quarta-feira, 16 de março de 2016

Metade da população brasileira não tem coleta de esgoto, Fabio Leite OESP


 - Atualizado: 16 Março 2016 | 07h 40

Índice coloca País na 11ª posição em ranking latino-americano; Instituto Trata Brasil mostra que 35 milhões não têm água tratada

Coleta de esgoto melhorou só 3,6 pontos porcentuais nos últimos cinco anos
Coleta de esgoto melhorou só 3,6 pontos porcentuais nos últimos cinco anos
SÃO PAULO - Metade da população brasileira ainda não tem esgoto coletado em suas casas e cerca de 35 milhões de pessoas nem sequer têm acesso a água tratada no País. É o que revela levantamento feito pelo Instituto Trata Brasil com base nos dados de 2014 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgados no mês passado pelo Ministério das Cidades.
O índice (49,8%) coloca o Brasil em 11.º lugar no ranking latino-americano deste serviço, atrás de países como Peru, Bolívia e Venezuela. Os dados dessas nações são compilados pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), que divulga o índice de 62,6% para o Brasil porque inclui fossas.
Os números mostram que a coleta de esgoto melhorou só 3,6 pontos porcentuais nos últimos cinco anos e ainda está muito distante da meta estabelecida pelo Plano Nacional de Saneamento Básico, que é atingir 93% de coleta no País em 2033. 
“Caso se mantenha o ritmo atual, estimamos que só teremos serviços de saneamento universalizados a partir de 2050. Os patamares de atendimento do Brasil se mostram modestos mesmo na comparação com seus pares latino-americanos”, afirma Gesner Oliveira, ex-presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e autor do estudo.
Segundo o levantamento, metade dos R$ 12,2 bilhões investidos em saneamento no País ficou concentrada nas cem maiores cidades brasileiras. Mas, segundo o estudo, 64% das cidades analisadas investem menos de 30% do que arrecadam com a tarifa de água e esgoto cobrada dos consumidores. 
“O avanço, além de lento, é desproporcional. Só as 20 melhores no ranking do saneamento investem, por habitante, duas vezes e meia a mais do que as 20 piores”, afirma o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.
Cidades. O ranking nacional feito pelo Trata Brasil com as cem maiores cidades mostra que apenas dois municípios, Belo Horizonte (MG) e Franca (SP), têm 100% de esgoto coletado. Piracicaba (SP), Contagem (MG) e Curitiba (PR) têm mais de 99%. Já as cidades de Ananindeua e Santarém, no Pará, são as duas piores do ranking, com nenhum esgoto coletado.
“Estamos separando o Brasil em ‘ilhas’ de Estados e cidades que caminham para a universalização da água e esgotos, enquanto que uma grande parte do Brasil simplesmente não avança. Continuamos à mercê das doenças”, afirma Carlos.
Já quando a análise é sobre o esgoto tratado, o índice nacional cai para 40,8%, apesar da pequena melhora de 2,9 pontos porcentuais desde 2010. Apenas três cidades paulistas (Limeira, Piracicaba e São José do Rio Preto) tratam 100% do esgoto coletado. Por outro lado, cinco municípios, entre os quais Governador Valadares (MG), Porto Velho (RO) e São João de Meriti (RJ), não tratam nada. 
Os dados mostram ainda que o índice nacional de perdas de água na distribuição, que mede o desperdício na rede pública, foi de 36,7% em 2014, ano marcado por grave crise de estiagem no Sudeste e Nordeste do Brasil. Os melhores índices foram registrados nas cidades paulistas de Limeira, Ribeirão Preto e Santos, todos com menos de 19% de perdas. Na capital, foi de 34,2%.

MP apura responsabilidade da Sabesp por danos de enchentes em Franco da Rocha, RBA




Promotor investiga os danos morais, materiais e ambientais da liberação da água da represa Paiva Castro e se a empresa possui planos de contingência, de comunicação e de evacuação da cidade
por Rodrigo Gomes, da RBA publicado 15/03/2016 12:28, última modificação 15/03/2016 12:34
JARDIEL CARVALHO/FOLHAPRESS
franco da rocha
Casas, lojas e até a prefeitura de Franco da Rocha foram devastadas pela enchente da última quinta-feira
São Paulo – O Ministério Público Estadual paulista abriu ontem (14) um inquérito para apurar a responsabilidade da Sabesp, empresa administrada pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB) nas enchentes ocorridas no município de Franco da Rocha, Região Metropolitana de São Paulo, em decorrência da abertura das comportas da represa Paiva Castro, do Sistema Cantareira. O promotor Ricardo Manuel Castro, autor do requerimento, quer investigar se a empresa possui planos de contingência, de comunicação e de evacuação da cidade, assim como avaliar os danos morais, materiais e ambientais da liberação da água na região.
O promotor também oficiou o Departamento de Águas e Enegia Elétrica (Daee), a Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) – todos do governo Alckmin – e a prefeitura de Franco da Rocha para apresentar relatórios sobre os impactos da abertura das comportas nos últimos dez anos. Ao menos outros dois eventos, em 1987 e 2011, foram devastadores para a cidade.
"Considerando não haver notícia sequer da existência de um plano de evacuação das áreas potencialmente inundáveis em decorrência da abertura das comportas da represa Paiva castro, ou, se existente, resta evidenciada a deficiência desse plano", argumentou. Castro ainda pretende investigar se a morte de uma pessoa por afogamento se deu em decorrência da liberação de vazão da represa.
A Sabesp informou, em nota, que a abertura das comportas foi necessária para evitar o rompimento da represa. Segundo a companhia, entre quinta à tarde e a madrugada de sexta, o reservatório subiu de 35% do volume total para 99,4%. Um aumento equivalente a 71% da capacidade total do reservatório. A empresa também informa que avisou a Defesa Civil de Franco da Rocha às 2h30. As comportas foram abertas às 6h.
O município confirmou o aviso, mas ressaltou que a continuidade da enchente, que ainda mantém submerso o centro da cidade, se deve à abertura das comportas. "Fomos avisados, pela Sabesp, às 2h26 da sexta feira (11), de que o plano de contingência do reservatório seria iniciado às 6h. A Defesa Civil municipal tinha iniciado nosso plano de contingência às 22h. E por isso as consequências não foram piores", afirmou o diretor de Comunicação da prefeitura, Paulo de Tarso. No entanto, este comunicado é feito somente para as autoridades.
Ainda em 2011, o Ministério Público já havia realizado um diálogo com a Sabesp e o Daee, solicitando um mapeamento completo das regiões que poderiam sofrer enchentes decorrentes da abertura de comportas de reservatórios, inclusive Franco da Rocha, além de ações que mitigassem as cheias e melhorassem o alerta à população quando houvesse emergências. Nem a companhia, nem o MP informaram se estas medidas foram tomadas.
Pelo menos 200 famílias estão desabrigadas em Franco da Rocha. Em toda a Região Metropolitana de São Paulo, 26 pessoas morreram vítimas de deslizamentos de terra e enchentes devido às chuvas que ocorreram entre quinta e sexta-feira.

Eletrodo impresso em suporte flexível poderá ser aplicado sobre a pele, agência Fapesp


16 de março de 2016

José Tadeu Arantes Agência FAPESP – A fabricação de um arranjo de eletrodos composto por nanopartículas de ouro impressas por jato de tinta em plástico flexível foi tema do artigo “Inkjet-Printed Flexible Gold Electrode Arrays for Bioelectronic Interfaces”, que foi capa da revistaAdvanced Functional Materials.
O material – que, entre outras aplicações, pode ser utilizado como biossensor – foi desenvolvido na Universidade da Califórnia em Berkeley (UCB) e na Universidade de São Paulo (USP), por meio de colaboração internacional de pesquisadores que contou com a participação de dois brasileiros: Felippe José Pavinatto e Ana Claudia Arias.
Pavinatto, que é pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP), atuou no projeto no contexto de uma Bolsa de Pesquisa no Exterior apoiada pela FAPESP: “Fabricação de biossensores usando técnicas de impressão”. “Os eletrodos são úteis para a confecção de dispositivos de medição em tomografia por bioimpedância, eletrocardiografia, eletroencefalografia e eletromiografia”, disse à Agência FAPESP.
As grandes virtudes do dispositivo decorrem do fato de ele ser flexível e quimicamente inerte. A flexibilidade possibilita um ótimo contato com a pele e os tecidos. E a inatividade química impede que o eletrodo reaja com fluidos biológicos e células vivas. “Podemos considerar, inclusive, a possibilidade de imprimir os eletrodos em fitas adesivas, como aquelas utilizadas em curativos”, afirmou Pavinatto.
O processo de fabricação é muito semelhante à impressão convencional por jato de tinta. A principal diferença é que a tinta colocada no cartucho é constituída por nanopartículas de ouro. “A sinterização ocorre em temperatura relativamente baixa, da ordem de 200 graus Celsius. E as velocidades de sinterização das diferentes linhas do eletrodo dependem de suas larguras. A técnica possibilita um grande controle do processo e muita versatilidade para modificar o layout durante a execução, se necessário”, comentou o pesquisador.
O dispositivo registra diferenças de potencial muito pequenas, da ordem de poucos milivolts (10-3 V). E, além das aplicações já citadas, pode ser utilizado para medir qualquer processo biológico associado a variações de potencial, como frequência cardíaca, taxa de açúcar no sangue ou dano celular que possa resultar em futuras ulcerações da pele (por exemplo, em pacientes por longo tempo acamados), entre outros.
“Como as nanopartículas de ouro e o plástico utilizado como suporte são biocompatíveis, o eletrodo pode, em princípio, ser instalado não apenas sobre a pele, mas também internamente, por meio de implante. Essa possibilidade está sendo avaliada”, informou Pavinatto.
O emprego de eletrodos semelhantes em um biossensor para detecção de antioxidantes foi reportado pelo pesquisador e colaboradores no artigo “Printed and flexible biosensor for antioxidants using interdigitated ink-jetted electrodes and gravure-deposited active layer”. E seu uso para a detecção precoce de ulcerações da pele foi descrito em “Impedance sensing device enables early detection of pressure ulcers in vivo”. Uma nota sobre este último artigo já foi publicada na revista Pesquisa FAPESP.