Um aplicativo vai ajudar a dar novo fim a roupas usadas. O lixo têxtil, como são chamadas as pilhas de tecido que se acumulam em aterros sanitários, poderá ser reciclado em uma união inédita do setor de moda com iniciativas de reciclagem.
Lançada nesta semana, a Plataforma Circular Cotton Move reúne pontos de coleta em todas as regiões do país. Por enquanto, são 200 dentro das varejistas C&A, Reserva e Youcom. O consumidor pode levar roupas que contenham fibras de algodão, como calças jeans, sarjas e malhas.
As peças vão para centros de triagem e depois para indústrias têxteis. O resultado são roupas, acessórios, tecidos e fios reciclados que voltam às prateleiras das varejistas.
As roupas consideradas não recicláveis terão destinação correta, garantindo processo "aterro zero".
"Nossa proposta é começar pela fibra natural do algodão, que é genuinamente brasileira, mas há estudos para outros tecidos", diz José Guilherme Teixeira, fundador da Cotton Move e idealizador do projeto.
O executivo, que atua desde 1998 na indústria da moda, diz que a iniciativa é pioneira ao conectar diversos elos da cadeia produtiva em vez de promover ações isoladas.
"Conseguimos colocar na mesma mesa empresas concorrentes em busca de um resultado em comum, uma mesma causa, que é reduzir o impacto ambiental."
A Fundação Ellen Macarthur estima que um caminhão de lixo têxtil é depositado em aterro ou incinerado a cada segundo no planeta. Menos de 1% do material usado para produzir roupas é reciclado.
No final de 2021, vieram à tona imagens de um lixão clandestino de roupas no deserto do Atacama, no Chile. A região é um dos destinos de itens de segunda mão ou de temporadas anteriores de cadeias de fast fashion de Europa, Ásia e Estados Unidos.
A produção de algodão consome recursos naturais e exige a aplicação de fertilizantes e pesticidas em larga escala. Segundo a organização WWF, uma camiseta pode consumir 2.700 litros de água em sua cadeia de valor; uma calça jeans chega a 10.000 litros.
Além de apoiar a Plataforma Circular, as varejistas disponibilizam a rede de pontos de coleta e organizam a logística para que roupas de todo o país cheguem aos centros de triagem. No final do processo de transformação das peças, também se tornam vitrine para os novos produtos, fechando o ciclo de economia circular.
Ao consumidor, cabe a iniciativa de levar suas roupas aos locais de descarte, apontados por geolocalização no aplicativo.
"Estamos no cheque especial dos recursos naturais, consumimos mais do que temos", diz José Guilherme. "O consumidor também precisa ser responsável pelo dano que gerou no planeta, é um exercício de cidadania."
"A lógica é educar o consumidor, que é quem vai dar escala ao projeto", diz Jonas Lessa, fundador da Retalhar, negócio de impacto que faz logística reversa de resíduos têxteis .
Para engajar a participação, a Plataforma Circular mostra um índice de captação de resíduos, que indica, por exemplo, que são necessários 180 dias para o descarte se tornar um novo produto. E que é possível reutilizar até 95% do material por peça.
Para Lessa, essa é uma tendência que veio para ficar. "A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que chegou aos setores de agroquímicos e medicamentos, chegará ao ramo têxtil e esperar sem fazer nada é um erro."
A aposta é que novos varejistas entrem na plataforma em breve, mas há condições. "Precisa ter boas práticas comprovadas e estar engajado com sustentabilidade", diz Jonas Lessa.
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