Na verdade, ninguém fala “esqueçam-me!”. Usa-se o “me esqueçam”, pois a gramática não prevalece na linguagem coloquial. Mas a reflexão é a propósito da permanência de notícias que podem nos incomodar, preservadas na memória eletrônica ou guardadas na “nuvem” que hoje comanda nossa vida.
O todo poderoso “Google”, arquivo polivalente e polimorfo, que permite a localização de coisas que sequer imaginávamos ainda estivessem disponíveis, tem sido atormentado, no mundo inteiro, por pessoas que querem a retirada de informações pessoais irrelevantes ou comprometedoras.
Há quase dois anos o Tribunal de Justiça da União Europeia reconheceu o direito dos cidadãos de serem “esquecidos” na internet. Isso legitima a pretensão de requerer que Google e outros buscadores retirem os links e informações que, a critério do interessado, o prejudiquem.
O Brasil é o líder em pedidos de retirada de conteúdo do Google. No ano de 2013, foram 697 solicitações, enquanto que os Estados Unidos, em segundo lugar, teve 262 pedidos. O Marco Civil da Internet garante que provedores de serviço como Google e Facebook só devem retirar conteúdo do ar mediante ordem judicial.
Se a jurisprudência da comunidade europeia alivia os molestados, por outro lado ela interfere na inovação que o setor sempre ostentou.
O presidente do Google salientou que essa diretriz de privacidade inibe principalmente as empresas menores, enquanto que a sua gigantesca empresa não enfrentaria dificuldades maiores em cumprir a ordem do juiz.
O avanço na disseminação dos dados e informes é um fenômeno que ainda renderá muito assunto para a mente humana, desacostumada de administrar essa inflação que pode até ocasionar moléstias mentais nos destinatários.
Já tenho observado que a privacidade levou a pior no seu embate com a transparência, considerada valor republicano e alavancada por uma cultura do exibicionismo, em que cada qual quer se mostrar mais do que o outro, o tempo todo, ininterruptamente.
Não é mais possível se esconder e a facilidade com que se recupera texto, foto ou vídeo vai provar que nem o passado é certo neste globo cada vez mais complicado.
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 27/03/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail:imprensanalini@gmail.com.
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail:imprensanalini@gmail.com.
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