Maria Esther Bueno, supercampeã brasileira de tênis que nos deixou há pouco, queixou-se certa vez numa entrevista de que, no Brasil, a história não é repassada para as gerações seguintes e que, aqui —ao contrário da Inglaterra, onde continuavam a reverenciá-la—, ela era chamada de “ex-tenista”. A paulistana Maria Esther, que, em dez anos, de 1959 a 1968, conquistou todos os torneios importantes do mundo, continuou a jogar no clube Harmonia até há alguns meses antes de sua morte. “Se não sou mais tenista, o que sou agora?”, perguntou. Ironicamente, a mesma reportagem que registrou a sua pergunta continuou a referir-se a ela como ex-tenista.
No Brasil, temos a mania do ex. Na semana passada, eu próprio me referi aqui ao político baiano Antonio Carlos Magalhães como ex-senador, ex-governador, ex-ministro e ex-vivo —uma redundância, já que a condição de morto tornava o popular ACM ex em tudo. Um político, quando deixa um cargo, pode tornar-se ex, mas Maria Esther Bueno não deixou de ser tenista por abandonar o tênis profissional —como sabem os que tiveram o privilégio de jogar com ela em seus últimos anos no Harmonia.
Da mesma forma, não existe o ex-alcoólatra. O alcoólatra que para de beber não perde essa condição porque, se sucumbir à tentação de um gole —“só um gole não faz mal”—, tem todas as chances de voltar a beber nos níveis que em bebeu pela última vez. Donde um alcoólatra que deixou de beber não se torna um ex-alcoólatra, mas apenas um alcoólatra que está sem beber —e, espera-se, continue assim.
Assim como o diabético que deixou de comer açúcar não se torna um ex-diabético, mas apenas um diabético que está sem comer açúcar.
No caso de Maria Esther Bueno, ela não poderia ser chamada sequer de ex-campeã —porque seus títulos nunca foram superados por nenhum tenista brasileiro, homem ou mulher. E, pelo visto, nunca serão.
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