Leio no meu amigo Carlos Maranhão que os brasileiros na Rússia para a Copa do Mundo estão se queixando do estrogonofe local. Parece que, apesar de inventado pelos chefs particulares de Ivan, o Terrível, o dito estrogonofe não se compara ao que se come no Brasil. É cortado em tiras, não em cubinhos. Não leva ketchup ou creme de leite, nem é servido com arroz e batata palha. E eles não têm as nossas variedades de frango e camarão. Para piorar, chamam-no de “estroganofe”.
Brasileiros longe de casa vivem se decepcionando com a cozinha dos países que visitam. Outro amigo, perdido certa vez nos montes Tártaros, região a leste dos Urais paralela ao rio Volga, na mesma Rússia, entrou numa estalagem e pediu o que pensava ser o prato da região: o bife tártaro. O garçom solicitou ao meu amigo que o descrevesse. Ao ouvir que se tratava de carne moída crua, temperada com cebola picada também crua e coroada por uma gema de ovo definitivamente crua, ficou horrorizado. Não, os tártaros preferem seus bifes bem passados, explicou.
Idem, quem pede um bife à milanesa em Milão recebe na mesa uma linda posta de carne cozida, escoltada por um suave molho de ervas, e não aquela carne surrada a martelo, desidratada de seus sucos naturais e condenada à asfixia ao ser empanada, como no Brasil. E cuidado ao pedir um cozido à portuguesa em Lisboa —existe e é ótimo, mas não leva banana, milho ou batata-doce, ingredientes que lhe foram acrescentados aqui.
E não me vá pedir um camarão à baiana em Salvador. Os baianos não o conhecem, nem precisam conhecer —porque, na Bahia, todos os camarões são, não à baiana, mas baianos mesmos, legítimos filhos e netos de camarões baianos.
Incapazes de ler cardápios em cirílico, há brasileiros em Moscou que já teriam morrido de inanição se não fosse o limão na única receita que conseguiram ensinar aos garçons russos: a caipiroska.
Ruy Castro
É um dos maiores biógrafos brasileiros, já escreveu sobre Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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