O filme ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, que conta a história de um homem que nasce com aparência envelhecida e fica mais novo com o passar dos anos, chamou a atenção ao levar às telas o ator Brad Pitt rejuvenescido, o que rendeu à película o prêmio de efeitos visuais no Oscar em 2009.
A empresa responsável pelos efeitos especiais do filme foi a Digital Domain, à época comandada por John Textor, 58.
No centro de uma polêmica ao fazer diversas acusações de manipulação de resultados no futebol brasileiro, o empresário norte-americano dono da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Botafogo iniciou a carreira como programador no mercado financeiro e fez sua fortuna –estimada em cerca de US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão)– investindo em tecnologia, cinema e inteligência artificial.
Apontado pela Forbes como o "guru da realidade virtual de Hollywood", Textor fez ao longo da carreira investimentos em empresas como a fuboTV, plataforma de streaming listada na Bolsa de Nova York que transmite partidas de futebol americano, beisebol e basquete, e a Pulse Evolution Corporation, desenvolvedora de hologramas hiper-realistas de celebridades que já morreram, responsável pela apresentação virtual de Michael Jackson na premiação Billboard Music Awards, em 2014, e de Tupac Shakur no festival Coachella, em 2012.
Textor diz que tem como missão criar humanos digitais pensantes com base em inteligência artificial que ajudem a melhorar a sociedade. Agora, ele quer se valer dessas ferramentas tecnológicas para combater a corrupção no esporte.
Desde meados do ano passado, após o time do Botafogo não conseguir manter a surpreendente campanha e ver o Palmeiras ultrapassá-lo na reta final do Campeonato Brasileiro, o empresário tem feito diversas acusações, segundo as quais sua equipe teria sido prejudicada devido a supostas manipulações de resultados e erros de arbitragem.
As reclamações começaram depois de jogo emblemático no qual o Botafogo perdeu de virada para o Palmeiras por 4 a 3 dentro de casa, quando Textor fez duras críticas à arbitragem por causa da expulsão do zagueiro Adryelson.
"Não tenho certeza nem se foi falta. Mas não é cartão vermelho, ele mudou o jogo. Isso é corrupção, isso é roubo. Por favor, me multa, Ednaldo [Rodrigues, presidente da CBF], mas você precisa renunciar amanhã de manhã. É isso que precisa acontecer. Esse campeonato se tornou uma piada", esbravejou Textor no gramado do Nilton Santos.
O empresário acabou processado pelo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por calúnia e suspenso por 30 dias pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça).
Revoltado, Textor contratou então um estudo da empresa francesa Good Game!, especializada em análise de jogos e arbitragens. O levantamento encomendado pelo empresário apontou que, àquela altura do campeonato, que estava então na 33ª rodada, devido a erros dos juízes, o Botafogo deveria ter 70 pontos, em vez de 60, enquanto o Palmeiras deveria ter 49, e não 59.
O empresário enviou ofício ao STJD para que os supostos erros fossem apurados, mas o pedido acabou arquivado pelo presidente do tribunal, José Perdiz, que apontou subjetividade e falta de consistência nas acusações.
Após sacramentar a conquista do Brasileiro, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, classificou Textor como "desequilibrado" pelas acusações de benefício ao alviverde. "Chega até a ser ridículo. Ele desprestigia, desvaloriza esse produto tão importante que é o futebol. Ele deveria ter mais serenidade. É uma parte de desequilíbrio do senhor John Textor", declarou a dirigente.
Com o fim do torneio nacional e o início dos estaduais, a fúria do norte-americano parecia ter se dissipado, até que, no início de março, ele voltou à tona. Sem apresentar provas, disse ter a gravação de um árbitro de futebol reclamando por não ter recebido a propina por manipulações cometidas.
Alguns dias depois, afirmou que a gravação foi enviada por um funcionário ligado à CBF, na qual o árbitro de uma "divisão menor" e "sotaque carioca" lamentava por ter perdido dinheiro ao não conseguir direcionar a partida conforme o desejado. Procurada, a CBF não retornou até a publicação da matéria.
Nesta segunda-feira (1º), a saga do norte-americano em busca de uma suposta maior transparência no esporte ganhou um novo capítulo. O dirigente aumentou o tom e afirmou, mais uma vez sem apresentar provas, que cinco jogadores do São Paulo atuaram de modo a manipular a goleada de 5 a 0 para o Palmeiras pela 29ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2023.
"O jogo entre Palmeiras e São Paulo em outubro de 2023 foi, de acordo com especialistas de inteligência artificial, manipulado por, pelo menos, cinco jogadores do São Paulo", disse o empresário em nota. "Sete jogadores mostraram desvios anormais em situações cruciais de gols, mas apenas cinco ultrapassaram limites que deixam clara e convincente a manipulação."
Textor disse, ainda, que o mesmo fenômeno teria ocorrido em confronto entre Palmeiras e Fortaleza pela 35ª rodada do Brasileiro em 2022, que terminou com a vitória por 4 a 0 da formação alviverde. Segundo ele, quatro jogadores do Fortaleza teriam atuado para manipular a partida.
Os clubes alvos de Textor rechaçaram as acusações e criticaram o proprietário da SAF do Botafogo.
"As afirmações, proferidas sem a apresentação de quaisquer provas, maculam a reputação de nossa instituição centenária e geram graves danos de imagem do clube. O Fortaleza tomará todas as medidas judiciais cabíveis", escreveu o clube.
Na mesma linha, o São Paulo repudiou "veementemente as graves e infundadas acusações" e acionou seu departamento jurídico, que estudará e tomará as medidas cabíveis na esfera legal.
Já o Palmeiras ingressou com uma medida contra Textor no STJD. No pedido, encaminhado à análise do presidente do tribunal, o Palmeiras solicita que o empresário se abstenha de fazer qualquer menção ao Palmeiras e solicita multa de R$ 100 mil, além de suspensão por 90 dias.
Procurado pela Folha, o Botafogo informou via assessoria de imprensa que o posicionamento de Textor vai se limitar às publicações já feitas pelo próprio dirigente.
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