segunda-feira, 10 de março de 2025

Ruy Castro Connery vs. Bond, Ruy Castro, FSP

 Um romance policial de 1967, "A Dandy in Aspic", de Derek Marlowe, conta a história de um espião inglês encarregado de matar um colega de serviço secreto suspeito de estar a soldo do inimigo. Até aí, é uma trama comum da ficção de espionagem. O problema é que o agente de que se suspeita é ele próprio, disfarçado, fazendo-se passar por um operador a serviço de uma potência estrangeira. E tão bem que nem seus superiores sabiam. É como se Sean Connery tivesse de matar James Bond.

Pois não é que, na vida real, isso aconteceu? Connery, revelado como Bond em "O Satânico Dr. No" (1962) e consagrado nos filmes seguintes ("Moscou Contra 007", 1963; "007 contra Goldinger", 1964; e "007 Contra a Chantagem Atômica", 1965), não queria tornar-se sinônimo do personagem. Em sua cabeça, ele é que consagrara Bond, não o contrário. O problema é que não era ninguém antes de "Dr. No" e só foi escolhido porque a mulher de Harry Saltzman, coprodutor da série, admirou-o sem camisa num filme e cabalou por ele com o marido. Saltzman aceitou: Sean era barato, e ninguém sabia que James Bond seria uma mina de ouro.

Connery tentou fugir de Bond, mas em vão. Teve de voltar a ele em "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes" (1967), "007 Os Diamantes São Eternos" (1971) e "007 Nunca Mais Outra Vez" (1983) porque seus filmes fora da série, alguns bons, não tinham a bilheteria dos 007s. Uma biografia, "The Measure of a Man", de Christopher Bray, revela um Connery não tão admirável: inseguro, invejoso (não suportava que Clint Eastwood cobrasse mais do que ele para trabalhar) e violento (agrediu sua primeira mulher, Diane Cilento, respeitada atriz shakespeariana).

Connery, que morreu em 2020 aos 90 anos, nunca foi superado como Bond, mas também não o superou. Porém tudo isso promete mudar porque, com a venda de seus direitos para a Amazon, 007, já há muito corrompido pelos efeitos especiais, agora é que não será mais o mesmo.

Comparado com o que vem por aí, Connery se veria como um Bond quase shakespeariano.

Um homem, o ator Sean Connery, está sentado em uma cadeira em um ambiente com decoração de bambu. Ele está usando uma camisa social clara e gravata, com suspensórios visíveis. O homem segura um cigarro na boca e uma arma na mão. Ao fundo, há uma lâmpada acesa em uma mesa ao lado, e a mesa tem alguns objetos em cima, entre eles um abajur.
O ator Sean Connery, em cena do filme "007 Contra o Satânico Dr. No", de Terence Young - Divulgação

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