sexta-feira, 18 de março de 2016

O Brasil acordando para as ameaças reais, Ladislau Dowbor

O que apareceu no início como positivo, o combate à corrupção, se transformou gradualmente num pesadelo que ameaça a democracia e a legalidade institucional. Não é a primeira vez que uma boa bandeira se transforma em cavalo de Tróia, abrigando o que há de mais podre, e gerando mais problemas que soluções. Não foi muito diferente com a tão legítima operação “Mãos Limpas” na Itália que gerou 20 anos de retrocessos e populismo conservador com Berlusconi.
 
Quando a corrupção é sistêmica, e se trata sem dúvida do nosso caso, é o sistema que tem de ser combatido, e prisões espetaculares e midiáticas apenas deslocam o assunto, e mudam os corruptos de plantão. O sistema permanece, e agradece. Transparência (na linha da Lei da Transparência de 2011), democratização dos processos decisórios, auditorias abertas e não compradas, publicidade dos contratos e outras medidas de gestão precisam ser adotadas para que a presente luta não se resuma, como está sendo atualmente, à substituição de pessoas. A luta contra a corrupção deve ser substantiva, e não apenas ferramenta escancarada de luta pelo poder político.
 
Muito mais preocupantes ainda são os avanços sobre os recursos públicos que grupos famintos estão já preparando ou conseguindo: privatização e venda da Petrobrás e do Pre-sal, maiores avanços ainda dos grupos financeiros que já praticam juros extorsivos, abertura geral da venda de terras, retrocesso nas políticas sociais, liquidação de uma visão de nação soberana. A podridão só avança com grandes bandeiras de moralidade.
 
O mínimo que se espera, é que as pessoas se informem. Abaixo colocamos os links para um conjunto de tomadas de posição. Transformar o ódio à corrupção em ódio às visões progressistas do país constitui em si uma construção profundamente corrupta e desonesta. Valemos mais do que isto. Vejam com isenção, usem e divulguem estas tomadas de posição. O Brasil precisa mudar sim, mas mudar para a frente, não para trás. E usar a corrupção para dar o golpe, já vimos isto em 1954 com Getúlio, em 1964 com Jango, e outros momentos de grandes discursos éticos abrindo a porta para a quebra da legalidade e das instituições.

Nenhum comentário: