sexta-feira, 18 de março de 2016

Dilma e Lula não usam WhatsApp, por Fernando Paiva




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Dilma e Lula estão desconectados da realidade dos brasileiros. Não me refiro à realidade econômica ou política, mas aos hábitos de comunicação da população. Isso porque Dilma e Lula não usam WhatsApp. Se utilizassem a funcionalidade de chamada de voz do aplicativo de comunicação instantânea – ou de qualquer outro, como Facebook Messenger, Viber, Skype etc – não teriam tido as conversas interceptadas pela Polícia Federal e divulgadas em horário nobre na TV dos brasileiros. Na verdade, Lula nem sequer tem celular. Utiliza o de seguranças e de outras pessoas ao seu redor. Faz parte de uma parcela ínfima da população adulta brasileira que é descelularizada, neologismo que acabo de inventar. Ou "desmobilizada", com o perdão da ironia e do duplo sentido.
Enquanto isso, 96,2% dos brasileiros com smartphone são usuários ativos mensais do WhatsApp. Dentre eles, dois em cada três utilizam a ferramenta de chamada de voz do aplicativo. E um em cada três  fazem ligações pelo WhatsApp diariamente. São números impressionantes e que devem deixar os executivos das operadoras de telefonia de cabelo em pé... assim como juízes e delegados de polícia. Os dados fazem parte da mais recente pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre Mensageria no Brasil, que entrevistou 1.895 brasileiros ao longo do mês de janeiro. Os resultados completos, incluindo uma comparação com outros apps de mensagens e SMS constam do relatório disponível para download gratuito neste site.
Mas a privacidade dos dados trafegados em aplicativos de comunicação instantânea está ameaçada. O governo dos EUA e sua agência de investigação, o FBI, travam uma batalha contra a Apple para que a empresa da Califórnia quebre a criptografia das mensagens enviadas pelo iMessage contidas no iPhone de um terrorista preso. A Apple se recusa e conta com o apoio de outras empresas do mundo da Internet. Quebrar o sigilo de um usuário significaria abrir uma porta para a quebra de todos os outros, o que geraria uma perda de confiança no serviço. O que é mais importante: a privacidade individual ou a segurança pública? É uma discussão longa, que envolve aspectos legais, políticos e filosóficos.
No Brasil a Justiça já tentou obter dados do WhatsApp de criminosos, mas não contou com a colaboração da empresa. Em represália, já mandou suspender o serviço no País e até mesmo prendeu por poucas horas um executivo do Facebook, controladora do WhatsApp.
Muitos serviços de comunicação instantânea over the top (OTT) utilizam mecanismos de criptografia que nem eles mesmos possuem a chave para quebrar. O que podem e devem, sim, é guardar as informações de registro das comunicações: quem falou com quem, em que dia e horário e por quanto tempo.
Como não se pode nem mais confiar em conversas olho no olho, com tantos gravadores espalhados por aí, quem quiser garantir a privacidade dos seus diálogos é melhor inventar um método de transmissão de pensamento... mas tem que ser criptografado!

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