Na noite de 5 de agosto de 1955, Carmen Miranda começou a subir as escadas de sua casa, em Los Angeles, e disse a seus convidados, todos brasileiros: "Macacada, vou dormir, mas ninguém vai embora. Fiquem aí dançando, bebendo e se divertindo". Uma menina, Sheila, 12 anos, filha de um dos presentes, o industrial Jackson Flores, estendeu-lhe uma foto: "Carmen, antes de dormir, pode me autografar esta foto?". "Claro, meu bem", ela respondeu. E assinou-a: "Carmen Miranda".
Carmen deu um boa-noite geral, subiu e foi direto ao lavabo para tirar a maquiagem —naquela tarde, filmara sua participação no programa de TV de Jimmy Durante, e os amigos em sua casa eram os que ela convidara para assistir à apresentação. Vestiu um rôbe, lavou o rosto e, no corredor, antes de chegar ao quarto, teve o enfarte fatal. Sem um som, seu corpo caiu sobre o carpete e só foi encontrado na manhã seguinte. Tinha 46 anos.
Sheila Carol Flores, a menina, guardou para sempre a foto autografada e só lamentou não ter pedido a Carmen que a datasse. Fizesse isto, ficaria comprovado que era o último autógrafo concedido por Carmen. Não que Sheila pretendesse leiloá-lo ou vendê-lo. Apenas queria ter a certeza de que tudo não passara de um sonho —ou pesadelo— adolescente.
Voltou para o Rio com seu pai, que, separando-se de sua mãe, casou-se com a Miss Brasil Adalgisa Colombo. Sheila, por sua vez, tornou-se modelo de passarela, trabalhou no Sheraton, casou-se com um publicitário e teve uma filha, Stephanie. Criou família, conquistou amigos, conheceu o high society. Mas o ponto máximo de sua vida lhe acontecera bem cedo, naquela noite de 1955.
Sheila morreu há dias no Rio, aos 81 anos. Nenhum jornal ou revista registrou sua morte. Normal: não era famosa. E ninguém tinha a obrigação de saber que, com ela, morria também a última pessoa no mundo que falara com Carmen Miranda.
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