quinta-feira, 17 de maio de 2012

Existem políticos sérios?


Na semana passada escrevi um artigo assinalando o trabalho do vereador Gilberto Natalini. Recebi algumas críticas no sentido de que o artigo estaria fazendo campanha eleitoral de um político em detrimento a outros.
Pelo fato de eu ter exercido três mandatos como deputado federal, creio que é importante registrar as razões que me levaram a escrever aquele artigo e também outros sobre a atuação de vereadores sérios e comprometidos.
Explico. No Brasil existe uma espécie ameaçada de extinção: os políticos de opinião. Aqueles que não possuem necessariamente uma base eleitoral geográfica ou defendem interesses coletivos ou corporativos.
Esse processo vem ocorrendo desde a democratização do país com a Constituição Federal de 1988, sendo fortemente influenciado pelos valores astronômicos das campanhas eleitorais.
Em outras palavras, a viabilidade eleitoral hoje depende da possibilidade do candidato arrecadar recursos ou mesmo se utilizar da máquina governamental. Esta, aliás, é uma das principais fontes das campanhas eleitorais.
Políticos disputam a tapas cargos importantes nas empresas estatais ou cargos de confiança, não pela remuneração que estes trazem aos seus ocupantes, mas sim pela possibilidade de "intermediação de negócios".
Seria de se esperar que a atuação do parlamentar fosse um dos critérios importantes a lhe assegurar a reeleição, mas, infelizmente, no Brasil de hoje, os eleitores estão cada vez mais desatentos ao desempenho dos seus representantes.
A mídia, por sua vez, também contribui para isso, notadamente no período eleitoral. É muito comum que os veículos de imprensa deixem de entrevistar os vereadores e deputados sob a alegação de que é necessário "manter a neutralidade".
Na verdade, tal comportamento pune dramaticamente os políticos de opinião, que dependem da divulgação de seus projetos de lei e demais iniciativas parlamentares.
Aliás, a mídia costumeiramente promove os "malfeitos" dos políticos, o que é importante para a democracia. Mas ao deixar de registrar os "benfeitos", deixa de contribuir para o aperfeiçoamento daquela.
Por que omitir a autoria de leis bem feitas e corajosas? A descrença nos políticos de maneira geral se reflete em uma postura de alienação por parte dos eleitores. Se todos os políticos são ladrões e desonestos, não faz diferença em quem eu voto.
Com isso, se estabelece o "círculo vicioso" que corrói com o tempo a própria democracia, uma vez que nem todos os gatos são pardos.
Nos anos em que estive filiado a partidos políticos e disposto a me candidatar, sempre senti as dificuldades dos períodos de campanha eleitoral.
Esta - no meu caso e dos demais políticos de opinião - consistia basicamente em debates, palestras, entrevistas e reuniões em casas de amigos.
Mas, à medida que as pessoas foram se desinteressando pela política, esse tipo de campanha se tornou cada vez mais difícil. Os cabos eleitorais pagos assumiram uma importância crucial e os voluntários se tornaram avis rara.
Reconhecer que existem políticos sérios e comprometidos com as melhores causas representa hoje uma grande contribuição à democracia.
Espero divulgar o trabalho e nome dos políticos de opinião que conheço e que serão candidatos nas próximas eleições, independentemente de suas legendas partidárias.
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Fabio Feldmann é consultor em sustentabilidade

Incineração reduziria em 98% volume de lixo



Pesquisadora da USP propõe sistema com 6 unidades incineradoras ao longo do Rodoanel para esvaziar aterroFERNANDO GRANATO
Reduzir em até 98% o volume do lixo destinado aos aterros de São Paulo e em 32% o número de veículos circulando para transportar os resíduos até a destinação final. Esse é o resultado de uma pesquisa desenvolvida pela arquiteta Cláudia Ruberg, que  propõe um sistema que alia incineração (queima controlada) do lixo a uma localização racional das unidades onde será feita a redução do seu volume.
“A tecnologia para isso já existe em outros países, como Portugal”, afirmou a pesquisadora, que desenvolveu a proposta em sua tese de doutorado pela FAU (Faculdade de Arquitetura e  Urbanismo), da USP (Universidade de São Paulo). “O objetivo é diminuir o impacto do transporte de lixo, minimizando as distâncias, e a necessidade de grandes áreas de aterros sanitários”, disse a pesquisadora.
O DIÁRIO mostrou na segunda-feira que metade das 12 mil toneladas de lixo domiciliar produzidas diariamente na cidade de São Paulo é levada para Caieiras, localizada a Noroeste da região metropolitana, porque não foi encontrada área disponível na capital.
Subprodutos/ Pela proposta da pesquisadora, das 12 mil  toneladas diárias de lixo produzidas em São Paulo restariam  pouco menos do que 30% em subprodutos da queima, sendo que  25% poderiam ser tratados e utilizados na construção civil. Apenas a cinza volante, que representa 2% da massa total do lixo incinerado, deve ser destinada aos aterros por concentrar poluentes.
O sistema proposto prevê a utilização de seis unidades incineradoras de última geração, com controle das emissões de poluentes, localizadas em torno do Rodoanel. As  incineradoras devem receber cerca de 
2 mil toneladas de lixo por dia cada uma. “A ideia é que a área no entorno receba uma proteção vegetal, que isolaria o equipamento e reduziria os ruídos”, disse Cláudia Ruberg.
A pesquisadora disse que, hoje é preciso atravessar a cidade para que o lixo chegue até aos aterros, localizados em São Mateus, na Zona Leste, e em Caieiras. Por isso, sua proposta tem como elemento viário principal o Rodoanel, que quando estiver todo pronto permitirá acesso à cidade sem trafegar por dentro dela.
A proposta resolveria outro problema no sistema de lixo paulistano: as estações de transferência, locais para onde o lixo é levado antes de se dirigir aos aterros. As carretas que saem das três estações existentes geram impacto nas vias e no seu entorno, como ruídos e mau cheiro. Cláudia Ruberg estima que sejam feitas 1.240 viagens por dia de carretas e caminhões compactadores de lixo. Com a proposta, as estações são eliminadas e o número de viagens necessárias, entre os locais de coleta e as unidades de incineração e entre as unidades e os aterros, cairia para 998.
A incineração foi adotada pela pesquisadora por ser viável e possibilitar o recebimento de grande volume de resíduos. “Em Paris e Lisboa há estações de incineração e estão investindo nisso. No Japão, se o lixo não pode ser reciclado, ele é incinerado. Lá, a questão do espaço é muito importante.”
Em São Paulo, a Prefeitura não descarta a utilização a longo prazo do sistema. “A queima daquilo que iria para os aterros, em usinas de recuperação de energia, parece-me interessante”, disse o presidente da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), Márcio Matheus. “Aguardamos o licenciamento desse novo sistema pela Cetesb, a agência ambiental do estado”, disse.

O mercado, o governo e a mídia na nova economia verde


O mercado não faz política. Quem faz política é o governo. O mercado aproveita as oportunidades que a política oferece. Os políticos, por sua vez, procuram estar sintonizados com o que a sociedade espera dela. Mercado, políticos e sociedade dependem de informações para fazerem escolhas e tomarem decisões, e é aí que a imprensa deve ser capaz de cumprir seu papel social de informar e esclarecer o público sobre fatos e tendências.
Quando se fala em política, é preciso lembrar sobre a importância não só do Poder Executivo, mas principalmente dos Parlamentos, na elaboração das leis, e do Judiciário, na fiscalização destas leis. É no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas Estaduais, nas Câmaras de Vereadores que as leis são feitas. Elas resultam quase sempre de um amplo debate democrático onde forças e interesses antagônicos se confrontam até que surja o consenso sobre o que é possível, como está ocorrendo agora com o Código Florestal, como aconteceu com a Lei Nacional de Resíduos Sólidos que demorou vinte anos para ser aprovada.
Não é verdade que o mercado prefira uma economia suja em vez da limpa. Para o mercado, o que importa é atender às demandas da sociedade, obedecendo ao que as leis determinam e aproveitando dos benefícios e incentivos que oferece.
Neste sentido, o mercado mantém um olho no público e em suas tendências, e outro nas leis que estabelecem políticas e incentivos.  Quanto mais bem-sucedido o empresário for na interpretação da vontade do consumidor e aproveitar dos benefícios que as leis e as políticas oferecem, maiores as chances de ser bem-sucedido nos negócios.
E hoje, o negócio é ser limpo e sustentável. A economia suja, de uso intensivo em recursos naturais, de grande pegada carbônica, poluidora e desperdiçadora, terá cada vez mais dificuldade para prosperar. Quem precisa aprovar novos empreendimentos que causarão grandes danos ao meio ambiente já se apercebeu dessa nova realidade. A sociedade continua demandando por progresso e desenvolvimento, mas não aceita mais que isso se dê com desrespeito ao meio ambiente ou de qualquer jeito.
A chamada economia “verde” já aponta como fonte de lucros e oportunidades. O governo federal, por exemplo, tem lançado edital para a compra de energia eólica ou solar ou de biomassa. Trata-se oportunidade de novos negócios e empregos onde antes a produção de energia suja dominava.
Antes, os investimentos em meio ambiente e sustentabilidade eram divulgados timidamente em mídias ambientais especializadas. Hoje, estão ganhando as páginas das mídias de massa, demonstrando para o grande público os avanços e resultados no campo da sustentabilidade. Não se trata de um marketing mentiroso apenas para enganar o público. Essa época já passou. Agora a sustentabilidade ganha cada vez mais o coração e as mentes do público em geral deixando os pequenos círculos de iniciados em meio ambiente.
Por outro lado, se é verdade que muito já vem sendo feito no rumo da sustentabilidade, também é verdade que as forças do atraso e do progresso a qualquer preço ainda dão as cartas e dominam. Veja a situação do lixo, atribuição dos municípios. Ao lado de experiências-modelos de aterros bem gerenciados que aproveitam inclusive o metano como energia, ainda convivemos com milhares de lixões e “enterros” sanitários, revelando um enorme nicho de oportunidade de negócios para o mercado que resolver investir na solução deste problema.
Os entulhos, sobras de construção civil, geralmente um enorme problema para os municípios, se em vez de cobrados para despejar nos aterros já lotados e com a vida útil comprometida, fossem isentos de pagamento se entregues numa usina de reciclagem de entulho, poderiam ainda ajudar na construção de casas populares virando agregado para a fabricação de tijolos ecológicos, feitos prensados, a frio.
Ao adotar políticas de compra sustentável dos ingredientes da merenda escolar ou servida nos hospitais, por exemplo, os governos poderiam incentivar a produção orgânica e local, oferecendo produtos sem agrotóxico e com menor pegada carbônica e ainda incentivar a produção e a fixação das famílias nas áreas rurais do município ou imediações, evitando as migrações para as favelas urbanas.
São exemplos de que é perfeitamente possível mudar por que são mudanças que já estão ocorrendo em diversas cidades brasileiras. Estamos vivendo numa época em que estas duas economias estão convivendo, lado a lado, e os bons e os maus exemplos disso estão por todos os cantos.
A divulgação dos bons exemplos ajuda a que a sociedade cobre de seus governantes políticas de mudanças para a sustentabilidade, assim como a divulgação dos excessos, dos maus exemplos, ajudam a sociedade a exigir limites e multas cada vez mais pesadas para aqueles que preferem a velha economia, intensiva no uso dos recursos naturais, que não se importa com a pegada carbônica.
A sociedade pode ajudar a acelerar este processo passando a acompanhar mais, por meio das redes sociais e da internet, o trabalho de seus representantes políticos e interagir com os mandatos deles, com sugestões e críticas. As ONGs, do chamado Terceiro Setor, podem ajudar, por exemplo, organizando debates públicos e fóruns permanentes de acompanhamento de políticas para manter acesa a chama da mudança para a sustentabilidade e da economia verde, convidando parlamentares, promotores públicos e representantes do governo, exibindo vídeos com os usos e abusos da economia suja sobre a sociedade e as possibilidades e potenciais que a nova economia verde oferece.
E quanto mais a sociedade tiver acesso a informações sobre a nova economia verde e sobre a sustentabilidade, melhores serão suas escolhas, tanto de consumo quanto da pressão por políticas públicas, e maior será a velocidade da mudança no rumo da sustentabilidade.
* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a Rebia (Rede Brasileira de Informação Ambiental) e edita, deste janeiro de 1996, a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.