Talvez o futebol deva ainda mais a Pelé do que tudo que se escreveu sobre ele desde sua morte na quinta última (29/12). Só o fato de os artigos estarem saindo em todos os países e línguas já devia nos alertar para um fato até agora pouco observado: o de que Pelé foi o primeiro jogador internacional do futebol.
Não há tese mais fácil de comprovar. Quem poderia ter sido antes dele? O brasileiro Friedenreich nos anos 1910? O espanhol Zamora nos anos 1920? O argentino Stábile, o tcheco Nejedlý, o italiano Meazza ou o brasileiro Leônidas nos anos 1930? O inglês Stanley Matthews, o uruguaio Schiaffino, o argentino Moreno ou os brasileiros Zizinho e Ademir nos anos 1940? O francês Kopa, o argentino Di Stéfano, o húngaro Puskás ou os brasileiros Garrincha e Didi nos anos 1950? Todos grandes, mas, pela lerdeza dos navios e dos primeiros aviões e também pela Segunda Guerra, foram jogadores pouco mais que nacionais.
Raro um deles atuar fora de seu continente. Di Stéfano era argentino, mas jogava no Real Madrid e nunca veio ao Rio. Zizinho só foi à Europa uma vez. Puskás veio ao Brasil em 1957 com o Honved, mas a nenhum outro país da América do Sul. Garrincha e Didi brilharam na Europa e viviam com o Botafogo na América Central, mas nunca chegaram perto do Oriente Médio, do Japão ou da África. Os outros, também não.
Entre 1960 e 1970, Pelé foi a todos esses lugares com o Santos. O mundo queria vê-lo. Passava tanto tempo em aviões quanto no gramado. Jogou nos cinco continentes, país por país, conquistou-os a todos e, já encerrada a carreira, foi catequizar o pior território do mundo para o futebol: os EUA. E conquistou-o também. Hoje, tanto os craques quanto os cabeças de bagre estão em toda parte pela internet. Pelé teve de levar seu gênio a domicílio.
Nenhum dos milionários "tetra" ou "penta" foi à sua despedida. Não fizeram falta. Pelé estava lá.
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