terça-feira, 12 de abril de 2022

Jovem assume 13 fazendas e vira referência na citricultura, FSP

 Marcelo Toledo

MONTE AZUL PAULISTA (SP)

Num intervalo de meses, a jovem Sarita Junqueira Rodas, formada em direito e que aos seus 25 anos estudava com o objetivo de ingressar no Ministério Público, perdeu uma de suas irmãs e o pai, o agropecuarista Fábio Rodas.

Para completar o cenário de escuridão, como define, logo em seguida o mundo passou a enfrentar a crise financeira de 2008.

Assim, do nada, se viu obrigada a se reunir com sua mãe e a outra irmã para discutir o que fazer com as 13 fazendas (12 em São Paulo e 1 em Mato Grosso do Sul) do grupo, já que quem estava sendo preparada para assumir os negócios de citricultura era justamente a irmã que morreu.

A agropecuarista Sarita Junqueira Rodas em fazenda em Monte Azul Paulista, no interior de SP
A agropecuarista Sarita Junqueira Rodas em fazenda em Monte Azul Paulista, no interior de SP - Joel Silva/Folhapress

"A Sarita citricultora nasceu a fórceps sem nem ter sido gerada. Nasci prematura no meio do caos. Tinha hora que eu olhava para a minha mãe e falava ‘o que está acontecendo?’. Não entendia onde a gente estava. Se fosse um ano próspero, talvez a gente não tivesse conseguido. Se parece haver uma luzinha, a gente caminha mais devagar e não fica com medo da escuridão. Mas estava tudo tão escuro", disse.

Acompanhada por um tio, um primo e amigos do pai —todos vistos por ela como referência—, fez uma imersão no mundo do agro para desvendar os meandros de atividades rurais tão díspares como pomares de laranja, canaviais, lavouras de soja e criação de gado.

Deu certo. Hoje aos 39 anos, a agropecuarista Sarita, primeira mulher eleita para o conselho deliberativo do Fundecitrus, em 2016, comanda o Grupo Junqueira Rodas, que tem sede em Monte Azul Paulista (a 403 km de São Paulo) e emprega 500 funcionários.

O faturamento atual, cujo valor ela não revela, é quase quatro vezes maior e o total de propriedades se manteve em 13, mas com crescimento de 25% na área, que hoje soma mais de 13 mil hectares (o equivalente a 18.207 campos de futebol) e que, em apenas quatro anos, viu a produção de cana crescer 40%.

O principal negócio, porém, é a laranja. São mais de 2 milhões de árvores em seis cidades paulistas, que resultam em mais de três milhões de caixas por safra.

Divorciada e mãe de três filhos, é um nome respeitado na citricultura e define a empresa, fundada em 1968, como familiar, "com a maioria dos sócios mulheres e gestão feminina".

Três sobrinhos, sendo uma mulher, também compõem desde sempre o quadro societário ao lado dela, da irmã e da mãe.

Defende o trabalho feito pela ministra Tereza Cristina (Agricultura), sobre quem diz estar "constantemente buscando soluções", mas refuta o rótulo de "mulher no agro" para definir sua atuação e de outras mulheres no campo.

"Não gosto de mulher no agro, no hospital, no funeral, gosto de ser uma pessoa eficiente. Numa empresa em que 66% dos sócios são mulheres e a gestão é feminina, conseguimos ter eficiência na produção de vários produtos. Não gosto do modismo e da lamentação de conquistar um espaço porque sou mulher [...] Sinto muito em quem acredita buscar espaço por sexo, eu não acredito. Se me der um fuzil para lutar pelo Brasil eu vou, não posso ter nenhuma diferença, eu quero igualdade", disse.

Única dos seis sócios efetivamente na gestão do negócio, Sarita vê os outros membros participando do conselho de administração e dos comitês financeiro e de novos negócios do grupo. Dado o histórico, a família já pensa na sucessão.

"Por termos vivido uma sucessão muito abrupta, pensar nisso é uma realidade nossa. Se eu pudesse escolher, eu escolheria que meu pai estivesse aqui te dando essa entrevista, mas infelizmente isso não está nas minhas mãos, eu não pude fazer essa escolha."


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