quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

2025: economia depende da política, Celso MIng, OESP

Atualização: 

A cantoria da virada fala em muito dinheiro no bolso e, na ceia do réveillon, recomendam-se boas garfadas em um prato de lentilhas, com o mesmo objetivo de atrair melhoras na vida financeira. Mas 2025 promete menos, começa mais ranheta do que 2024.

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Lá fora, é Donald Trump na Casa Branca despejando dardos para os quatro cantos da Terra. É mais “America first”, mais protecionismo, mais subsídios à indústria local e mais negacionismo a recobrir a crise ambiental.

Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, avisou que vai acionar menos seu fole dos juros e isso significa menos crescimento econômico global, provável queda nos preços das commodities e valorização do dólar em relação às outras moedas.

China, segunda maior caldeira econômica do mundo, continua a enfrentar problemas na área imobiliária, os quais vêm desacelerando seu dinamismo. E a União Europeia, submetida a fortes solavancos energéticos, enfrenta travas crescentes na sua atividade econômica, a começar pelas suas duas maiores potências: Alemanha e França.

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Para você

Enfim, é o que sumariamente o Banco Central do Brasil quis resumir no comunicado divulgado dia 11, logo após a última reunião do Copom: “O ambiente externo permanece desafiador”.

Aqui no Brasil, não dá para ignorar os avanços da reforma tributária e o aumento da consciência de que não há política social que permaneça em pé sem que se garanta antes solidez na área fiscal.

2025 promete menos e começa mais ranheta do que 2024.

Pois a economia em 2025 deverá passar por novas contorções. O PIB já não avançará os 3,5% de 2024. Provavelmente, o crescimento da atividade econômica não passará dos 2%. Os juros básicos já contratados a 14,25% ao ano a partir de março, um dólar caro, inflação acima da meta, investimento chinfrim, a perspectiva de mais desorganização das contas públicas (rombo fiscal) e alastramento da dívida tendem a aumentar os riscos da economia.

Apesar de tudo, o desemprego deverá continuar em queda ou baixo para os padrões brasileiros. E, em que pesará o maior avanço das importações e da provável contenção do investimento estrangeiro, as contas externas (que registram entrada e saída de moeda estrangeira) deverão continuar robustas. Não é por aí que se pode esperar por uma crise.

Economia e política não dançam isoladas. O resultado das eleições de 2026 dependerá em grande parte do que a economia entregará a partir de 2025.

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Falta saber qual será a escolha do presidente Lula, ele que não faz muita questão de conter as despesas públicas: se tratará de colocar em prática uma política de austeridade destinada a melhorar o ambiente de negócios e de consumo – como aconteceu nos tempos do seu ministro Antonio Palocci; ou se persistirá nessa sua vibe de despejar bondades e recursos públicos, para conquistar a boa vontade do eleitor. 

São Paulo renova isenções de ICMS para setor elétrico, transporte e combustíveis, FSP

 O governo de São Paulo renovou descontos de ICMS para sete setores até 2026. O decreto foi assinado pelo governador em exercício, Felício Ramuth.

Conseguiram manter as isenções os setores de energia elétrica, serviços de transporte para exportações e micro e minigeradores de energia elétrica. Também foram beneficiados o transporte no país de algodão e borracha natural.

O governador Tarcísio de Freitas durante o leilão da Nova Raposo, realizado na B3
O governador Tarcísio de Freitas durante o leilão da Nova Raposo, realizado na B3 - Zanone Fraissat/Folhapress

Outro decreto ampliou por dois anos o imposto em operações envolvendo gás natural e GLP (gás liquefeito de petróleo), que seguirão com a base de cálculo limitada a 15%.

Um terceiro decreto permitiu que produtos industrializados e utilizados em hospitais e clínicas para repor perdas hídricas, eletrólicas ou energéticas, conhecidos como solução parenteral, seguirão contanto com a base de cálculo do ICMS limitada a 7%.

Como mostrou a Folha, 263 benefícios fiscais venceram ao final de dezembro e diversos setores tentavam manter suas isenções. Alguns deles já foram renovados, porém pelo menos um terço foi cortado ou reduzido, gerando uma economia fiscal de R$ 10,3 bilhões —o valor total somava R$ 70,7 bilhões.

Na semana passada, bares e restaurantes tiveram seus benefícios renovados. Outros como transporte aéreo, atacadistas de calçados e eletrônicos perderam o convênio.

Com Diego Felix


LUIZ GUILHERME PIVA Economia, política, filosofia, o Pix e o pão, FSP

 Luiz Guilherme Piva

Economista (UFJF), mestre (UFMG) e doutor (USP) em ciência política e autor de “Ladrilhadores e Semeadores” (Editora 34) e “A Miséria da Economia e da Política” (Manole)

economia tem uma lei, a da oferta e da procura, pela qual, se alguém tem um produto que poucas pessoas querem comprar pelo preço pedido, ou o tem numa quantidade maior do que o número de interessados àquele preço, ele deve reduzir esse preço. Sinal de que estaria cobrando acima do razoável para se remunerar, mesmo que seja algo essencial, como roupa, pão, água e moradia. Isso do lado da oferta.

Do lado da procura, se alguém tem um produto que muitas pessoas querem comprar pelo preço pedido, ou o tem numa quantidade menor do que o número de interessados àquele preço, ou, ainda, se um pequeno número de pessoas está ávido por comprá-lo, ele pode subir seu preço, ainda que acima do razoável para se remunerar, e mesmo que seja algo essencial, como roupa, pão, água e moradia.

A maioria pobre da população, na sua precariedade teórica e alimentar, quando se põe a debater epistemologia, conceitua tal imperativo como ganância.

Segundo outro axioma econômico, se todos os indivíduos exercerem de forma absolutamente livre suas atividades (o ofício de padeiro é um dos citados), buscando satisfazer unicamente seu próprio interesse, sem pensar em mais ninguém, eles produzirão o bem comum, gerando bem-estar material para a sociedade e a riqueza das nações.

O filósofo grego Platão - Divulgação

A população pobre reflete se tal postulado é uma doxa ou conhecimento científico —e acaba se dividindo, a partir da própria palavra grega doxa, em ortodoxos e heterodoxos.

Os primeiros creem que, desde que um modelo matemático, isolado em laboratório, comprove a premissa teórica, não importa que ela não se verifique na realidade, e a miséria do entorno vira uma sombra na caverna.

Os segundos, sentindo o mal-estar que eles, pobres, como maior parte da sociedade, sofrem, acham que os ortodoxos estão adotando apenas a parte do axioma pela qual eles mesmos devem exercer de forma totalmente livre suas atividades para satisfazer unicamente seus interesses.

Um dos maltrapilhos lembra que esse axioma contraria uma teoria anterior, que diz que os indivíduos, se deixados livres para fazer o que quiserem, acabarão, dada a escassez de recursos, num estado de guerra de todos contra todos, e que por isso é preciso haver uma autoridade que regule as atividades humanas, garanta a paz e o desenvolvimento.

Nesse ponto há um aprofundamento da discussão fenomenológica e alguns dos miseráveis propugnam por um acordo geral para criar tal autoridade (inexistente para eles), de modo a coibir a ganância e prover melhorias materiais; porém surgem correntes que contestam, dizendo que isso é repressão econômica, política e psicológica, ao que outras replicam afirmando, propedeuticamente, que sem repressão não há civilização.

Mas a essa hora, já acalorados, os pobres, todos com fome e sono, interrompem os debates e se dispersam, indo à busca de algo para comer e um lugar para dormir.

Alguns encontram um sopão e um abrigo. Outros não, e roncam os pulmões e o estômago nas calçadas. São poucos, de melhor sorte, os que conseguem uns trocados nos sinais, o que é cada vez mais difícil com o Pix, e se dirigem à primeira padaria.

Mas o preço do pão está acima da sua capacidade de pagamento. E, se eles, com seu dinheiro engruvinhado, insistirem muito, o preço subirá mais um pouco.

É a lei.