Mais de um antigo faroeste de Hollywood já mostrou a sequência em que alguém parado numa esquina é baleado no peito por um bandido, mas se salva porque leva no bolso interno do paletó uma Bíblia, que lhe apara a bala. Woody Allen, um dia, propôs outra ideia: o sujeito está parado na esquina e alguém lhe atira no peito uma Bíblia. Mas ele se salva porque traz no bolso uma bala, que lhe apara a Bíblia.
Milton Ribeiro, pastor, teólogo, professor, ex-reitor universitário e ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro, tentou descarregar sua pistola Glock calibre 9 mm, que trazia dentro de uma pasta de couro, ao fazer o check-in no balcão do aeroporto de Brasília para embarcar para São Paulo. Como a pasta estava muito cheia —certamente lotada de Bíblias—, Ribeiro tinha pouco espaço para manobra e a arma disparou, atravessando o coldre e a pasta e atingindo o chão, com os estilhaços ferindo de leve duas pessoas que não tinham Bíblias para protegê-las.
Por que um homem de atividades tão pias precisaria andar armado? Será por ter afirmado que a homossexualidade é fruto de lares desajustados, pregado a não inclusão de deficientes com não deficientes em sala de aula e defendido em público o espancamento de crianças como forma de educá-las? Ou por ter se revelado um benigno protetor de lobistas desamparados, intermediando a extorsão de prefeitos por seus colegas pastores Arilton e Gilmar, para atender a um pedido de Bolsonaro? Afinal, hoje nada disso é crime. E, se for, será agraciado com o indulto presidencial.
Ribeiro é registrado como colecionador, atirador e caçador, o que o autoriza a andar por aí armado. Deve ter em casa um estoque de munição ao lado de sua coleção de Bíblias, muitas das quais trazem sua foto na página 3, disputando com Moisés a autoria do Pentateuco.
E mais respeito com ele, que integra também a Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
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