sexta-feira, 7 de março de 2025

Brasil está entre os países que mais cresceram em 2024; veja o ranking do PIB, FSP

 

São Paulo e Rio de Janeiro

O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 3,4% em 2024 ficou entre os maiores registrados entre as economias mais relevantes, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para 35 países, incluindo alguns que não fazem parte do bloco, como a China e o Brasil.

O PIB do grupo de países da OCDE cresceu 1,7% em 2024, em comparação ao 1,8% em 2023. Entre os que já divulgaram seus dados, cinco registraram contração.

O destaque negativo foi novamente a Alemanha, maior economia da União Europeia, que teve retração pelo segundo ano seguido. Entre os fatores que afetaram o resultado estão a queda nas exportações da indústria alemã, altos custos de energia, um nível de taxa de juros que permanece alto, segundo o governo local.

O bloco econômico europeu cresceu 0,9%, ante 0,4% no ano anterior.

Linha de montagem do Grupo Seres, em Chongqing, na China, em 7 de junho de 2024 - Wang Quanchao/Xinhua

Nos Estados Unidos, a taxa de crescimento passou de 2,9% em 2023 para 2,8% em 2024.

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A China cresceu 5% e prevê um resultado próximo desse número em 2025.

O Brasil continua como a 7ª maior economia do mundo no ranking do FMI (Fundo Monetário Internacional) pelo critério do poder de paridade de compra das moedas locais.

No ranking em dólares, o país caiu da 9ª para a 10ª posição, por causa da desvalorização da moeda brasileira no ano passado —posição perdida para o Canadá e que deve ser recuperada a partir de 2027, segundo estimativas do Fundo.

PIB fecha 2024 com alta de 3,4% no Brasil, FSP

 

Rio de Janeiro e São Paulo

A economia brasileira fechou 2024 com alta de 3,4% no acumulado do ano, apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta sexta (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na mediana, as projeções do mercado financeiro indicavam crescimento de 3,5%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 3,2% a 3,6%.

Considerando apenas o quarto trimestre de 2024, o PIB avançou 0,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores, disse o IBGE.

Nesse recorte, a mediana das previsões de analistas consultados pela Bloomberg era de 0,4%. O intervalo ia de 0% a 0,6%.

A imagem mostra uma operadora de guindaste em uma cabine no porto de Santos (SP). Ela está olhando para baixo em um terminal de contêineres. Vários contêineres de diferentes cores e marcas estão empilhados. A operadora está usando um uniforme azul e está segurando um controle.
Operadora de guindastes trabalha no porto de Santos (SP) - Eduardo Knapp - 3.out.24/Folhapress

Em 2024, a atividade econômica teve impulso de medidas de estímulo do governo Lula (PT) e do desempenho positivo do mercado de trabalho, que mostrou queda do desemprego e aumento da renda.

A conjuntura levou o PIB a um crescimento acima do previsto inicialmente por analistas e pelo governo.

Para se ter uma ideia, ao final de 2023, a mediana das estimativas do mercado financeiro indicava um avanço de apenas 1,52% em 2024, de acordo com o boletim Focus, do BC (Banco Central). O Ministério da Fazenda tinha uma projeção de 2,2% para o resultado do ano.

Manter a economia aquecida, porém, ficou mais difícil a partir do segundo semestre do ano passado, quando o BC passou a subir a taxa básica de juros (Selic) para conter a inflação.

Para 2025, as estimativas do mercado sinalizam uma desaceleração do PIB a 2,01% no acumulado do ano, indica o boletim Focus.

A Selic começou a subir em setembroestá em 13,25% ao ano e deve fechar dezembro em 15%, de acordo com a mesma publicação.

A alta da taxa de juros tenta esfriar a demanda por bens e serviços para conter os preços. O efeito colateral do crédito mais caro é o obstáculo ao consumo e aos investimentos produtivos, vetores do PIB.

Além do aperto dos juros, menos espaço fiscal para estímulos do governo à economia também deve pesar neste ano, segundo analistas.

O Ministério da Fazenda projeta um crescimento de 2,3% para o PIB de 2025, conforme revisão anunciada em fevereiro.

A estimativa do governo é maior do que a mediana do mercado (2,01%), mas também sinaliza uma desaceleração ante 2024.

Se de um lado os juros desafiam o consumo e os investimentos, de outro a perspectiva de recuperação da safra tende a ajudar o PIB, principalmente no começo do ano.

Por ora, as estimativas sinalizam recorde para a produção de grãos em 2025, após problemas climáticos em 2024.

O PIB é a soma dos bens e serviços produzidos pelo país. Seu avanço é usualmente chamado de crescimento econômico.

Parte dos analistas teme que, mesmo com os alertas sobre o quadro fiscal, o governo Lula adote novas medidas de estímulo ao PIB em meio à trajetória de queda da popularidade do presidente.

Uma das questões que estariam por trás da aprovação em baixa seria a inflação dos alimentosEstudo recente da consultoria LCA indicou que o patamar elevado dos preços ofuscou a percepção de melhora da renda do trabalho e da atividade econômica.

Para frear a inflação, o governo anunciou na quinta (6) que vai zerar a alíquota de importação de produtos como carne, café, milho, óleo de girassol, óleo de palma, azeite, sardinha e açúcar.

Associações, por outro lado, afirmaram que a medida é inócua. O aumento do óleo diesel e do frete pressiona os alimentos e pode ameaçar as ações do governo para conter os preços da comida.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Teto de gastos, palavras e fatos, Bráulio Borges, FSP

 Escrevi, há algumas semanas, um artigo neste espaço argumentando que o teto de gastos criado em 2016 é muito superestimado por diversos analistas. Como seria de esperar, recebi uma enxurrada de críticas. Talvez a mais vocal delas tenha sido aquela do economista Alexandre Schwartsman, em artigo publicado em outro jornal.

Alexandre colocou o debate como se ele estivesse apresentando "fatos" e eu, somente "palavras". Chegou até mesmo a denominar alguns de meus argumentos como "vento". Curioso, já que eu, o "moço de cálculos", apresentei diversos números/fatos em meu artigo anterior.

Vale assinalar que eu não sou contra um teto de gastos; minha crítica sempre foi quanto ao desenho excessivamente simples e à calibragem numérica irrealista (despesa real congelada por dez anos) daquele teto da EC 95/2016, além da ausência de um "plano de voo" para o seu cumprimento entre 2017 e 2026.

Outros "moços de cálculos" —Fábio Giambiagi e Guilherme Tinoco, craques em finanças públicas— sugeriram, ainda em meados de 2019, alterar o teto original, substituindo-o por um novo teto, com reajustes reais positivos e crescentes das despesas. Isso porque quem fez contas com cuidado, como eles, eu e vários outros, constatava que o teto não era exequível, mesmo que fossem implementadas outras reformas nas despesas obrigatórias para além da importantíssima reforma da Previdência aprovada em 2019.

Parlamentares de esquerda comemoram na Câmara a exclusão do Fundeb do arcabouço fiscal - Pedro Ladeira - 22.ago.23/Folhapress

Dito isso, a introdução do teto de fato foi positiva em um primeiro momento, ao "apagar um incêndio" em 2016. Não obstante, a nova regra fiscal passava bem longe de representar uma mudança estrutural na dinâmica das despesas. Já em 2020, com os gastos do Fundeb tendo sido quase triplicados (estavam foram do teto), aquela regra fiscal foi muito enfraquecida, para ao final ter morrido de "morte matada", no final de 2021, com as alterações casuísticas nos precatórios e no indexador, de olhos nas eleições de 2022.

Apontei, em meu artigo anterior, que a relação entre dívida e PIB subiu bastante nos três anos iniciais do teto e acumularia alta de 14 p.p. ao longo de oito anos, segundo as expectativas de consenso formuladas antes da pandemia.

Para que um ajuste fiscal seja bem-sucedido, não basta apenas controlar a despesa; é preciso elevar o resultado primário e, também, que a composição desse ajuste não machuque tanto o crescimento do PIB, para que, no final das contas, a dívida/PIB estabilize ou recue.

Ainda que o teto tenha gerado uma melhoria das expectativas, ele não gerou aumento relevante do resultado primário estrutural (apresentei os números mais recentes da SPE no artigo anterior). Vale destacar que os resultados primários efetivos elevados em 2021 e 2022 foram ajudados por receitas infladas, pela ordem, em 1,4% e 2,2% do PIB, por conta de altas temporárias dos preços das commodities e da inflação muito acima das metas.

Ademais, essa melhora das expectativas gerada pela introdução do teto não foi suficientemente forte para que se materializasse a tão desejada "contração fiscal expansionista": o crescimento médio do PIB no período foi de apenas 1,4% a.a., configurando a recuperação mais lenta após uma recessão já registrada em 40 anos –algo que manteve a inflação em torno do piso da meta durante boa parte do período 2017-19.

Uma economia com inflação muito abaixo da meta central e que operava com excesso enorme de ociosidade, como era nosso caso em 2017-2019, precisava mesmo de juros reais muito baixos para sair daquele estado sub-ótimo.