optaram pela via autocrática (sempre uma hipótese), o maior inimigo de Donald Trump continua sendo o próprio Donald Trump.


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