24/03/2016 - Valor econômico
Depois da queda do desempenho registrada no ano passado e da falta de perspectivas de recuperação do mercado, o grupo Randon paralisou a construção da nova fábrica em Araraquara (SP), planejada originalmente para entrar em operação no primeiro trimestre deste ano. A empresa também decidiu encerrar a produção de semirreboques rodoviários em Guarulhos (SP) no dia 8 de abril.
Segundo o diretor de relações com investidores Geraldo Santa Catharina, o grupo interrompeu as obras em Araraquara no último trimestre de 2015 e a volta dos trabalhos depende do reaquecimento da demanda. A unidade já recebeu investimentos de R$ 60 milhões, de um total previsto de R$ 100 milhões, e a conclusão do projeto, quando retomado, levará mais seis meses.
A fábrica será focada na produção de vagões ferroviários, único segmento que registrou alta de vendas no ano passado, mas a Randon entendeu que neste momento não faz sentido "esvaziar" a unidade principal, em Caxias do Sul (RS), e investir os R$ 40 milhões que faltam para transferir a operação para São Paulo.
Em Guarulhos, onde produzia implementos leves desde 1965, a Randon manterá apenas as áreas comercial e de suporte. Em comunicado divulgado na tarde de ontem, a empresa informou que 130 funcionários da unidade serão demitidos.
Com a crise, a fabricante de implementos rodoviários, vagões ferroviários e autopeças prevê investir apenas R$ 60 milhões em 2016, ante R$ 161,6 milhões no ano passado. As projeções para este ano incluem receita líquida consolidada de R$ 3,2 bilhões, ou R$ 100 milhões a mais do que em 2015, com US$ 290 milhões em receitas de exportações e das controladas no exterior, ante US$ 301 milhões no exercício passado.
Em 2015 o grupo teve R$ 66,4 milhões em despesas com a redução do quadro de 10,7 mil para 8,5 mil funcionários, que impactaram negativamente a geração de caixa. O corte de pessoal foi o maior desde a concordata de 1982, mas agora a empresa está "relativamente ajustada" para 2016, disse Santa Catharina.
O executivo explicou ainda que as encomendas de semirreboques equivalem neste momento a um mês de produção, semelhante à situação do início de 2015, ano em que a Randon vendeu 10,6 mil unidades, com queda de 36,3% sobre 2014. O grupo também estima vender entre 1 mil a 1,5 mil vagões ferroviários neste ano, abaixo do recorde de 2 mil unidades entregues em 2015, mas acima da média histórica inferior a 1 mil unidades.
Quanto ao passivo, a intenção é reduzir a relação entre a dívida financeira consolidada líquida e o lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) de 8,38 vezes em 2015, incluindo as operações industriais e o banco próprio, para três a 3,5 vezes neste ano, acrescentou Santa Catharina. "Não é uma promessa, mas uma tentativa bem factível", afirmou.
De acordo com ele, sem os gastos não recorrentes, principalmente com redução de pessoal, o Ebitda deve melhorar em 2016 e se aproximar do número ajustado de 2015. Outra estratégia é reduzir o financiamento de longo prazo a clientes por meio do banco Randon, que no fim do ano passado participava com R$ 308,7 milhões do endividamento líquido consolidado de R$ 1,357 bilhão.
Ao mesmo tempo, o grupo tem R$ 1,081 bilhão em dívidas financeiras que vencem neste ano, ante um caixa de R$ 1,328 bilhão em dezembro de 2015, e pretende fazer uma rolagem, embora "nada muito expressiva", de parte deste montante por um prazo mínimo de três anos. O diretor também admite a venda de ativos não operacionais para melhorar a liquidez.
Em 2015, a Randon teve prejuízo consolidado de R$ 24,6 milhões, contra o lucro de R$ 202 milhões apurado em 2014. A receita líquida caiu 18%, para 3,099 bilhões, e a margem bruta baixou de 25% para 20,7%. O Ebitda anual caiu 67%, para R$ 161,9 milhões, enquanto o indicador ajustado pela exclusão dos efeitos não recorrentes recuou 47,4%, para R$ 258,2 milhões.
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