quinta-feira, 10 de março de 2016

Na Paulista, ipês e calçadas já deram lugar aos carros, OESP

Na década de 1970, projeto 'Nova Paulista' ampliou as vias por causa do trânsito intenso

28 de junho de 2015 | 18h 07
Rose Saconi e Carlos Eduardo Entini

Paulista em 1966, com a linha de bondes no centro e ipês amarelos em toda sua extensão. Acervo/Estadão
A inauguração da ciclovia na Avenida Paulista é mais um capítulo na história da via mais famosa da cidade. Ela já foi residencial, passou a abrigar prédios, virou centro de negócios, e hoje a avenida, e seu entorno, é local de lazer e cultura. Por suas pistas já passaram bondes puxados por animais e elétricos, depois carros, e agora chegam as bicicletas.

Na década de 1970, a Prefeitura tinha planos ousados com o projeto “Nova Paulista”. Na época, a avenida com suas duas pistas em cada sentido, com 30 metros de largura no total, já sofria com o trânsito. O projeto da Prefeitura pretendia resolver o problema com a ampliação e criação de mais pistas. Também previa outras vias subterrâneas em toda a extensão da avenida, e abaixo dela o metrô, que só viria a ser inaugurado 20 anos depois. Porém, o projeto completo não saiu do papel. Mas deixou marcas.

O Estado de S.Paulo - 28/10/1973

As primeiras etapas do "Nova Paulista" que previa desafogar o trânsito 


As obras na avenida começaram em 1972. Uma das primeiras mudanças foi o corte de cerca de 120 ipês que ainda mantinham o ar bucólico junto aos seus casarões, que já dividiam espaço com os prédios. A avenida também perdeu o espelho d'água que ficava em frente ao Parque do Trianon (veja mais na galeria de fotos).
O Estado de S. Paulo - 28/10/1973

O projeto, cancelado em 1974, previa via expressa no subterrâneo da avenida
A mudança começa em 1968, quando a Prefeitura promulga a lei n.º 7.166 desapropriando dez metros de calçada de cada lado da avenida correspondentes aos recuos obrigatórios dos prédios. A Paulista passa então a ter 48 metros de largura, sendo 10 metros de recuo, seis para cada calçada e 16 para as pistas. Além das árvores, quem logo perdeu espaço foram os pedestres. Os seis metros de calçada foram eliminados na primeira fase das obras. Ironicamente, o projeto classificava as calçadas como 'remoção de interferências' (ver imagem acima). 
O Estado de S. Paulo - 8/12/1972

Centenas de imóveis e jardins dos casarões também foram desapropriados para que a ampliação fosse possível, e a avenida continuasse a crescer 'em favor do progresso', como argumentaram na época as autoridades. Em 1973, um ano depois do início do projeto, as obras foram interrompidas quando o prefeito Figueiredo Ferraz, presidente de uma das empresas do consórcio, foi exonerado. No ano seguinte, o prefeito Miguel Colassuono descartou a execução do projeto original e apenas o alargamento da avenida foi concluído.

O projeto 'Nova Paulista', foi mais uma intervenção na avenida que tirou o ar bucólico que fazia da avenida arborizada das mansões dos barões do café um dos principais cartões postais da cidade e que ainda habita a memória dos paulistanos.

Em transformação. A primeira grande mudança da avenida foi em 1900, quando foi inaugurada a linha de bondes elétricos da Light na Paulista. Já em 1909, chegou o asfalto e os bondes se mudaram para o centro da avenida. Anos depois, em 1936, uma alteração no zoneamentopermitiu a construção de prédios e, em poucos anos, a Paulista se transformou em centro comercial da cidade. Quando foi inaugurada, em 8 de dezembro de 1891, a via de pedregulhos brancos tinha inicialmente três faixas: uma para bondes puxados por animais, outra para carruagens e cavaleiros e uma terceira para pedestres. 

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