Diz a velha frase que o pior de uma ditadura não é o ditador, mas o guarda da esquina. Não caia nessa. O ditador pode tudo, inclusive nomear os guardas da esquina —os delegados, investigadores e comandantes das forças policiais que o ajudarão a implantar a ditadura. E é impressionante como, em todos os escândalos criminais, financeiros ou institucionais do governo Bolsonaro, sempre houve alguém da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária ou da Polícia Militar envolvido.
Enquanto não se fizer a completa desratização, continuará a haver. Mesmo com Bolsonaro fora do Planalto, os ataques em Brasília denunciam a ação ou omissão de policiais, escoltando os terroristas pela rua ou lhes dando passe livre para invadir e depredar. Não por acaso, um dos acusados pela conspiração, iniciada já na diplomação de Lula, é um policial, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e que acabara de ser nomeado para o cargo-chave de secretário de Segurança do DF.
Escalar delegados para este ou aquele posto é uma função que um presidente normal confia a seus subordinados da Justiça. Mas, dia após dia, por quatro anos, Bolsonaro desceu da cadeira para cuidar disso em pessoa. Era como se a presença de tal policial, não outro, mesmo nos cafundós, fosse fundamental para a condução do país —e, no caso, era. Bolsonaro trocou dezenas de delegados em cargos de chefia, bastando que um deles relaxasse na proteção de um seu familiar ou acólito ou insinuasse algo que significasse menos do que submissão total (e nada deixava de chegar aos seus ouvidos).
Enquanto nos ocupávamos do seu ostensivo processo de corrupção do Exército, Bolsonaro, em surdina, estava implantando um Estado policial. Teve tempo para infiltrar as polícias de todos os estados com elementos de sua confiança ou identificados com ele.
E não necessariamente para atacar, mas para garantir os levantes civis que não se limitarão aos de Brasília.
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