Estudo que analisa a biografia de 37 presidentes americanos atestou que a metade sofria de algum tipo de transtorno mental, e 27% o adquiriram no cargo
Marcelo Rubens Paiva, O Estado de S. Paulo
01 de junho de 2019 | 02h00
Um estudo de Jonathan Davidson, do departamento de psiquiatria da Universidade de Duke (Carolina do Norte), ao analisar a biografia de 37 presidentes americanos, atestou que a metade sofria de algum tipo de transtorno mental, e 27% o adquiriram no cargo.
Um quarto tinha depressão, como Abraham Lincoln, James Madison, Quincy Adams, Franklin Pierce e Calvin Coolidge, 8% tinham fobia social e desordem de ansiedade, como Thomas Jefferson, Ulysses S. Grant, Coolidge e Woodrow Wilson, 8% eram bipolares, como Lyndon Johnson e Theodore Roosevelt.
Aliás, a decisão de Roosevelt de acompanhar por dois anos, depois de terminar seu mandato (de 1901 a 1909), uma expedição organizada pelo Marechal Rondon pela Amazônia, desbravando matas, descobrindo tribos e rios desconhecidos, agora narrada no livro de Larry Rohter, Rondon – Uma Biografia, é tida como um exemplo da fase maníaca do popular 26.º presidente americano.
Em 8% deles, encontram-se traços de dependência química. Franklin Pierce morreu de cirrose. Ulysses Grant caiu do cavalo numa parada em Nova Orleans, e Nixon não atendeu a um telefonema importantíssimo do primeiro-ministro inglês, porque estavam “breacos”.
William Taft tinha problemas cognitivos por conta de uma apneia grave do sono. Kennedy era compulsivo sexual, além de viciado em analgésicos. Reagan já tinha Alzheimer durante o mandato, e Trump, esse é mole, já foi atestado como megalomaníaco narcisista.
Na Antiguidade, os gregos tinham estudos sobre a intoxicação causada pelo poder. Megalomania, narcisismo, paranoia, bipolaridade eram comuns no Império Romano, em que incesto era prática comum. Pela ordem: Júlio César, Marco Antônio, Nero e Calígula, que se deitava com as irmãs e chegou a ter um filho com a mais novinha, sofriam desses males.
Com a crise da representatividade, inclusive da democracia, muitos que estudam a mente se dedicam a desvendar as doenças mentais dos poderosos e as que surgem no poder.
Em Sickness and in Power, David Owen, médico que foi secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, diz que política não é profissão, mas ocupação, “exercício arrogantemente solitário”. Sugere que pessoais normais, eleitas, mudam no poder.
“Personalidades mudam, não nascemos com ela. Especialmente depois de estresses pessoais, como Putin e Tony Blair.”
Owen nomeia o distúrbio dos poderosos: Síndrome de Hubris. Vem do grego Hubris, o herói que, com um ego sem tamanho e a sensação de possuir dons especiais, quando chega ao topo se embriaga pelo êxito e se comporta como um deus capaz de tudo.
Sem entrar no mérito de atestar facínoras notórios, ele aponta que Arthur Chamberlain, primeiro-ministro britânico que tentou um acordo com Hitler, tinha Síndrome de Hubris, pois acreditava que era o único que conseguiria uma trégua com o líder nazista, e Churchill era bipolar.
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Para o líder democraticamente eleito de uma Nação, e com considerável apoio popular, é sensato liberar a venda de rifles, seja para a caça ou caçar invasores? O ideal não seria pacificar os ânimos e lutar por uma sociedade que não precisa de balas para administrar conflitos, mas de palavras, argumentos, ideias, e vivermos em harmonia?
É sensato falar coisas como “dei uma fraquejada e nasceu uma filha mulher”, ou detestar gays? Sensato hoje em dia é ser tolerante, aceitar as diferenças, os gostos sexuais de cada um, e reconhecer o valor das mulheres.
É sensato numa fala destemperada afirmar que a ditadura militar deveria ter matado uns 30 mil, especialmente o ex-presidente da República? Muito menos homenagear um agente do Estado condenado por tortura, com inúmeros relatos e testemunhas da barbárie e do sadismo praticados em instalações sob seu comando. Tortura é um crime hediondo e imprescritível, de acordo com tratados internacionais assinados pelo Brasil.
Se existe uma unanimidade é a de que um país só avança com investimento na educação. É sensato cortar investimentos em escolas e universidades públicas? Como não é sensato liberar mais de 130 agrotóxicos em poucos meses, muitos deles proibidos em outros países, sem medir consequências ao meio ambiente e à saúde humana.
É sensato não dialogar com a imprensa, a oposição, não buscar um consenso, condenar as reservas indígenas à invasão, censurar comerciais que pregam respeito à diversidade, demitir cientistas que identificam ossos de desaparecidos políticos?
E engavetar a compra de dois mil radares (pardais) e dizer que qualquer otário sabe que não se pode entrar numa curva a mais de 80 km? O bom senso tem quem percebe que existe um endêmico desrespeito às leis de trânsito no Brasil, que o torna recordista em acidentes e mortes. E a quem interessa a imprudência e o excesso de velocidade? Aos otários.
É razoável ironizar o tamanho do órgão de japoneses ao lado de descendentes que você nem conhece? E pegar crianças no colo e ensinar a fazer arminha, é? Quem tem filhos, se descabela nessas horas. E afirmar que não é presidente de nordestinos, em que milhares de eleitores que, inclusive, votaram nele, e em que estão os municípios campeões em produção agrícola.
Em princípio, imaginei que Jair Bolsonaro sofresse de um distúrbio particular, borderline, aquele em que o amigo vira inimigo em questão de horas, confunde aliados com adversários e não se tem controle da fala.
Seria Síndrome de Hubris? Não. Ele até amansou na Presidência; era pior como um capitão provocador e obscuro deputado federal.
Amigos psicólogos me falam em traços paranoides. “Potencial destrutivo da personalidade dele já estava muito claro”, me escreveu uma amiga especialista.
No livro A First-Rate Madness, de Nassir Ghaemi, professor de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade Tufts (de Boston), argumenta que líderes com algum tipo de doença mental podem ter um bom desempenho em tempos de crise, pois estariam mais preparados para lidar com convulsões e incertezas. Será?
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