Filmar atualidades para servir a ideologia do Estado Novo foi projeto de dois homens do regime. António Ferro e António Lopes Ribeiro acreditavam no poder da imagem. Salazar desconfiava, mas concedeu. E o país que se mostrava no cinema era quase ficção.
Em 1938 as sessões de cinema em Portugal abriam com as histórias de um país que vivia na realidade ficcionada pelo Estado Novo. A grande novela contada em episódios que continham informação manipulada, sempre favorável à ideologia do regime, durou 13 anos.
Antes da longa-metragem anunciada em cartaz, projetava-se o filme em que Salazar era o ator principal. Os portugueses assistiam sentados às cerimónias oficiais e a todas as festas que cimentassem tradições e valores nacionais. O resto do mundo mal aparecia no magazine, interessavam apenas eventos pró-regime, como o acolhimento de crianças austríacas ou a visita do General Franco, aliado do ditador português. Da segunda grande guerra nem se falava, “a imagem que querem passar no jornal é a de um país pacífico, pobre mas feliz e cheio de orgulho nas suas obras”, frisa na reportagem José Manuel Costa, diretor da Cinemateca Portuguesa, que recuperou e editou todas as edições do Jornal Português.
O magazine de atualidades impulsionado por António Ferro, diretor do Secretariado de Propaganda Nacional, e produzido por António Lopes Ribeiro, cineasta do regime, foi um instrumento importante na difusão do fascismo. A indústria cinematográfica ao serviço da propaganda todavia não se desenvolveu porque Salazar, além de desconfiar da modernidade do cinema, dizia que era “demasiado caro”.
A peça que mostramos começa por recordar este país retratado pelo escritor José Cardoso Pires, em “Dinossauro Excelentíssimo”, uma fábula do tempo em que os animais falavam e os homens sufocavam.
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