No auge da paralisação dos caminhoneiros e da crise de abastecimento, a seleção brasileira deixou Teresópolis de helicóptero. Chegando ao Rio, seguiu para o Galeão sob forte escolta policial. Embarcou no avião fretado e tchau, tchau. Não se repetiu a praxe de outras Copas, um jogo de despedida com ingressos a preços populares —quem sabe no Maracanã, o estádio que um dia existiu.
Apesar da arrogância e frieza dos cartolas, ninguém se importou. Se a seleção não dá bola para a torcida, esta também não está morrendo de amores pelo time. O número de ruas enfeitadas com bandeiras ou pintadas e grafitadas em verde e amarelo é mínimo. Camisetas e bonés estão encalhados nas lojas (os comerciantes ainda não conseguiram zerar o estoque de 2014). A galera tem preferido cornetas e apitos, cuja estridência insuportável é mais apropriada a vaias. E o álbum de figurinhas só atraiu mesmo os marmanjos com saudade de brincar de bafo-bafo.
O desencanto não é para menos. São difíceis de esquecer os escândalos de corrupção na CBF e na Fifa, a ressaca moral com a realização da Copa no Brasil e, sobretudo, “aquela” derrota. Um grupo de torcedores, que não conseguiu ingresso para o único treino aberto na Granja Comary, cutucou a ferida: “Uh! É 7 a 1!”.
Crescem as comparações entre Tite e Sebastião Lazaroni (o treinador que fez com que a seleção não passasse das oitavas no Mundial de 1990). Exagero. Tite é um estrategista bem melhor, mas, como seu antecessor, peca no uso pastoral da linguagem. O “titês” é herdeiro do “lazaronês”, sim.
Nos comerciais de TV, dribles e gols foram substituídos por frases ditas aos berros pelo garoto-propaganda Tite e por comentaristas realmente técnicos como Anitta e Thiaguinho. Ao ouvir pela enésima vez que “nossa coragem e nossa preparação foram maiores”, a vontade é pegar a corneta (que não tenho) e correr até a janela.
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