A ciência tem um problema de relações públicas. Algumas de suas maiores realizações, como a vacinação e o fornecimento de água tratada, produzem efeitos que só ficam visíveis quando recorremos a contrafactuais, isto é, a uma comparação com como o mundo ficaria na ausência dessas intervenções. Frequentemente, para vislumbrar essas realidades alternativas são necessários cálculos estatísticos sofisticados.
Assistimos nos últimos dias a uma rara situação em que uma tecnologia que depende de contrafactuais para mostrar sua utilidade ficou mais evidente. Falo do terremoto em Taiwan. Foi um sismo considerável, de magnitude estimada entre 7,2 e 7,4 na escala Richter, e bem raso, o que tende a aumentar seu poder destrutivo. Atingiu área densamente habitada e, ainda assim, produziu um número reduzido de perdas humanas: nove mortos e poucas dezenas de desaparecidos.
O baixo número de vítimas é atribuído ao emprego intensivo de engenharia antitremor. Vimos fotos de edifícios que foram arrancados de sua base, mas não ruíram. Não é preciso mais que doses mínimas de imaginação para perceber que um terremoto com as mesmas características numa região que não faz uso das melhores técnicas de construção teria provocado milhares de mortos.
Tivemos há pouco um outro momento em que contrafactuais ficaram evidentes. Foi na pandemia. As curvas de mortalidade iam caindo à medida que os países vacinavam proporções maiores de sua população, o que ocorreu em velocidades variadas, permitindo a comparação.
Em minha ingenuidade, achei que esse sucesso transparente faria com que a população recobrasse a confiança em imunizantes. Mas não é o que vemos. No Brasil, as coberturas vacinais continuam a ficar bem abaixo da meta —mesmo agora durante a emergência da dengue.
É uma falha tão catastrófica na capacidade coletiva de aprendizado que às vezes me pergunto como a humanidade chegou até aqui.
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