quarta-feira, 16 de março de 2016

Acabou o governo Dilma, Clovis Rossi na FSP




Paulo Whitaker-5.mar.16/Reuters
Former Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva (R), his wife Marisa and Brazilian President Dilma Rousseff (C) wave from the window of his home in Sao Bernardo do Camopo, Brazil, March 5, 2016. REUTERS/Paulo Whitaker ORG XMIT: PW04
A ex-primeira-dama Marisa Letícia, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula acenam do apartamento do casal em São Bernardo do Campo
Os inquilinos mais sensatos do Palácio do Planalto admitem que a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva no governo é a última carta que Dilma Rousseff poderia jogar para evitar o impeachment.
Hoje por hoje, nos cálculos de governistas fiéis, mas não cegos, o governo não dispõe de votos suficientes para barrar o impeachment, se e quando o processo começar no Congresso.
Parêntesis: há quem, entre os governistas, acredite que nem Lula operará o milagre de salvar Dilma, dada como em estado terminal.
Fecha parêntesis.
O ponto inevitável seguinte é especular sobre o que proporá Lula para salvar o governo. Analistas bem informados dizem que ele atuará em três direções, a saber:
1) Para tentar recuperar o quase inexistente prestígio do governo, proporá aumentar o Bolsa Família, o que, como é óbvio, beneficiará 14 milhões de famílias ou 40 e poucos milhões de pessoas.
Se esse já é um viveiro de fidelidade ao lulismo, mais ainda se tornará, o que ajudará, eventualmente, a atenuar a solidão da presidente.
2) Como tantos analistas já antecipam, tratará de destravar o crédito, para que as rodas da economia voltem a girar com alguma agilidade.
O crédito mais fácil foi, talvez, o grande segredo para a expansão do consumo interno no período Lula - e, por extensão, para o prestígio com que terminou o mandato.
3) Ajuda aos Estados, atolados e, muitos, insolventes. Mas aí não se trata de caridade, mas de interesse: o objetivo é fazer com que os governadores pressionem as bancadas estaduais a votar contra o impeachment.
Não me pergunte de onde sairá o dinheiro para medidas desse gênero. Não sei nem vejo de onde, talvez o próprio Lula não saiba. Mas ele sempre foi voluntarista, confiante em que vontade política —palavra mais que desgastada - basta para produzir mágicas.
Parte importante do pacote Lula é intangível: a saliva. Ou, mais objetivamente, sua capacidade de articulação política, que lhe permitiria manter o PMDB ao lado do governo, no que é, como todo o mundo sabe, a chave da história toda.
Se vai ou não dar certo, só o tempo dirá. Mas essa fuga para a frente, seja pela nomeação de Lula, seja por planos mais ou menos heterodoxos, significa também declarar guerra aos mercados.
É significativo que a simples possibilidade de que Lula assumisse função ministerial fez aumentar o dólar e levou a bolsa a cair. A explicitação de seus planos - expansionistas, quando o mercado cobra austeridade extrema —só pode provocar mais turbulência.
Além disso, é preciso sempre contar com o imponderável que, por isso, não entra em análises. Ninguém sabe o que mais pode sair da Lava Jato. Ninguém sabe se o juiz Sérgio Moro vai pedir a prisão de Lula e, se o fizer, se o Supremo concordará ou não.
Se a nomeação de Lula é a última carta do governo Dilma, a saída dele (ou por decisão judicial ou pelo fracasso de seus planos) significará, obviamente, o fim do jogo.
De uma forma ou de outra, acabou o governo Dilma. Agora, para o bem ou para o mal, é o governo Lula-3.


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