quarta-feira, 2 de maio de 2012

Paulista desperdiça 30% daquilo que compra



publicado no site da rede Bom DIa
Números da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) apontam que 30% do que o paulista gasta em alimentação vai para o lixo. O hábito do consumidor brasileiro de aproveitar promoções e comprar mais do que precisa é o principal responsável pelo desperdício de comida.
 
E o barato sai caro. O  IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima que uma família de São Paulo com renda média gaste R$ 508 em alimentação  com comida. Levando em consideração os números da Embrapa, chega-se a conclusão de que o desperdício faz com que o paulista perca R$ 150 a cada 30 dias.
Todo ano, o Brasil joga fora cerca de 26 milhões de toneladas de alimento, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Essa quantidade seria suficiente  para sustentar 30 milhões de pessoas.
O meio ambiente também sofre. Tamara Gomes, doutora em Irrigação e Drenagem pela USP (Universidade de São Paulo), explica que a decomposição dos alimentos pode contaminaros rios e o solo. “Esse lixo produz um líquido poluente chamado chorume, rico em nitrogênio”.  Segundo o IBGE, 50,2% dos resíduos coletados no país vão para os lixões. Isso aumenta o risco do chorume contaminar a água, já que os terrenos não estão protegidos contra vazamentos.
O engenheiro químico e professor da USP, Rogers Ribeiro,   acredita que uma campanha sobre o reaproveitamento dos alimentos diminuiria a quantidade de resíduos na natureza. “O ideal seria não só reaproveitar, mas também reciclar os alimentos”, diz.
Banco de alimentos /Ações contra o desperdício de alimentos tornam-se cada vez mais comuns. O projeto “Mesa Brasil”, idealizado pelo SESC de São Paulo, foi pioneiro.
“A iniciativa visa os alimentos que as empresas não podem vender, ou por estar maduro demais  ou com a aparência fora do padrão”, explica Luciana Curvello Gonçalves, coordenadora do projeto.
O Mesa Brasil distribui o alimento coletado para instituições cadastradas. “Também educamos as pessoas envolvidas no projeto sobre a importância de não desperdiçar os alimentos e como armazená-los com segurança”, diz.
A coordenadora chama a atenção para a importância da conscientização sobre o assunto. A educação evita que o desperdício mude apenas de endereço. É importante que quem recebe a comida saiba que também é preciso economizar e ter a consciência de que perde-se dinheiro e nutrientes.
Dica importante: na hora de ir ao supermercado, faça uma listinha
 
Outra: os legumes que estão um pouco sujos de terra costumam durar mais

segunda-feira, 30 de abril de 2012

O fator cool


Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
Oooh, yeah.
Lá estava Barack, ou o "preezie of the United Steezie", na gíria do anfitrião Jimmy Fallon. Enquanto Fallon imitava um cantor de soul à la Isaac Hayes e a banda neo-soul The Roots caprichava no slow jam, a pedido do próprio "Barackness Monstro", a plateia de universitários da Carolina do Norte urrava de satisfação. O presidente, no segundo plano da câmera, como num programa de TV dos tempos da Motown, declamava sua iniciativa para segurar os juros dos empréstimos para estudantes.

Hummm, yeah.

O cool cat que canta Let's Stay Together. O presidente Black Ninja, no apelido cunhado pelo comediante Bill Maher, logo depois do assassinato de Osama Bin Laden. O armador que ginga na quadra de basquete da Casa Branca.

O vídeo do jamming com Jimmy Fallon, como se esperava, se tornou viral.

E o zilionário comitê político pró-Mitt Romney contra-atacou imediatamente com uma montagem impiedosa de imagens de Obama em pleno exercício do cool, concluindo com a pergunta: "Depois de quatro anos do presidente-celebridade, a sua vida melhorou?" Cesta!

Nuance não é arma de campanha. Como fabricar slogans com o fato de que Obama herdou um desastre e a vida dos americanos estaria pior ainda sem iniciativas que ele tomou?

Obama dificilmente vai tirar tantos jovens de casa para votar como fez em 2008, neste país onde o voto não é obrigatório e quando ele não representa mais o desafio do novo e a esperança imortalizada no pôster de Shepard Fairey. Um em cada dois jovens com curso universitário nos Estados Unidos está desempregado.

Apelar para os símbolos da cultura popular é um velho truque de campanha. Quem pode esquecer Bill Clinton tocando saxofone de óculos escuros no finado talk show de Arsenio Hall, em 1992?

O contraste entre o sensaborão mórmon Mitt Romney, de 65 anos, e o esguio presidente 15 anos mais novo, que canta blues com B.B. King na Casa Branca, é óbvio. Mas a economia americana continua mancando com um crescimento abaixo das expectativas de economistas.

É a velha pergunta: com qual dos dois o eleitor indeciso tomaria uma cerveja? Preciso responder?

A ironia é que Obama e Romney têm muito em comum: ambos são psicologicamente distantes, detestam o varejo da campanha, os beijos e abraços, as fotos com bebês, preferem pontificar sobre suas convicções do que defender suas ideias no corpo a corpo com adversários. Ambos confiam num círculo limitado de amigos e parentes.

Obama dá uma surra em Romney no quesito simpatia. Uma pesquisa recente mostra que a diferença é de 54% a 18%, a favor de Obama. E, quando a pergunta é "Quem tem mais compaixão pelo homem comum?", a vantagem é a mesma.

Mas os Estados Unidos de 2012 são um país com fadiga de crise e escassez de matéria-prima para slogans movidos a "esperança" ou "mudança". São um país muito mais dividido ideologicamente do que a América que Obama seduziu com um discurso eletrizante na Convenção Democrata de 2004. Sedução e oratória, duas armas de Obama, podem sair pela culatra com um outro grupo crucial de eleitores - os independentes, entre os quais se incluem americanos que dificilmente serão recebidos de volta pelo mercado de trabalho.

Quem não gosta de um presidente cool? A resposta pode ser irrelevante em novembro.

Desperdiçando nossas mentes


30/04/2012 - 15h24
Paul Krugman,  DO "NEW YORK TIMES"
O índice de desemprego entre os jovens com menos de 25 anos passa dos 50% na Espanha. Na Irlanda, quase um terço dos jovens estão desempregados. Aqui nos Estados Unidos, o desemprego entre os jovens é de "apenas" 16,5%, o que ainda é terrível -mas as coisas poderiam ser piores.
Muitos políticos estão fazendo o possível para garantir que as coisas piorem realmente. Temos ouvido falar muito da guerra contra as mulheres, algo que é real. Mas também existe uma guerra contra os jovens, coisa que é igualmente real, embora seja mais bem disfarçada. E está fazendo mal imenso não apenas aos jovens, mas ao futuro do país.
Comecemos por um conselho que Mitt Romney deu a estudantes universitários na semana passada, numa aparição pública. Depois de criticar o "divisionismo" do presidente Barack Obama, o candidato recomendou à platéia: "Aposte nisso, vá fundo, se arrisque, consiga uma educação, empreste dinheiro de seus pais se for preciso, abra um negócio".
A primeira coisa que se nota aqui é o toque típico de Romney --a nítida ausência de empatia por quem não nasceu em uma família de posses, quem não pode depender do Banco Papai e Mamãe para financiar suas ambições. Mas o restante da frase é igualmente ruim, à sua maneira.
Afinal, "consiga uma educação". E pague por ela de que maneira? As mensalidades das universidades e faculdades públicas estão subindo, graças em parte à redução aguda na assistência do governo. Romney não está propondo nada que resolva esse problema. Mas é fortemente a favor do plano orçamentário Ryan, que prevê cortes radicais na assistência federal aos estudantes, o que levaria cerca de 1 milhão de estudantes a perder suas bolsas Pell.
Então como, exatamente, os jovens de famílias com poucos recursos devem fazer para "conseguir uma educação"? Em março, Romney apresentou a resposta: encontre a faculdade "que tenha um preço um pouco mais baixo e onde você possa conseguir uma boa educação". Boa sorte com isso. Mas acho que seria divisivo apontar que as prescrições de Romney de nada adiantam para os americanos que não nasceram com os mesmos privilégios que ele.
Há uma questão maior em jogo, entretanto: mesmo que os estudantes "consigam uma educação", de alguma maneira, algo para o qual eles muitas vezes incorrem em dívidas pesadas, vão se formar em uma economia que não parece querê-los.
Você provavelmente já ouviu muito que profissionais com formação universitária estão se saindo melhor nesta recessão do que pessoas que têm apenas o ensino médio completo, e é verdade. Mas a história se mostra bem menos animadora se você foca sua atenção não sobre americanos de meia idade com formação universitária, mas sobre pessoas recém-formadas.
O desemprego entre recém-formados vem crescendo; o emprego em tempo parcial, também, fato que provavelmente reflete a dificuldade dos recém-formados em encontrar empregos em tempo integral. Fato que talvez seja ainda mais revelador, os ganhos vêm caindo mesmo entre os recém-formados que trabalham em tempo integral --sinal que muitos deles podem ter sido obrigados a aceitar empregos em que não fazem uso de sua formação.
Portanto, os diplomados estão se saindo mal devido à economia fraca. E as pesquisas nos revelam que esse preço não é temporário. Os estudantes que se diplomam numa economia fraca nunca chegam a recuperar o terreno perdido. Ao invés disso, seus ganhos ficam deprimidos pelo resto de suas vidas.
O que os jovens mais precisam, portanto, é de um mercado de trabalho melhor. As pessoas como Romney afirmam que têm a receita para a geração de empregos: reduzir os impostos sobre as empresas e os ricos, reduzir os gastos com serviços públicos e com os pobres. Mas hoje dispomos de muitas provas de que como essas políticas funcionam de fato numa economia deprimida --e está claro que, ao invés de gerar empregos, elas os destroem.
Quando olhamos a devastação econômica na Europa, devemos guardar em mente que alguns dos países que estão passando pela pior devastação vêm fazendo tudo o que os conservadores americanos dizem que devemos fazer aqui. Não faz muito tempo, os conservadores se derramavam em elogios à política econômica da Irlanda, especialmente os impostos baixos cobrados das empresas; a Fundação Heritage dava ao país uma nota mais alta que a de qualquer outra nação ocidental no quesito "liberdade econômica". Quando as coisas deram errado, a Irlanda voltou a ser fartamente elogiada, desta vez pelos cortes intransigentes em seus gastos, que supostamente iriam inspirar confiança e levar a uma recuperação rápida.
E agora, como mencionei antes, quase um terço dos jovens irlandeses não conseguem achar emprego.
O que devemos fazer para ajudar os jovens da América? Basicamente, o contrário do que querem Romney e seus amigos. Deveríamos estar ampliando a assistência aos estudantes, e não reduzindo-a. E deveríamos reverter as políticas de austeridade que estão freando a economia americana: os cortes inusitados nos gastos estaduais e locais, que vêm atingindo a educação muito duramente.
Sim, tal inversão de política custaria dinheiro. Mas recusar-se a gastar esse dinheiro é estupidez e miopia, mesmo falando em termos puramente fiscais. Vale lembrar que os jovens não são apenas o futuro da América: eles são também o futuro da base de contribuintes.
Desperdiçar uma mente é uma coisa terrível; desperdiçar os cérebros de uma geração inteira é ainda mais terrível. Vamos parar de fazê-lo!
Tradução de CLARA ALLAIN