quarta-feira, 10 de abril de 2024

Vídeo: O motel brasileiro é tão único que virou produto de exportação, FSP DW

 O motel brasileiro é tão único que virou produto de exportação. "É uma indústria que começou em 1968, passou por dezenas de planos econômicos, moedas, resiste bravamente", conta Ciça Guedes, autora do livro "Os motéis e o poder".

"O motel não é uma jabuticaba brasileira, mas esse modelo de negócio é uma invenção brasileira. E foi exportado. Em alguns países da Europa e nos Estados Unidos já existem motéis à brasileira", afirma Murilo Fiuza de Melo, autor do livro "Os móteis e o poder".

A palavra motel vem da junção de "motor" e "hotel", e surgiu nos Estados Unidos em 1920 como um tipo de acomodação de baixo custo para viajantes. Não tinha, necessariamente, uma finalidade amorosa.

Já no Japão, há o chamado love hotel – uma acomodação destinada a relações amorosas. Vem de uma tradição própria e antiga, ligada às casas de chá, e estima-se que existam cerca de 30 mil love hotels no Japão. Digamos que o Brasil misturou elementos dos dois países e criou o "motel à brasileira".

A história do motel brasileiro começou na ditadura militar, que financiou indiretamente a construção e a consolidação desses estabelecimentos.

Havia o interesse em fomentar a indústria do turismo. Com a criação da Empresa Brasileira de Turismo em 1966, uma série de medidas facilitaram a infraestrutura hoteleira no Brasil, como incentivos fiscais e juros baixos.

"Também começa uma revolução no mundo. Uma revolução sexual que tinha e que teve na pílula anticoncepcional o seu ponto mais importante, ou seja, o sexo puramente para reprodução, como sempre foi pregado, começa a perder terreno para o sexo por prazer", comenta Ciça Guedes.

Ironicamente, os motéis brasileiros tradicionais operam com dois aspectos paradoxais: a visibilidade e o ocultamento. Fachadas extravagantes de um lado, mas a preocupação com o anonimato do outro.

Um corredor só para serviço e a garagem privativa, por exemplo, foram invenções do arquiteto brasileiro Paulo Pontes, que fez mais de 200 projetos de motéis pelo Brasil e até alguns no exterior.

Mais de 50 anos depois do primeiro motel brasileiro, o Brasil tem quase tantos motéis quanto municípios: mais de 5 mil. E o setor segue se reinventando.

"A juventude, a geração TikTok, redescobriu os motéis, e transformou os motéis em questões instagramáveis. Uma coisa interessante é que são as mulheres que estão fazendo isso, puxado pelas mulheres, para fazer fotos e colocar nos seus perfis de Instagram etc", complementa Murilo Fiuza de Melo.

"A mulher acaba sendo a decisora na questão do 'ah, vamos nesse quarto, naquele motel'. Quem mais segue, por exemplo, os motéis na rede social, é o público feminino", diz o empresário Vinicius Roveda.

Vinicius é dono da primeira franquia de motéis do Brasil. Ele começou bem jovem, trabalhando num motel fundado pelo pai nos anos 1970. E nos anos 2000 percebeu que esse modelo de negócio tinha espaço para tomar outros rumos, o que ele chama de "nova motelaria".

"A gente virou a chave. O moteleiro antigo sempre achou isso, quer era um lugar só de extraconjugal. O modelo de negócio era todo sustentado, sim, achando que a maioria era o extraconjugal, quando na realidade a gente atende muito mais o casal com o relacionamento estável. Mais de 80%, 85% de quem frequenta os motéis são casais com relacionamento estável", relata Vinicius Roveda.

Nenhum comentário: