Como derrotar um líder populista?
A resposta é mais simples do que se imagina: deixando que o líder populista faça o seu trabalho. Historicamente falando, isso costuma ser a sepultura de políticos messiânicos que prometiam tudo e, no fim das contas, entregaram pouco ou nada.
Foi Takis Pappas, um dos especialistas no fenômeno, quem melhor escreveu sobre o assunto. No seu "Populists in Power", um ensaio notável para o Journal of Democracy que nunca foi tão atual, o cientista político define os quatro pilares onde assenta o populismo.
Em primeiro lugar, é preciso um líder carismático disposto a defender os interesses do povo contra as elites.
Em segundo lugar, o líder populista precisa de um clima de polarização política para crescer e prosperar.
Em terceiro lugar, ele tende a colonizar o Estado com fiéis servidores que são apenas um prolongamento do chefe, sem especiais competências para o cargo.
E, por último, a economia é vista como um instrumento para criar clientelas.
Defende Pappas que o populismo entra em crise quando um desses pilares começa a rachar.
Se a economia derrapa, se os bajuladores não conseguem lidar com uma crise exógena (uma pandemia, por exemplo) ou se o carisma do líder se esfuma em corrupção ou abuso de poder, duas coisas podem acontecer: o líder populista é derrotado nas urnas (aconteceu no Brasil) ou, então, o regime avança para uma autocracia assumida (a Venezuela, por exemplo).
A análise de Pappas assenta como uma luva no segundo governo de Donald Trump. Líder carismático? Temos. Polarização política? Também. Colonização do estado por nulidades várias? Basta olhar.
E a economia? A obsessão do Donald pela mais bela palavra que existe —"tarifas", diz ele— promete punir com especial dureza o exato povo que ele prometeu proteger.
No mesmo dia em que o presidente americano discursava no Congresso, o Wall Street Journal fez as contas à sua loucura: tarifas são impostos, lembrava o editorial do jornal, e isso significa um agravamento fiscal de US$ 150 bilhões só neste ano.
Será que os americanos vão continuar aplaudindo o seu César quando tiverem de pagar mais pela fruta, pelos legumes, pelos automóveis, pelos aparelhos elétricos ou pela energia?
É uma boa pergunta. Que será respondida daqui a dois anos, nas "midterms" para o Congresso.
Moral da história?
Se os Estados Unidos não optaram pela via autocrática (sempre uma hipótese), o maior inimigo de Donald Trump continua sendo o próprio Donald Trump.
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