Vamos traçar uma linha imaginária de hoje até o segundo turno da eleição presidencial de 2026.
A menos que algum evento extraordinário aconteça, estarão no segundo turno o presidente Lula como candidato do governo e o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, representando a oposição.
Esse cenário lembra o da eleição de 2018, quando Lula estava preso e indicou o hoje ministro Fernando Haddad para concorrer representando-o. Na próxima disputa, o ex-presidente Bolsonaro poderá estar preso, disputando o pleito indiretamente apoiando Tarcísio.
Mas Tarcísio será mais competitivo do que Haddad foi; talvez mais competitivo do que o próprio Bolsonaro seria em 2026, por conta dos escândalos que vieram à tona e que a Polícia Federal investiga. Tarcísio terá o apoio de bolsonaristas, mas, por ter uma postura moderada, mobilizará também conservadores que, por motivos variados, se distanciaram do ex-capitão.
O PT escolheu lidar com evangélicos como um problema no campo da comunicação. É uma atitude preguiçosa: enterrar a cabeça no chão torcendo para o problema desaparecer. O que, então, restará na mesa como fichas de jogo, para o presidente e para seu partido, caso essa estratégia falhe nas eleições municipais deste ano e evangélicos continuem rejeitando o governo?
Em 2001, Lula enfrentava uma situação parecida à que hoje vive com o campo evangélico. Na época era o segmento empresarial que estava receoso. Eles tinham medo do que um militante do movimento sindical faria caso se tornasse presidente do país. E eles foram positivamente surpreendidos pela escolha de José Alencar, empresário de sucesso, sem experiência prévia na política, para o posto de vice-presidente da candidatura do PT.
Lula não precisa ter a maioria dos votos de evangélicos, mas precisa defender aqueles que já conquistou em eleições passadas e manter moderados em dúvida, sabendo que há mais de uma alternativa na mesa para eles. Eleitores evangélicos precisam continuar acreditando, ao contrário do que o bolsonarismo prega, que é compatível ser de esquerda e ser evangélico.
Interlocutores evangélicos com quem conversei —conservadores nos costumes— concordaram que um candidato a vice evangélico pode funcionar como uma bala de prata para o governo. Demonstra a disposição de Lula de governar o país junto com esse grupo.
Para a estratégia funcionar, o presidente deve primeiro identificar lideranças conservadoras, mas democratas, amplamente respeitadas dentro de um campo muito diverso. Há nomes com esse perfil. O maior desafio do PT será convencer um deles a aceitar o convite.
spyer@uol.com.br
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